Triangulação é um dos temas menos abordados quando se fala de metodologia da pesquisa, mas curiosamente é um dos mais importantes na hora que você vai fazer a prática de pesquisa. O que significa a triangulação? Significa que se você quiser construir uma boa pesquisa, você nunca pode fazer uma coisa só. Você nunca pode confiar em uma única fonte. Você nunca pode trabalhar e conhecer apenas uma teoria. Você não pode usar apenas um único método. Porque se você fizer isso, é bem provável que você só veja uma parte da realidade. Como a realidade humana não é completamente conhecida, na verdade ela está se transformando na medida que a humanidade se desenvolve, a gente nunca consegue capturar a realidade como um todo. A gente sempre vai capturar partes dessa realidade. Quantas partes, no mínimo, você precisa ter para ter um todo confiável? Três. Essa basicamente é o fundamento da teoria da triangulação. Se você tiver só uma perspectiva sobre a realidade, é uma perspectiva unilateral. Aí você tiver uma segunda perspectiva, é uma perspectiva bilateral que muitas vezes é irreconciliável. Tipo, a perspectiva diz que a realidade é 1. E a perspectiva B, ela diz que a realidade é -1, exatamente o oposto. Como é que você consiga misturar os dois sem pensar numa terceira ideia? Vai ser zero, anulou, uma anula outra. Então por isso que o mínimo é 3. Porque no 3 vai ter alguém dizendo que a realidade não é 1 nem -1, a realidade é outra. A realidade é complexa. E aí você vai "nossa, mas não é número então a realidade?" A realidade tem que ser medida através de palavras e conceitos. Você já repensa completamente o que você estava pensando no começo do seu projeto. Então a triangulação é um processo dialético de você estar constantemente revendo as suas premissas básicas, os seus métodos, os meios de interferir no mundo, o que você encontra, os dados que você encontra, você está correlacionando e confrontando. Isso é bem importante. Triangulação não significa que você apenas complementa e adiciona novas informações. A triangulação envolve necessariamente o conflito, o choque entre essas coisas que você está encontrando no mundo. Existem vários tipos de triangulação. A triangulação mais comum é a triangulação teórica, que é você, ao invés de usar uma única teoria para você descrever a realidade, você usar duas ou mais teorias. E daí você mistura. Então, por exemplo, você vai fazer um TCC, você vai querer talvez combinar semiótica junto com teoria e história do design. É duas teorias diferentes combinadas. Agora, existe também a triangulação metodológica, que é você combinar diferentes métodos de design para você pesquisar aquela realidade. É o que vocês já estavam fazendo nas últimas aulas. Agora a gente vai fazer de maneira um pouco mais consciente e eu vou passar para vocês critérios para essa triangulação metodológica. Outra triangulação que é a que a gente vai fazer semana que vem é a triangulação de fontes de informação. Fontes, existem as mais diversas. Agora, é importante vocês perceberem a diferença entre fonte primária e fonte secundária. Fonte primária é aquela que você diretamente vai capturar informação, o dado. É quando você executa um desses métodos de pesquisa de diferenças que vocês estão estudando. Vocês vão produzir o trabalho de vocês principalmente com fontes primárias. Vocês vão realmente, se tiver que entrevistar usuários, vocês vão entrevistar. Esse é o trabalho dessa disciplina. Agora, vocês também vão se referenciar, fazer referências, citar fontes secundárias. Que são outras pesquisas que já, que fizeram pesquisas com usuários, usuários e chegaram a tais conclusões. Esse não é o foco. Eu não quero que essa disciplina seja apenas uma disciplina para vocês entenderem a fazer trabalhos acadêmicos citando fontes bibliográficas. Isso é importante, mas eu imagino que vocês já tiveram experiência de fazer isso no ensino médio. Vocês vão ter, necessariamente, experiências diversas com trabalhos que vocês vão ter que entregar em outras disciplinas para trabalhar com fontes bibliográficas. Eu quero que vocês trabalhem também com fontes primárias, ou seja, que vocês realmente façam pesquisa no campo com os usuários. Pode não ser usuário também, pode ter outro tipo de foco dependendo da sua pesquisa. A gente vai conversar sobre isso mais nas próximas aulas. O ponto é, hoje nós vamos fazer um exercício de reflexão sobre triangulação metodológica. Na próxima aula vamos fazer exercício de triangulação de fontes, ou triangulação bibliográfica. Depois que vocês fizerem o projeto de pesquisa de vocês entregarem, a gente vai começar a fazer exercício de triangulação de análise, triangulação de teórica, para a gente exercitar maneiras diferentes e analisar os dados que vocês já coletaram. Ok, gente? Beleza? Então, deixa eu só apresentar agora os critérios que vocês vão receber para fazer a análise de triangulação metodológica. Esses critérios já estão publicados lá no Moodle, eu não vou explicar eles em detalhes, eu vou explicar só a mecânica do exercício. Então vocês vão pegar lá o UX Cards, que vocês já trabalharam na semana passada. Vocês já conhecem os métodos, já consideraram várias vezes usar ou não usar, vocês pensaram muito na sequência, né? Qual que vem primeiro, qual que faz mais sentido usar. O que talvez vocês não tenham pensado é que precisa ter uma coerência teórica entre os métodos, ou uma coerência filosófica também, que está acima da questão teórica. Isso tem a ver com atender também o briefing do seu cliente. O cliente tem uma filosofia, tem valores, eu gostaria que vocês pensassem a relação entre esses valores e filosofia com os critérios que eu vou passar aqui para vocês. Então eu vou passar vários critérios, vocês vão colocar esses critérios nos eixos cartesianos desse quadro branco. Aqui tem um critério 1 e aqui tem um critério 2. Os critérios vão especificar uma linha que vai do mais até o menos, ou do menos até o mais, seja no eixo vertical, seja no eixo horizontal. Se vocês quiserem desenhar esse eixo, podem desenhar no quadro branco. Se por acaso começar a ficar fazendo sujeira e bagunça, vocês vão começar a colocar os cards aqui. Aí não precisa desenhar não, pode apagar. O importante é vocês entenderem a lógica. Primeiro, classifiquem todos os cartões que vocês conhecerem, os que vocês não conhecerem e não entenderem, não precisa classificar. Então o objetivo não é classificar todos. Classifica todos eles de acordo com a posição do critério que vocês acham que descreve melhor aquele método. Então se o método está mais para esse lado, para o critério extremo do lado direito, você coloca o cartão aqui. Se ele estiver mais para o critério do lado esquerdo, você coloca desse lado. E vocês vão mover e vão discutir. Depois que vocês classificarem de acordo com uma linha de critérios, aí vocês começam a classificar no outro eixo. Aí vocês possivelmente vão começar a mover para cima ou para baixo as cartas. A hora que vocês começarem a pensar, ok, de acordo com esse critério, esse método está aqui. Está mais para a esquerda do que para a direita. Porém, quando você mistura os critérios no eixo vertical, você começa a ter que combinar a posição deles nos dois eixos ao mesmo tempo. Então esse aqui está mais à esquerda, mas ele também está mais para cima, enquanto que esse aqui está mais à esquerda, mas está mais para baixo. Se por acaso isso provocar, e deve provocar, porque vocês estão triangulando e a triangulação gera mudança de perspectiva, você pode mover o cartão para uma outra parte do teu plano cartesiano sem problema nenhum. Eu só estou sugerindo que primeiro classificar um e depois classificar outro para ficar um pouco mais fácil. Se vocês querem classificar os dois ao mesmo tempo vai ser um pouco mais complexo. Eu vou passar vários pares de critérios para vocês, vai ser bastante coisa e vocês vão ter um tempo limitado para fazer isso também. Compreenderam como é que vai ser o exercício? Então deixa eu só falar quais são os critérios, só para vocês terem uma ideia. O primeiro é entre o metódico e o caótico. Esse a gente já discutiu, teve uma aula inteira sobre isso. Vocês vão classificar esse método, é mais metódico ou é mais caótico? Depois, o método é mais problematizador ou mais solucionador? Depois disso, ele é mais quantitativo ou qualitativo? Depois, ele é mais atitudinal ou comportamental? Depois disso, ele é mais descritivo ou prescritivo? E ele é mais distanciado ou participativo? São esses os critérios, eu vou passar folhinhas que eu escrevi descrevendo o que é cada um desses critérios. Vocês colocam, eu sugiro naquela posição ali na mesa e tentem classificar os métodos. Apenas que vocês conseguirem, que não conseguirem, não há problema. E a gente vai conversando, eu vou passando nas mesas e tirando as dúvidas, ok? Então, boa sorte no exercício.