Então vamos ver hoje o papel da teoria na pesquisa de experiências essa é uma apresentação rápida sobre as possibilidades não só de aplicar teorias no design mas principalmente de produzir teorias a partir do design esse slide aqui é uma temática que eu já apresentei em outras aulas que é o preconceito, a separação, a divisão, a cisão entre o trabalho intelectual, o trabalho manual o trabalho de projetar e o trabalho de usar na área do design que é uma opressão que a gente vivencia na nossa sociedade que justifica a separação entre classes, que justifica a separação entre raças, entre gênero muitas vezes com o oprimido ficando com o lado direito o lado do trabalho manual, do trabalho de usar, do trabalho técnico, da ciência meramente aplicada e o lado da prática, enquanto que o opressor fica com o lado da teoria o lado do trabalho de projetar, do trabalho científico, da ciência pura isso é um tipo de opressão que a gente tem combatido bastante nessa disciplina quando estudamos metodologia da pesquisa para que vocês possam aproveitar também esse conhecimento de metodologia da pesquisa no resto do curso de design porque nosso curso é muito focado em desenvolver habilidades práticas ele tem pouco foco em desenvolver habilidades teóricas embora a gente veja um pouco de teorias, em geral as teorias são aplicáveis e não teorias que você pode desenvolver isso é um problema não só do nosso curso, mas da disciplina de design como um todo ela é vista como uma área que não produz teoria por conta própria ela importa teorias de outras áreas então quando você vai estudar a teoria e a história do design você vai aprender o que a sociologia diz sobre o design o que a antropologia diz, o que a história diz sobre o design agora o que o design diz sobre o design é raro imagino que durante o curso vocês não tenham tido ainda um contato muito claro com uma teoria do design sobre o design a maioria das vezes a gente vai adaptar, puxar de outras áreas uma das teorias de design sobre design que a gente viu aqui nessa disciplina é a teoria de que existe um conhecimento embutido das coisas sobre as coisas que é o que a gente chama de epistemologia do design ou modos projetuais de conhecer isso é uma teoria de design sobre design mas isso é uma exceção, dentro do cenário geral a área não se constituiu ainda como área de produção teórica eu estou tentando combater isso com essa disciplina de metodologia da pesquisa isso porque no Brasil especialmente também tem esse problema pela influência no modelo pedagógico da escola de Ulm que é aquela escola sucessora da Bauhaus na Alemanha que vai influenciar fortemente o currículo da ESD aqui no Brasil que vai se espalhar para várias outras universidades brasileiras em especial o TFPR nosso currículo é muito influenciado pelo currículo da ESD que é um currículo que coloca as disciplinas de outras áreas como sendo a fonte de produção teórica para o design e é visto como uma área que aplica essas teorias e transforma elas em objetos materializa, verifica essas teorias com a produção, com a criação isso aqui é um diagrama do currículo, um dos currículos da escola de Ulm que coloca como centro, como conceito central você ter o exercício da técnica, a discussão dos problemas que são trazidos pela economia, pela política, pela psicologia, filosofia através das áreas de produção a produção da forma, a forma do produto, o design visual, a arquitetura planejamento urbano e o design da informação então veja que a área do design aparece como uma mediação entre uma área teórica e uma área de aplicação eu acho que isso está mudando, precisa mudar e uma evidência muito clara que a área de pesquisa de experiências traz é que não só usuários, não só designers produzem teorias mas também os usuários sobre o que? Sobre a sua própria experiência sempre que você passa por uma experiência mesmo que você não esteja tão consciente disso mesmo que isso não seja reconhecido por outras pessoas a gente teoriza essa experiência a gente leva conhecimento de uma experiência para outra isso já é uma teoria claro, tem gente que não vai considerar isso como uma teoria porque vai ter um nível de exigência de abstração muito grande para uma teoria mas uma proposta crítica em relação ao conhecimento do design que é essa que a gente tem desenvolvida aqui nessa disciplina reconhece que todo conhecimento generalizado é uma teoria pode não ter chego ainda no nível de uma teoria científica mas é ainda assim uma teoria então o trabalho da pesquisa de experiências pode ser muitas vezes se aproximar dessas teorias que os usuários têm sobre as suas experiências esse diagrama já tem mostrado em vários momentos na disciplina de que designers fazem parte de um grupo social mais ou menos homogêneo que tem o privilégio sobre os meios de projetar enquanto que usuários fazem parte de um grupo desprivilegiado que não tem esse mesmo privilégio que eu tenho chamado de "o outro" então a pesquisa de experiências é para que o mesmo se conscientize das diferenças do outro mas também o outro pode se conscientizar das diferenças do mesmo porque ele também produz teoria e essa teoria pode ser ajustada pode ser transformada, pode ser aperfeiçoada pelo encontro, por esse momento aqui em que os espaços do outro e do mesmo se encontram e as teorias dos designers podem ser postas à prova frente, em confronto com as teorias dos usuários então, colocando de maneira bem direta designers são pesquisadores também são teóricos também mesmo que não sejam reconhecidos como tal dentro da academia porque todo objeto que um designer cria contém em si uma teoria sobre como ele vai ser utilizado pelo outro assim como o outro lado, o outro, o usuário os usuários também estão teorizando como esses objetos foram projetados estão tentando entender porque foi feito desse jeito ou daquele jeito qual a intenção por trás dessa funcionalidade dessa aparência, dessa interface dessa forma, dessa função tudo isso é teoria também que o usuário produz tentando entender o mesmo isso é uma evidência que já foi percebida por grandes empresas como a Meta, que produz o Facebook, o Instagram que usuários estão refletindo sobre as suas experiências estão tomando decisões e mudando o seu comportamento a partir do que eles imaginam que os designers estão querendo que eles façam nesses aplicativos então isso aqui é um estudo que a Meta fez alguns anos atrás sobre como os jovens percebem o efeito do uso do Instagram no seu dia a dia a respeito de questões sociais da sua relação social uma das questões que eles falaram que afeta negativamente os jovens acham que o Instagram afeta negativamente a sua auto-imagem do corpo ou seja, a maneira como eles veem o próprio corpo então aqui é a proporção de o quanto o Instagram fez ficar pior essa auto-imagem então é das questões sociais auto-percepção do corpo os próprios usuários perceberam que o Instagram piorava isso porque, eu imagino, que os usuários perceberam que eles veem um monte de fotos de outros corpos de pessoas que são parecidas com ela estão próximas da sua rede social e você começa a se comparar e achar que o seu corpo não está tão bonito não está tão bem apresentável não está tão perfeito dentro do padrão sendo que esses corpos muitas vezes estão sob efeito de filtros não são os corpos verdadeiros então você começa a se pautar pra achar que você deveria ter um corpo de um filtro só que não existe esse corpo então o Instagram tem contribuído, por exemplo para um aumento significativo da demanda de operações faciais e plásticas de modo geral entre jovens adolescentes raramente pediam para fazer operação plástica e agora por causa do Instagram estão fazendo mas é uma coisa que você fica pensando "poxa, por que não paro de usar?" porque você não pode parar de usar o Instagram você perde o seu contato com um monte de amigos que estão ali dentro você está preso ali dentro do Instagram então por mais que as pessoas tenham uma perspectiva crítica elas não conseguem encontrar uma prática alternativa tem a teoria crítica, mas não tem a prática crítica porque por enquanto não tem uma rede social alternativa que possa ser usada pelos seus colegas então esse exemplo da meta demonstra que usuários estão criticando e teorizando as suas experiências também estão tentando entender o que está acontecendo a pesquisa de experiências então ela vai lá coletar essas teorias que os usuários têm essa pesquisa que a meta fez é uma pesquisa de experiências buscou entender quais eram as principais dificuldades sociais os problemas sociais que usuários de Instagram tinham na experiência de usar esse aplicativo agora o que a pesquisa de experiências faz que é um pouco diferente de você só ouvir o que a pessoa está falando é triangular com outras teorias teorias científicas que vêm das outras disciplinas aquelas mesmas que a gente mostrou agora há pouco no currículo da UMI e assim a gente constrói teorias da experiência completas e robustas que incluem tanto teorias de designers quanto teorias de usuários essa teoria da experiência vai explicar por que a experiência ocorre da maneira que ocorre nessa imagem tem uma teoria que está bem influente para explicar porque que usuários usam Instagram que é o vício dizem que é a mesma maneira como você se vicia numa droga você se vicia numa rede social porque ela fornece dopamina que é uma substância que o cérebro secreta quando você vê alguma coisa que te agrada que te satisfaz, que você gosta só que você recebe seu dopamina sem ter muito esforço no Instagram você simplesmente vai rolando feed e vai aparecendo coisas que você gosta então você se vicia no Instagram essa é uma teoria que é também chamada de neuro UX evidência neurológica ou neuromarketing essa teoria ela precisa assim como outras teorias ter triangulação com evidências empíricas o que não é o caso essa teoria ela está muito fracamente apoiada em estudos empíricos em estudos que mostram outras perspectivas então não é uma teoria forte na minha opinião porque além de existir estímulos físicos o ser humano ele é guiado por estímulos sociais além de ter naquele modelo que eu falei apresentei algumas aulas passadas sobre quais são os componentes básicos de uma experiência a sensação é apenas um dos elementos o significado social e o sentido pessoal são outros que muitas vezes eles entram em conflito então só o fato de você receber dopamina por clicar em um botão não significa que você vai clicar nele para sentar às vezes você vai travar e parar porque você não quer que a consequência daquele botão aconteça na sua vida que muitas vezes não é só receber uma descarga de dopamina mas às vezes é perder um amigo ou ganhar um amigo às vezes a gente não quer isso então é importante que essas teorias sejam trianguladas em fontes diversas quanto mais fontes tiver uma evidência e por outro lado quanto mais evidências tiver uma teoria mais fortes elas vão ser isso fica mais claro, mais explícito nesse diagrama em que aparece aqui no centro a teoria que explica porque a experiência acontece do jeito que acontece cada bolinha aqui é uma teoria e no círculo concêntrico médio você tem as evidências que suportam essa teoria então você vai ver que tem algumas teorias que não tem evidência nenhuma que alguém formulou sem apresentar dados que comprovam ela você vai ter uma teoria que tem apenas uma evidência e uma teoria que tem pelo menos três evidências essa teoria que tem mais evidências é forte e ainda fica mais forte se você considerar que cada uma dessas evidências veio de por exemplo duas com mais fontes a teoria forte é aquela que está assentada em dados empíricos que vem do mundo são coletados através das fontes se consolidam como evidências e a generalização dessas evidências para várias evidências é o que a teoria vai fazer então o processo de teorização nada mais é do que você partir da observação dos dados juntar eles e constituir evidências que seriam descobertas, outra palavra para evidência e aí você junta essas evidências e gera uma lei uma proposta que explica porque aquelas evidências acontecem que é a teoria então não tem nada de muito mais complexo a respeito de teorização do que isso aqui tem exemplos de como que a gente tem implementado essa visão de teorização na prática aqui com os nossos estudantes um quadro de evidências trianguladas por tipos de fontes então aqui vocês podem experimentar fontes como observação, intuição, leituras e participação são todas fontes possíveis quando a gente fala de vozes da minha cabeça isso se chama intuição não acho que é uma fonte ruim só acho que é uma fonte que precisa ser triangulada com outras fontes você não pode só se basear nas vozes da minha cabeça mas ainda assim pode, é um bom ponto de partida sempre que você tem vozes da sua cabeça você teve em algum momento uma fonte original que se perdeu você não sabe onde você aprendeu aquilo mas aquilo existe daqui a pouco a gente vai fazer esse exercício basicamente é assim você coloca no centro todas as suas evidências em volta coloca todas as suas fontes e organiza as fontes pelo tipo de origem e aí você começa a conectar a fonte com a evidência e você vai ver quais são as evidências que tem maior número de fontes apoiando ela tem algumas evidências aqui que tem duas fontes tem outras que vão ter três fontes aí elas vão ser mais fortes precisam ser melhor consideradas depois de fazer um painel de evidências e fontes surge o momento de teorizar e para isso eu gosto de usar massinha de modelar e átom ligue são dois materiais que têm características completamente opostas juntos eles permitem que a gente capture essa característica generalizadora da experiência então esse estudante estava dando uma olhada nas evidências que ele tinha coletado sobre a experiência de moradores ou melhor pessoas em situação de rua pessoas que precisam dormir ao relento muitas vezes então ele começa a refletir e pensar por que isso acontece e na próxima atividade então ele monta esse modelo teórico que explica porque a situação de rua é uma situação conflituosa, difícil, tensa então ele propõe que a coberta que a pessoa em situação de rua utiliza está sempre ficando mais curta você puxa de um lado, fica mais curta você puxa de outro, fica mais curta então ele está usando uma metáfora a coberta como uma metáfora para qualquer situação que a pessoa está vivenciando ali na rua aí eu fiz uma pergunta para ele quem é que puxa essas cobertas? isso disparou nele uma preocupação de tentar explicar melhor essa experiência e a segunda explicação dele me pareceu mais adequada ele percebeu que uma das evidências era que 70% das pessoas em situação de rua são pessoas negras ou pardas então ele chegou à conclusão de que o que puxa esse cobertor dessas pessoas é o racismo no caso, as pessoas brancas que são racistas então ele representou aqui pessoas brancas puxando a coberta e com isso ele obteve uma explicação muito mais convincente porque que acontece a situação de rua que é uma das válvulas de escape do racismo na nossa sociedade que gera uma justificativa do tipo ah não, essas pessoas negras elas precisam ser racializadas mesmo porque elas têm alguma coisa a menos não está vendo? porque elas não conseguem arrumar emprego ficam na rua atuando como vagabundas e tudo mais tudo isso são pessoas brancas puxando a coberta e colocando essa pessoa numa situação de maior vulnerabilidade esse tipo de abordagem de teorizar com as mãos eu já venho experimentando há algum tempo e tem maneiras de fazer isso muito mais avançadas do que a gente vai fazer aqui nesse exercício em sala de aula através de uma metodologia mais completa chamada teoria fundamentada aqui tem um exemplo de um estudante chamado Elias Harmut Neto que fez mestrado em informática na PUC do Paraná eu tive a oportunidade de coorientar o trabalho dele foi um estudo que ele fez sobre a experiência de designer, não do usuário em todo caso a gente usou o Atlas TI que é uma ferramenta de organização das evidências bem avançada que você vai codificando as evidências e vai vendo quais são os códigos mais fortes que explicam aquele teu fenômeno o fenômeno dele era como se forma uma pessoa que é deviner um developer plus designer uma pessoa que também programa além de projetar coisas isso era uma característica de um tipo de estudante um perfil de estudante na Apple Developer Academy lá na PUC do Paraná ele estudou as características em comum desses estudantes lá pelas tantas ele estava cheio de dados cheio de evidências e ele não sabia como teorizar ainda porque que acontecia as coisas então primeiro antes de fazer o diagrama que tem do lado direito no Atlas TI, ele fez o diagrama do lado esquerdo em legacy display tentando sintetizar as características e os momentos mais comuns na trajetória desses estudantes então tinha algum momento inicial na sua infância que o estudante tinha contato com brinquedos desmontáveis ou montáveis como o próprio Lego depois na adolescência começava a se interessar como as coisas eram feitas e como que eles poderiam fazer coisas mais complexas isso vai evoluindo até o momento que o estudante começa a querer estudar todo tipo de assunto e não foca mais em uma coisa só que é uma característica peculiar do seu perfil então para finalizar projetos de design desenvolvidos a partir de teorias da experiência fortes geram práticas de experiência únicas e memoráveis que vão ficar na memória que vão ser lembradas que vão gerar algum valor único para essa experiência então eu acredito que a produção de teorias embora ela não seja tão valorizada e nem reconhecida na área de design para um projeto de sucesso obrigado por assistir legendas por Júlio Marques [SOM DOS BATIDORES]