Jogos surrealistas e inteligência artificial, esta é uma apresentação para a gente relacionar a nossa, porque que a gente está estudando o surrealismo dentro de uma disciplina de psicologia da criatividade sendo que não é história da arte. Então não vou falar muito sobre o contexto histórico que vocês vão ter em outras aulas, tem alguma coisa de material extra para vocês olharem no podcast, eu acrescentei lá no Moodle, mas a proposta agora é a gente pensar o que isso tem a ver com a contemporaneidade, o surrealismo tem a ver com a nossa realidade atual. Surrealismo é um movimento artístico que para mim é muito inspirador porque ele traz a representação de contradições como sendo uma praxis constante de cada vez entender melhor aquilo que a nossa sociedade não está encarando diretamente, aquilo que a sociedade coloca para baixo do tapete, aquilo que é a realidade mas que as pessoas não acham que é real, por isso que aquilo que o surrealismo produz é considerado surreal, mais real do que o real, é a realidade que a gente nega e que está escondida debaixo do nosso próprio nariz. Então essa imagem do René Magritte eu acho que é a melhor síntese do morfendo surrealista porque ela diz o seguinte, isto não é um cachimbo, aí eu pergunto para vocês, se isso aqui não é um cachimbo, o que é isso? A representação de um cachimbo, então não é um cachimbo físico que está aqui, é uma imagem do cachimbo, só que eu posso ir além disso e questionar, e se não for uma representação, quer dizer, botar uma nova legenda, isso não é uma representação de um cachimbo, o que ela vai poder ser? Ela vai poder ser um slide na aula do Fred, ela vai poder ser raios de luz saindo da tela, chegando nos olhos de vocês, tudo isso realmente faz parte da realidade, mas é a parte da realidade que a gente escolhe "take for granted" em inglês, tomar como se fosse dado, como se fosse uma coisa normal, mas é nesse normal que se estabelecem muitas vezes as contradições que impede a sociedade se conectar consigo mesma através de tabus, de conceitos, através de uma repressão, uma auto repressão, então surrealistas vão buscar na teoria freudiana, na psicanálise, um modo de reconectar com esse inconsciente e não se distrair, não se confundir com as imagens, por isso que o nome dessa obra é "A traição das imagens", porque essas imagens muitas vezes trazem esses conteúdos do inconsciente sem que a gente esteja consciente, quem é que explora isso profissionalmente? A propaganda e o design, então nós estamos implicados, surrealismo já é uma crítica ao design e à propaganda já desde o seu momento, lá no começo do século 20, só que hoje em dia, 100 anos depois, nós estamos passando numa situação que é o que os surrealismo mais do que nunca é relevante para entender a nossa realidade, porque nós hoje temos inteligências artificiais como mid-journey que consegue gerar uma imagem como essa usando um prompt, um comando de textual igual ao título que está escrito dentro da imagem "Sessine e Paula e Piper" do René Magritte e olha só como a imagem que é assim essa... e não é Google, não é como o Google, se você digitar no Google "Sessine e Paula e Piper" você vai ver exatamente 10 fotos daquela mesma arte original do René Magritte, aqui não, a inteligência artificial mid-journey gerou essa imagem e ela gerou só para mim, se você for digitar "Sessine e Paula e Piper" lá no mid-journey ou outras, você vai receber exatamente uma imagem diferente da minha, então como que pode isso, como que pode que nós temos o sistema automatizado para gerar imagens com um valor artístico equivalente similar, interessante, tão interessante quanto o próprio trabalho do Magritte e ao mesmo tempo diferente, né? Então, as inteligências artificiais hoje, geradores de arte estão levantando diversos debates que eu não vou conseguir esgotar nessa aula, eu não gosto nem essa, é um conceito para vocês desenvolverem por conta própria fazendo parte desse debate, eu não quero dominar ele até porque eu acho que é um debate principalmente para novas gerações de designers, então são coisas como a inteligência artificial realmente está criando alguma coisa, só está copiando, quem é o autor da imagem? A pessoa que digitou o texto ou as imagens originais que foram utilizadas para treinar a inteligência artificial, essa inteligência artificial vai substituir os artistas? E se todos puderem fazer artes assim tão facilmente, só digitando o texto, será que a arte vai deixar de ser alguma coisa especial? Será que a arte estará se degenerando por causa da inteligência artificial? Bom, o surrealismo já fazia esse debate 100 anos atrás, a gente vai voltar um pouquinho nas evidências históricas, nos registros, algumas obras e práticas para mostrar para vocês que o debate sobre inteligência artificial não é tão novo assim quanto parece. Então o surrealismo, eles não questionaram só a representação da realidade, os seus vieses, mas também quem tinha o privilégio de representá-lo, então não está aparecendo aqui por um defeito no slide a imagem que é basicamente uma carta de um jornal falando que foi o fim da guerra, primeira guerra mundial, quem que tem o poder de dizer que aquilo é realmente o fim, né? E o quanto essa pessoa não está escamoteando o conflito que se colocou depois da primeira guerra mundial que foi estourar na segunda guerra mundial, porque a primeira guerra mundial não terminou de maneira tão pacífica assim. Então os surrealistas estão dizendo assim, "Enquanto for um domínio da elite a reforma de representação da realidade, a gente vai ter esse problema da representação errônea que nos trai e aí eles vão desenvolver uma práxis de jogos para serem jogados coletivamente para estimular qualquer pessoa que queira ser artista, mostrando e provando que qualquer pessoa pode produzir arte e eles faziam isso criando meios para que um inconsciente colocasse para fora, se expressasse através do consciente. Então vamos ver alguns jogos, rapidamente o jogo de escrita e desenho automático são os mais conhecidos, basicamente você se solta na hora de escrever e vai escrevendo o fluxo de pensamento sem pensar em pontuação, sem pensar em argumentos, sem pensar em objetivos, tudo aquilo que você está pensando você vai botando no texto, uma prática muito interessante para você aos poucos ir soltando esse subconsciente. O desenho automático a gente já realizou esse exercício em algumas aulas passadas muito parecido também, no caso o exercício em sala eu pedi para vocês desenharem algo que vocês estavam vendo como desenho de observação, mas imagine você desenhar algo que você está vendo dentro de você ou que você sonhou, né? Ou que você está lembrando de alguma memória da sua infância. Então aqui eu trago uma imagem que é paradigmática dessa época que é a foto da Annan Smith que é considerada a figura da escrita automática. Aí já nessa época do surrealismo as mulheres já eram associadas às máquinas, já tinha uma associação entre inteligência artificial, poderia se considerar uma precursora da inteligência artificial e as máquinas, por isso que até hoje nós vemos na maior parte dos filmes de ficção científica e mesmo nos assistentes virtuais por voz você vai ver a escolha da figura feminina para representar. Por quê? Porque a mulher naquela época e até hoje ainda ela é considerada um corpo inferior ao do homem e ela deve ser submissa e atender as requisitos, as necessidades, os pedidos para produzir obra de arte, para limpar a casa, para ganhar dinheiro, para suprir a carência das pessoas na família. Então isso também se reproduz, esse machismo, esse sexismo também se reproduz na arte, no surrealismo e ainda se reproduz na inteligência artificial. Bom, assim como as inteligências artificiais contemporâneas, os surrealistas eles combinavam as imagens que estavam presentes no inconsciente coletivo, como por exemplo a imagem de uma mulher como serva, como cuidadora, como sendo uma musa, tudo isso está no inconsciente, são arquéticos, né? E eles combinavam isso e deixavam isso mais visível, mais explícito para que a mulher pudesse nos tornar consciente disso ou não. No caso do Dali, que é talvez o artista surrealista mais famoso, Salvador Dali, ele tem um auto-retrato que ele chama de "soft self-portrait", que é um auto-retrato mole e aí tem o rosto dele meio que derretendo, como muitas obras ele explora esse derretimento, mas o elemento interessante é que existe algumas artes assim que estão tentando impedir esse rosto dele de cair no chão, de derreter, de cair, de ficar com as pelânguas para baixo, mostrando um pouco também o exercício dele de lutar contra a sua idade, que estava se avançando, ele se sentindo mais velho e esse auto-retrato traz um pouco esse medo da morte, por isso o olho está vazado, não tem nada no olho, está oco, essa morte chegando. Os surrealistas com esse processo criavam muitas e muitas obras e a questão chave da criatividade no surrealismo nem é tanto gerar novas obras, porque gerar obra é relativamente fácil, a questão principal é a curadoria, é a importância de qual obra que o artista vai exibir publicamente e aí que começa a surgir o aspecto da curadoria como um aspecto de criatividade importante. Em vez de negar a racionalidade instrumental que tinha gerado a primeira guerra mundial e toda aquela destruição em massa, estava destruindo com a rotina caupacata das cidades europeias, os surrealistas eles resolvem usar essa racionalidade contra a própria racionalidade, enquanto os dadaístas vão dizer sejamos irracionais, não vamos usar razão em uma e vamos criar tudo meio que aleatório, os surrealistas vão falar nós vamos usar a razão do inconsciente, essa razão que a gente quer negar que existe, essa razão que é a razão do coração por exemplo, todo o coração tem as suas razões, é isso que o surrealismo está fazendo. Se a gente hoje em dia nos inspirar nos surrealistas, em vez de negar a inteligência artificial contemporânea e dizer que ah é tosco, é ruim, é podre, o negócio é trabalho manual, eu vou continuar desenvolvendo meu trabalho manual aqui, isso vai se valorizar, eu acho que isso é a mesma coisa que os dadaístas fizeram atrás e os dadaístas não tiveram a mesma longevidade e influência que os surrealistas. Eu acho que é muito mais interessante seguir na linha de entender como funciona a inteligência artificial e sim usar ela para os seus próprios vieses. Uma das inteligências artificiais geradoras de imagens mais famosa, mais utilizada atualmente se chama, não é por acaso, Dali e Dali é a mistura do nome do Salvador Dali e do robozinho Wali que é protagonista de um filme muito bacana. Então por que eles chamaram de Dali essa ferramenta? Não é por acaso, é porque o processo de geração de imagens do Dali é parecido com o processo de criação em jogos surrealistas. É extremamente complexo esse algoritmo, eu vou dar uma visão bem geral usando uma metáfora aqui para vocês, imagine que cada imagem é decomposta como se fosse virando um pó, imagina que cada imagem que você treinou a inteligência artificial você pega lá um milhão de imagens e você transforma em pó cada uma delas, aí você alguém digitou casa e carro, você vai pegar o pozinho da casa, o pozinho do carro e você vai jogar dentro de um copo de água, e aí você vai misturar esses pozinhos, isso se chama difusão, difusão é você difundir o pozinho numa imagem, então imagine que ali você tem os ingredientes para gerar uma imagem. O pulo do gato dessa inteligência artificial e que eu não vou conseguir explicar isso bem é que ela consegue reconstruir a imagem a partir do pozinho, ou seja, desfazer aquela difusão, imagine que ela conseguiria retroceder até aquela imagem original usando pó, só que no meio do caminho um pó misturou com outro pó, o que acontece é a imagem que vai ser reconstituída não é mais as imagens originárias senão que uma mistura das duas e uma mistura que faz todo o sentido porque ela é uma mistura semântica. A inteligência artificial ela vai usar redes neurais baseadas em texto porque todas as imagens treinadas lá no banco de dados tem associação com o texto, então ela vai saber que um avião ele é composto de rodas, ele normalmente está num fundo de nuvens, então vai ter uma associação entre vários tipos de imagens e elas não vão voltar sozinhas, elas sempre vão estar junto com outras imagens, então os pozinhos que vão estar sendo misturados no copo é um pozinho parecido, entendeu, que vai dar boa quando misturar vai ficar gostosa a bebida, tá? Essa ferramenta de rede neural baseada em texto é o que está por trás de uma outra inteligência artificial, essa até mais famosa que o da Li, que é o chat GPT ou chat PT em inglês, que é uma ferramenta que é impressionante que ela consegue fazer em termos de um bate-papo e eu fiz uma conversa, tive uma conversa com ela para preparar essa aula, claro, ela me ajudou a preparar essa aula e na verdade na próxima aula eu vou transferir as responsabilidades para dar aula para o chat GPT porque eu acho que eu me tornei obsoleto aqui, então bye bye para vocês, estou indo embora, não, estou brincando. Eu acho muito interessante, o próprio chat GPT vai recomendar isso aqui, ao invés de a gente pensar nessas inteligências como substituindo, pensar nelas como nos tornando capazes de fazer mais coisas em menos tempo e eu que estava com essa ideia às 11 horas da noite, morto de sono, conseguindo assim preparar essa aula de última hora e eu pedi para o chat GPT criar para nós um jogo de surrealista para a gente jogar em sala de aula, depois até eu perguntei e aí chat GPT, o que é que os nossos estudantes que jogaram em sala de aula na aula de psicologia da realidade podem aprender sobre esse assunto e ele teceu um texto maravilhoso que eu não vou ler para vocês, mas vou deixar vocês curiosos para verem o histórico da nossa conversa que eu fiz o upload lá no Moodle, está tudo registrado, vocês podem ver como eu preparei essa aula. A gente vai jogar esse jogo num minuto, mas antes para finalizar essa fala, a inteligência artificial ela gera um pensamento de maneira muito similar aos jogos surrealistas. Olha aqui a lista de recursos em comum que eu e o chat GPT conseguimos identificar nesses dois tipos de práticas de criação, eles exploram espaços gigantescos de possibilidades, ou seja, o consciente e o inconsciente coletivo, ele conecta-se com essa coletividade e aproveita ela para criar, ele gera muitas ideias em pouco tempo, mas não necessariamente boas ideias, por isso você precisa saber selecionar quais que vale a pena exibir, ele combina elementos de maneira inusitada, isso dentro da psicanálise é chamado de associação livre, que é a maneira de você descobrir o que é que uma coisa tem a ver com a outra que você não está vendo e aproveita a chance de algo inesperado ocorrer, como por exemplo, você está dando uma aula sobre o assunto associação livre e por acaso alguém deixou um negro preenchido com associações livres no fundo, não fui eu que fiz isso gente, foi alguém outra turma que fez essa aula que faz uma associação, por exemplo, é pensamento, conecta-se com reflexão, conecta-se com desespero, conecta-se com TCC, conecta-se com ansiedade, conecta-se com medo, vocês já viram esse filme antes, se não viram vocês vão ver quando estiver perto do fim do curso. Então essas emoções elas estão relacionadas no nosso inconsciente, isso aqui é um exercício de entender para o consciente aquilo que está no inconsciente. Então vejam que o surrealismo ele vai aproveitar a chance, a possibilidade de alguma coisa como essa acontecer. Agora eu acredito muito que jogando esse jogo surrealista a gente não só aprende a jogar e criar, mas a gente aprende a criar os jogos surrealistas. Veja, isso é um tema que a gente tem discutido muito em metodologia da empresa que é passar do design para o meta design. No caso das inteligências artificiais, se o viés delas é automatizar o trabalho criativo, tornar o profissional de design ou de ilustração, de arte obsoleto em muitos casos, se você usar essa inteligência artificial para aprender a criar outras inteligências artificiais, o que você está fazendo? Está indo contra o viés principal dessas inteligências. Você está "outsmarting" ela em inglês, você está sendo mais inteligente do que ela porque você está usando os recursos que ela está te oferecendo para acabar com a tua profissão, para acabar com o teu emprego, para acabar com aquele frilazinho que você poderia fazer durante a faculdade para complementar o dinheiro, para você criar aquela arte que ia aparecer no Instagram do seu tio. Agora não dá mais tio, dom de emprego, não vai dar mais gente. Agora o seu tio ele vai gerar imagem, senão ele vai contratar alguém para fazer isso com muito menos dinheiro que você cobraria. Então é por isso que eu venho dizendo que o futuro da profissão é se tornar meta design, não ser mais designers que criam produtos para usuários, porque isso pode ser feito por uma inteligência artificial. Isso daqui não, isso aqui é um ser humano que cria inteligência artificial. É claro que no futuro nós vamos ter seres humanos criando inteligências artificiais que criam inteligências artificiais, que criam inteligências artificiais, que criam inteligências artificiais, mas vai ter sempre um ser humano lá no topo. E eu espero que sejam vocês, esses seres humanos, designers com consciência crítica, com fundamentação ética, sabendo o seu papel na sociedade para que essas inteligências que vocês criem sejam realmente inteligentes. Beleza gente? Então é isso, vamos voltar a