Então a aula de hoje é sobre o segredo da criatividade no design, ou como você se fazer designer mesmo que você não tenha nascido numa família de designers, mesmo que você não tenha nascido numa família de pessoas ricas, pessoas brancas, pessoas que moram nas capitais, nas grandes capitais, especialmente na cidade maravilhosa do Rio de Janeiro, onde todos os holofotes se voltam para você e qualquer ideia que você tem parece muito melhor do que qualquer ideia que alguém teve em outro lugar do Brasil. Então essa aula é para desconstruir todos os segredos da criatividade no design, não estou fazendo uma apologia, quais são os segredos? Primeiro as pessoas falam como se cria, há mil segredos sobre métodos de criatividade, dez dicas para você ser criativo, se você insistir um pouco mais vai descobrir que tem uns segredos um pouco mais guardados que é sobre onde se cria, que lugares você tem que ir, que lugares você tem que estar, saia de casa, vai andar, vai dar um passeio no Aterro do Flamengo, vai dar um passeio na praia, vai caminhar usando seu iPod, escutando música, vai fazer alguma outra coisa bem cara, especialmente de pessoas, vai velejar como disse na nossa entrevistada, vai velejar que você vai ter ótimas ideias, muito criativo. Agora se você insistir mesmo, aí você vai cair num grande segredo que ninguém quer falar, um segredo verdadeiro, que é quem se cria, quem pode se criar, quem tem esse poder, que é justamente o que eu estou querendo ajudar vocês a pensar a respeito, afinal de contas eu imagino que a condição de vocês, de estudantes de universidade pública, se não seja daqueles privilegiados que já sabem como ser criativo ou já nasceu criativo e herdou isso da sua família, então a pergunta como se criar, mais do que o que criar e como criar é mais relevante, é um segredo mais importante, mas então vamos lá, vamos retroceder um pouco as perguntas, vamos começar discutindo sobre como se cria e o que se cria. O iPod é considerado uma das grandes criações do século XXI, é um projeto que envolveu e misturou muitos conceitos de várias ciências, descobertas sobre miniaturização de chips, sobre interface humano com computador, aqui você tem esse controle giratório que só teve no iPod, uma coisa muito louca para você poder navegar por milhares de músicas, foi um sucesso tão absoluto de vendas e também de elevação da linha visual ou linha formal dos produtos eletrônicos que hoje o iPod é exibido numa galeria de arte, o MoMA, em 2001 foi exibido, tem outras galerias que exibem até hoje, por que isso? Bom, tem gente que vai atribuir o sucesso do iPod a Steve Jobs, que era o fundador da Apple, um dos fundadores da Apple que defendia bastante a importância do design, mas o Steve Jobs não sentava na frente do computador e desenhava os produtos, quem fazia isso era o Johnny Ive, o Jonathan Ive, que era o vice-presidente de design da Apple, ele criava junto com o Steve Jobs essas formas, esses estilos que são tão distintivos da marca Apple. O Jonathan Ive, em 2019, resolveu deixar a Apple e abrir a sua própria empresa, nos primeiros minutos e horas desse anúncio público, as ações da Apple caíram vertiginosamente, mas alguns dias depois elas voltaram a subir e mantiveram a tendência já histórica de crescimento da valorização dos produtos Apple, ou melhor, da marca Apple. Aqui vocês conseguem ver como é que essa variação ao longo de 5 anos, tá sempre crescendo, dobrando de valor em 5 anos, nos últimos 5 anos, até 2019, tá um pouco desatualizado esses dados aqui, mas muitas pessoas tentam explicar essa capacidade de se valorizar da Apple no mercado de ações por conta de ter um design distintivo, específico, característico, porque não também criativo. Por que a Apple não perdeu o valor depois que o Jonathan Ive saiu, se ele era o gênio criativo por trás dos seus projetos? Porque o mercado de acionistas, de investidores, compreende isso aqui, que no design a capacidade de criação não é um talento ou um dom de corpos privilegiados como este homem branco inglês, que até recebeu uma condecoração da falecida rainha, Elizabeth. Na verdade eles percebem que a criatividade é algo que se manifesta em momentos peculiares, em lugares que não se manifestam só em momentos peculiares, que é por exemplo o momento eureca, o momento que você não tá esperando vir uma ideia. Nem tampouco acham que a criatividade é algo que só vai acontecer em lugares aleatórios, por exemplo, quando você está tomando banho. Se fosse, assim dentro da Apple teria um monte de chuveiros e os designers ficariam no chuveiro o dia inteiro pra ter ideia. Numa empresa, numa organização, numa sociedade industrializada como a nossa, a criação ela vai surgir de corpos ordinários, funcionários, trabalhadores, intelectuais, mas que muitas vezes são reduzidos a trabalhadores braçais, manuais, como designers. E esses trabalhadores vão se empenhar em uma atividade constante, você vai precisar ser criativo todos os dias e não só quando der na telha. Isso vai acontecer no espaço compartilhado, porque a organização quer que você esteja próximo de outras pessoas, pra que você esteja mais criativo com elas, mas também porque elas possam supervisionar o seu processo criativo. Então a criatividade não é só uma questão de dom e de interesse e de capacidade individual, mas principalmente de uma capacidade coletiva. Pra resumir graficamente o que eu tô comentando aqui, vocês estão vendo nesse gráfico, nesse diagrama pessoas, corpos diversos interagindo num espaço compartilhado, que é esse fundo laranja da imagem, em atividade constante. Essa interação gera essa atividade representada por esses diversos círculos concêntricos e desalinhados, desalinhados porque essa atividade é um tanto caótica, mas no entanto ela acontece naquele espaço circunscrito, habitado e produzido por esses corpos diversos. Então eu vou avançar um pouquinho mais nessa teorização desses três elementos que eu mencionei até agora, corpos, atividades e espaço. Esses elementos vão interagir, vão se transformar. Na medida que você começa a criar, você começa a se criar também. Então a criação não cria só ideias e coisas e objetos externos ao processo de criação. Ou seja, você teve uma ideia e acabou. A criatividade cria espaço e o cria corpo, se transforma nesse processo. Então se cria quem cria, ou cria-se quem se cria. Cria como se cria e cria onde se cria. Isso aqui não é uma poesia, mas rima tal como fosse. Aqui eu estou tentando ajudar vocês a sacar que existe um processo de criatividade que vai do sujeito ao mundo, mas com o comitante é um processo de criatividade que vai do mundo ao sujeito. Quando você cria o mundo, o mundo também te cria. Em outras palavras, agora usando um vocabulário mais técnico que eu estou desenvolvendo nas minhas pesquisas, na criação o corpo, nosso corpo vai se tornar um cria-corpo, um corpo criativo. O espaço vai se tornar um cria-espaço, um espaço para criar. Assim como a nossa atividade vai se tornar uma cria-tracinho-atividade. E agora talvez vocês tenham sacado porque é que eu estou fazendo todo esse rodeio. Eu quero explicar de onde vem a criatividade. Ela não vem de uma cabeça isolada do mundo, de um gênio, um gênio que nasceu numa família, não importa isso. O que importa é onde essa pessoa está, com quem ela está trabalhando, em que lugar. Importa também que corpo é esse. Claro que sim, é origem, mas os outros elementos vão estar em interação. Então criatividade é uma palavra composta que eu desenvolvi para ajudar a decupar esses elementos que constituem o processo de criação. A consequência imediata dessa visão, dessa teoria histórico, cultural, sócio-espacial e existencial da criatividade que eu estou combinando nessa disciplina, que inclusive vocês podem entender melhor observando as aulas gravadas depois, é a seguinte, não é necessário ser um corpo criativo para estar em um espaço criativo fazendo uma atividade criativa. Basta começar a criar que isso tudo vai se criar junto com você. Então se você não se considerava criativo, criativo antes de começar esse curso, primeiro de tudo é porque alguém te disse isso, que a sociedade é desigual e ela vai estabelecer hierarquias entre corpos que podem ou não podem ser criativos, mas isso é tudo ideologia. Eu estou destruindo essa ideologia e colocando uma outra ideologia mais libertadora, uma ideologia que nos permite nos criar e criar nosso espaço, criar nossas atividades se a gente acreditar que a gente pode fazer isso. Vou contrastar essa ideia de criatividade individual que está associada ao gênio, que tem a ver com a entrevista que a gente ouviu mais cedo. Na criatividade individual, a iniciativa é individual, o risco é individual e o benefício também é individual. A pessoa se destaca das outras e por isso ela merece um retorno, porque ela desafiou as outras. Ela poderia ter sido rejeitada, ela poderia até morrer dependendo da situação, propondo uma ideia transformadora, uma ideia que incomoda. Então o fato é que nesse modelo somente alguns poucos indivíduos vão arriscar, porque a maioria vai ter medo e somente alguns poucos indivíduos vão conseguir obter o benefício e o reconhecimento dos outros. Então graficamente uma pessoa faz a diferença na criatividade individual, só uma pessoa. Por trás disso está um modo de se relacionar socialmente que é competitivo, que é capitalista, que é patriarcal, que é colonialista. Ou seja, criatividade individual é uma doutrina, uma ideologia opressiva, faz a gente se sentir menos. A gente não consegue, só aqueles que fazem a diferença. Isso é destruidor para quem é jovem como vocês e quer se tornar um sucesso. Porque se você seguir esse caminho, a sua chance de frustração, a sua chance de ser oprimida é muito grande. E se você conseguir passar dela e se tornar essa bolinha laranjinha que faz a diferença, você vai oprimir os outros, você vai fazer igual o nosso entrevistado agora a pouco, você vai dizer que o segredo da criatividade é ter design no seu sangue, ou seja, herdar da sua família o design. Isso é opressivo porque diz para todas as outras pessoas, se você não nasceu de uma família assim, quer dizer, é o texto não dito, ele não fala isso, mas qual o segredo de ser criativo, o cara fala nascer numa família, está dizendo, você não nasceu, você não vai ser criativo. Então me contrata e pague porque eu tenho um privilégio que ninguém tem. Não é esse tipo de designer que eu quero formar que não é responsável formar esse tipo de designer numa universidade pública. A gente precisa formar outro tipo de designer, designer que acreditem em criatividade coletiva, que é a seguinte, é uma iniciativa de grupo, o risco é compartilhado entre o grupo e o benefício também. Em grupo as pessoas vão arriscar menos, porém todos os riscos assumidos vão gerar aprendizados para a organização e não só para o indivíduo, vai ficar alguma coisa dali que vai ser compartilhada, que pode ser boa, mas pode ser ruim, não importa, menos ênfase no indivíduo, menos risco para o indivíduo porque existe uma rede de apoio. E nesse caso graficamente todas as pessoas vão fazer a diferença. Então compare aqui o nível de criatividade muito maior. Quando você tem criatividade coletiva você vai considerar mais opções no seu projeto. Todos vão fazer a diferença, todos vão trazer uma resposta diferente das suas histórias, das suas condições de vida. Então se você não nasceu dentro daquela condição específica que o nosso primeiro estado nasceu, de homem branco, rico, numa cidade central do Brasil, se você não nasceu com esses privilégios, aí que é bom na criatividade coletiva. Se tiver só um bando de homem branco criando, eles não vão ter tantas ideias quanto se tiver pessoas diversas criando. Diversidade em termos de raça, gênero, etnia, origem, condição física, sexualidade e por aí vai. Tudo isso é revalorizado na criatividade coletiva. Então essa diferença produzida pelo encontro entre os diferentes vai aos poucos gerando tal do cria-espaço. Então já expliquei para vocês como surge criatividade, agora estou falando um pouquinho como surge o cria-espaço. Que vai sendo uma espécie de rastro que essas diferenças vão deixando em torno das pessoas. É claro que isso também vai estimulando as próximas pessoas que vão participar dessa atividade a se integrarem dentro dessa bagunça. Então o fato de um cria-espaço ser bagunçado é porque houve produção de diferenças ali. Se um cria-espaço é muito organizado, muito certinho, é porque não houve ainda produção de diferenças nesse espaço, porque a criatividade ou foi individualizada ou nem aconteceu ainda. Então a bagunça é um sinal de que houve conflito, de que houve momentos de tensão ali dentro, posições diferentes se encontrando. E aqui no nosso curso vocês vão adentrar vários espaços, vários cria-espaços como esse. Eu gostaria de destacar a modelaria porque eu acho que é um cria-espaço mais poderoso, uma possibilidade de ação, de atividade lá, mas cada sala de aula do Dadim vocês vão encontrar essas características mais ou menos. Talvez na C105, por exemplo, vocês vão ver menos cria-espaço, mas ainda assim mais do que se você for numa sala de aula de outros departamentos. Então esses espaços são feitos para a gente aprender a pensar como designer, aprender a trabalhar coletivamente. Isso é uma característica do nosso trabalho. Aqui eu vou mostrar algumas imagens de cria-espaços que eu andei desenvolvendo ao longo da minha carreira. Em 2007 a 2011 a gente desenvolveu o que a gente chamou de ateliê antropófago ou ateliê de antropofagia, um ateliê em que a gente estimula os estudantes a comer as ideias dos estrangeiros e misturar com as ideias das culturas tradicionais brasileiras de modo a evitar o colonialismo, o imperialismo, que vinha através da tecnologia digital. Esse foi um dos primeiros momentos em que se começou a pensar que tecnologia digital era um tipo de material importante para designers. Depois na PUC do Paraná, quando eu dei aula lá, a gente também lidou com isso, um ateliê antropófago para trabalhar relações de opressão, foi o primeiro momento que eu comecei a discutir opressão em sala de aula com meus estudantes. A gente usou muito teatro e essa dimensão do corpo, que não estava tão evidente ali no Faber Ludens, começou a ficar muito clara de que para você ser designer você também tem que se fazer designer, você tem que treinar o seu corpo e muitas vezes o seu corpo está oprimido através de sensações que você acha que são características pessoais, como a timidez, mas que são produzidas socialmente. Os jovens são, hoje, ainda mais depois da pandemia, vocês são estimulados a serem tímidos porque há uma série de medos e expectativas concentradas em você para que vocês não sejam criativos, não transformem essa sociedade, para que vocês se adaptem a ela. Então toda a rebeldia que foi manifestada, por exemplo, numa geração anterior a de vocês, que por exemplo ocupou as universidades e escolas públicas no Brasil todo, fizeram piquete, não deixavam os professores de direito entrar, queriam protestar contra a reforma do ensino médio que hoje está sendo questionado novamente, isso foi reprimido e vocês hoje estão vivenciando o momento em que vocês podem se revoltar novamente. Eu recomendo, porque essa reforma do ensino médio, se vocês não se enteraram, ela vai tornar a vida das futuras gerações muito piores do que a que foi de vocês, podem ter certeza. Mas voltando ao assunto, a gente descobriu que isso eram questões de design também e começamos a desenvolver métodos para trabalhar dessa maneira, com o corpo presente. E aqui na UTFPR isso se consolidou numa forma de um discurso político mesmo, através de uma disciplina chamada projetos para pessoas, uma optativa que eu estava dando até no passado, em que a gente lia esses manifestos e escrevia manifestos sobre design política a partir da nossa experiência corporal. Nesse caso foi um momento que a gente descobriu a importância das mulheres no curso de design, como elas são predominantes nas lutas contra a opressão e também nas áreas de design que lidam com o social, como design para inovação social. Esses ateliês não precisam ser só presenciais, podem ser digitais também, podem ter uma mistura de digital com presencial. Um exemplo é a experiência bastante longa que eu tenho com os ateliês na corais.org, que é uma plataforma digital que eu desenvolvi lá atrás no Faber Ludes e que existe até hoje, que permite que esse tipo de reconhecimento de corpos diferentes, de a criação entre corpos diferentes produzindo espaços, cria espaços customizados digitais aconteça. Então o que eu percebi observando e acompanhando esses vários ateliês, esses crias de espaços, é que essa criação constante, essa cria, traçem atividade constante em um espaço significativo, um cria espaço, desenvolve o tal do cria corpo. E aí para falar sobre cria corpo eu vou fazer alusão a meu engajamento que melhor ajudou a entender porque eu sou um homem branco no Brasil, um homem hétero, homem cis, um homem, embora eu não tenha nascido numa família com muito dinheiro, nasci no Rio de Janeiro, também é um privilégio no Brasil. Então eu não tinha essa noção, eu não nasci com isso, a minha família não falou sobre isso, até a minha educação não deu muito acesso. Eu fui cair a ficha de que eu era esse ser privilegiado quando eu comecei a fazer parte da rede design e opressão, que é uma rede de pesquisadores, estudantes, professores de design em várias universidades do Brasil que estão lutando contra a opressão. A gente fundou essa rede em 2020 por ocasião da pandemia, realizamos vários eventos online para conscientizar quem quisesse a respeito de como a opressão ser reproduzida pelo design, como o design pode também ser uma ferramenta ou um processo, uma maneira de lutar contra a opressão. Nós utilizamos o Discord como nossa plataforma preferencial para interações entre os anos de 2020 e 2021, a partir daí a gente começou a fazer outras atividades, a gente fundou centros locais da rede, um deles é o Lado, Laboratório Design Contra Opressões, aqui na UTF-PR, e nessa comunidade virtual a gente envolveu mais de 500 corpos diferentes. Uma das maneiras de entender o que a gente fez é ver o nosso canal do YouTube, nós temos gravações de lives em que a gente sintetizou as nossas reflexões e discussões sobre relações entre design e opressão a partir da leitura de autores considerados subversivos como Paulo Freire, Bell Hooks, François Fanon, Augusto Boal e vários outros. Esses autores vão nos destacar que a questão do corpo é fundamental para trabalhar com opressão, quando se fala de opressão ela é vinculada a um tipo específico de corpo e uma diferença corporal que é considerada negativa na sociedade por conta da influência e do poder que os opressores têm, que são os corpos que se fazem como superiores, de se afirmar a sua igualdade ou a sua similaridade, a sua pasteurização. Então o branco, o homem branco, ele vai dizer "olha, o Brasil é majoritariamente branco, as pessoas negras, pardas, indígenas ou não-brancas de modo geral são a minoria". Isso é ideologia, porque em termos numéricos as pessoas não-brancas são a maioria no Brasil segundo a declaração delas no estudo do IBGE, o Censo, tá? Mas os brancos vão tentar manter a sensação de que eles são a maioria no Brasil. A gente que tá aqui no Sul vai ter essa sensação de que "ah, só tem branco no Brasil", mas se você começa a ter uma noção mais ampla do seu país você vai ver que realmente tem muita gente não-branca. E isso é uma maneira de se conscientizar da nossa realidade. Outra maneira é você ter atividades práticas em que você vivencia essa opressão na carne, no seu próprio corpo. Quando a gente tava trabalhando à distância, época de educação remota emergencial da pandemia, não dava pra fazer isso, mas a gente descobriu um jeito de fazer isso com corpos virtuais. E aí utilizamos uma ferramenta chamada Magic Poser, uma ferramenta que é pra você fazer um modelo de desenho do corpo humano pra quem estiver trabalhando com, estudando anatomia, bem útil pra você modelar ali virtualmente algo que você poderia estar fazendo com um bonequinho de madeira. Vocês vão ter aula com esses bonequinhos de madeira. É um bonequinho de madeira só que virtual, de 3D. A gente começou a usar esses bonequinhos pra criar situações opressivas, do lado esquerdo, um homem branco sentado em cima de uma mulher negra, e também situações de libertação. A mulher negra empurrando, jogando pra longe o homem branco. A gente fez várias dessas imagens, vários estudos pra entender como que essa opressão ela vai gerando certas posturas, certas poses. Por exemplo, andar olhando pra baixo, não fitar nos olhos os seus opressores, seu chefe, seu professor, sua professora, as pessoas que podem te ferrar, a pessoa que tem poder sobre você, já diminui o teu poder sobre elas. Quer dizer, se você começa a olhar, o opressor começa a ficar com medo de te oprimir, porque ele sabe que você pode se revoltar. Então isso é só uma das maneiras de você readquirir a capacidade criativa do seu corpo de transformar a sua realidade. Esse Cria-corpo que a gente produz na Rede Design Opressão, ou seja, as pessoas que passam por esse processo de conscientização que a gente promove, são corpos que não aceitam a opressão enquanto uma coisa natural e inevitável. São corpos que estão sempre buscando uma brecha nas opressões, sempre buscando uma maneira de burlar essa opressão e se fazer mais, ser mais do que os opressores estão deixando a gente ser. Isso aqui é uma foto do último encontro presencial que a gente teve lá na Escola Superior de Desenho Industrial, a ESD. Não estão todos os membros da Rede Design Opressão, mas aqui estão algumas pessoas que se encontraram lá. Foi um momento muito interessante para a gente poder atualizar as nossas agendas políticas e fortalecer essa rede para que a gente consiga enfrentar os desafios que essa mudança de governo está trazendo e por aí vai. Voltando para o segredo da criatividade, resumindo essa minha fala, eu acredito que é isso gente, não é ser criativo sozinho, não é seguir 10 maneiras para você, 10 maneiras, 10 dicas, vocês vão encontrar trouxentos mil vídeos no YouTube sobre isso, mas eu acho que não é o verdadeiro segredo da criatividade, o verdadeiro é você estar criativo, saber a diferença de ser e estar. Se eu começo a estar criativo, com o tempo eu vou me tornar também criativo, eu vou ser criativo, porque eu estou criativo constantemente, formando corpos coletivos que podem criar o seu próprio mundo e se recriar com ele, criar um mundo, por exemplo, menos opressivo, mais libertário. Bom, essas são algumas reflexões gerais que eu tentei representar graficamente nesse diagrama, então reproduzindo de outra maneira. A minha visão do que é criatividade é isso, é esse bololô de pessoas juntas fazendo coisas diferentes, porque elas são diferentes e a sua diferença é acolhida, como um potencial de criação e de transformação desse mundo que precisa urgentemente mudar, por isso elas estão em atividade, produzindo espaços diferenciados, espaços diferenciais, espaços que vão permitir que outras pessoas continuem e a criatividade nunca pare, nunca acesse, sempre se mantenha, você sai como designer, mas as pessoas enquanto usuárias continuam criando o que você deixou ali. Então essa é a minha visão de criatividade que a gente vai experimentar nessa disciplina.