Então, pesquisa exploratória para pesquisar oportunidades de inovação. Se é uma pesquisa exploratória, esqueça as suas hipóteses. Não comece a fazer essa pesquisa já sabendo onde você quer chegar. Se do contrário, você já não vai estar fazendo uma pesquisa exploratória. Então a hipótese é quando você acha que algum comportamento vai acontecer, você tem uma explicação para aquele comportamento e você faz a pesquisa para validar, confirmar e confirmar a hipótese. Não é esse tipo de pesquisa exploratória que a gente estimula a fazer no CBL. A pesquisa exploratória do CBL é no sentido de você tentar entender um fenômeno e talvez gerar uma hipótese no final dessa pesquisa que explique esse fenômeno. Por que as hipóteses são um problema para pesquisa exploratória? Porque elas direcionam o olhar para aquilo que você vai precisar para responder aquela hipótese, se ela é verdadeira ou falsa. Você não vai ver mais nada que não seja aquilo que o seu olhar já está treinado para ver. Essa é a intenção é descobrir algo e não validar. Então isso significa o que? CBL não é uma metodologia de Lean Startup que enfatiza você validar o seu negócio o quanto antes. Então quem está acostumado com metodologia de startup não é essa fase do CBL. Metodologia de startup em geral, Lean Startup em geral, acontece na fase de Act, no final do processo do CBL. É um processo de descoberta que vem antes que vocês precisam perceber que é diferente das metodologias de validação de negócio e de validação de ideia. Vejam aqui a diferença entre ver e olhar. Essa distinção é fundamental, é uma distinção que os antropólogos discutiram muito. O CBL é uma metodologia que se baseia muito mais na abordagem antropológica ou psicológica ou pedagógica de ver o mundo do que numa abordagem tecnológica. Então a antropologia discute muito que você pode ver uma coisa e não olhar para ela. E você pode, com isso, ver o mundo de uma maneira diferente. Você pode olhar para uma coisa que ninguém está vendo, mas que está explícita. Hidden in plain sight, como se fala em inglês. É uma coisa cotidiana que se repete tantas vezes que as pessoas param de prestar atenção porque é uma coisa tão banal, tão ordinária que não vale a pena olhar para aquilo. Às vezes nem mesmo ver aquilo. Então o olhar antropológico da pesquisa exploratória busca olhar para as coisas que não são olhadas, ver as coisas que não são vistas e também olhar para as coisas que são vistas, são olhadas de uma maneira diferente. Isso se chama estranhamento. Estranhar uma coisa cotidiana como se você fosse uma alienígena, por exemplo. Isso é sutil, é diferença, mas é crucial para pesquisa exploratória. Por exemplo, no lado esquerdo você está vendo uma situação em que um antropólogo olharia essa... uma pessoa comum olharia esse sujeito e falaria "ah, é idiota, bobo, está andando num lugar que não... está brincando de que ele está na corda bamba, mas não tem corda bamba". Agora o antropólogo olharia isso e veria "puxa, aquela faixa, ela direciona o comportamento da pessoa para andar naquela linha, ela tem um fator de indução do comportamento". E aí esse antropólogo pode ter a ideia, alguém com olhar antropológico que teve essa ideia, de criar uma linha explicitamente feita para guiar o comportamento das pessoas sem que elas percebam que elas estão sendo guiadas, que é o que vocês estão vendo aí na foto da direita, tirada num aeroporto. Alguns lugares em Curitiba, já na própria calçada, você já vê esse tipo de técnica sendo utilizada. Mas se não tivesse esse olhar antropológico de perceber que as pessoas se alinham por linhas retas, e principalmente aquelas que têm relevo, essa solução não teria sido criada. Não sei se é muito relevante comentar, mas esse é o Piso Tátil, que é um dos principais objetivos dele, é guiar pessoas com deficiência visual, para ela saber que não tem, que não tem um caminho sem obstruções. Você acha que esse senhor aí é deficiente visual? Nesse caso não. Não, então, justamente isso que essa foto está querendo mostrar. Pode ser que a pessoa que criou esse Piso Tátil tenha feito somente para cegos, mas como um side effect, pessoas que não são cegas começaram a andar ali e até eventualmente colidir com pessoas cegas. Pode ser que esteja acontecido, pode ser que não, eu acho que não, acho que foi feito também para as pessoas que enxergam. Por que eu acho isso? Pelo contraste absurdo entre a cor do chão e a cor do Piso Tátil. Isso é diferente, por exemplo, da rua 15 de Novembro, onde tem esse Piso Tátil lá, não tem esse contraste, e ali foi feito especialmente para cegos. Mas eu já vi várias pessoas que enxergam colidindo e fazendo disputa também para ver. O mais durão é o que continua naquela linha. Você já percebeu a negociação que rola? Todo mundo quer andar naquela linha e não faz nenhum sentido, porque você tem a 15 inteira para andar. É isso que eu ia falar também da 15, eu também já tinha observado isso. Então, o teu olhar no trupe lógico está te guiando ali, né? É, e o documento está do... coisa de andar em estrada, né? Você vai chegando próximo a curvas, aquelas faixas que você tem, elas diminuem a distância para você reduzir a velocidade. Isso é mais ou menos um comportamento, né? Então, você tem uma distância padrão, aí quando chega na curva ela reduz a distância entre elas, daí você reduz a velocidade e você chega mais rápido. Existe todo um padrão, digamos assim, de técnicas utilizadas para induzir certos comportamentos nas estradas. Agora, nas estradas existe até uma engenharia de tráfico que lida com isso. Agora, para questões, por exemplo, como que você educa uma criança, não existem técnicas e práticas tão claras de como induzir certos comportamentos. Talvez até exista crítica se isso deveria ser feito, uma vez que não existe uma preocupação de perigo tão grande e iminente como tem, por exemplo, num acidente na estrada. Enfim, o olhar é diferente do verbo, ele coloca uma categoria cultural em cima daquele fenômeno visual de você estar vendo aquela cena, você interpreta ela de acordo com uma categoria que você está interessado. Aqui, no caso, são imagens do livro Thoughtless Acts, da Jane Futelsuri, que é uma designer da IDO, designer de conformação e psicologia. Ela vê que cada uma dessas fotos representa um ato inconsciente que as pessoas fazem reagindo ao ambiente, respondendo ao ambiente, cooptando o ambiente, se aproveitando, abusando do ambiente, se adaptando, se conformando e sinalizando. Cada uma dessas palavras é o olhar que gerou aquela foto, aquele recorte da realidade. A foto você não vê a cena real, você vê o olhar do fotógrafo através da foto. Então, note essa diferença, é isso que a gente está, que é que vocês desenvolvem na pesquisa, essa capacidade de olhar coisas que ninguém está vendo. Onde você pode olhar coisas, oportunidades de inovação? Nas ruas, praças, redes sociais, shopping centers, casas e locais de trabalho. Comece a ligar essa tua percepção que você vai encontrar oportunidades de inovação nos lugares que você menos espera. Isso é a tal da serendipidade que eu falava no Vale do Pinhão. O que vale a pena olhar nesses lugares? - O Gambiarra é incrível. - Hã? - O Gambiarra é incrível. - É? Por que você acha incrível? Porque a pessoa podia chamar alguém pra ajudar, mas não. Pra consertar, né? Mas você pega uma coisa que não é usual, tenta consertar pra continuar funcionando. E como que você sabe que aquilo vai ajudar a consertar aquelas fitas isolantes? Como que você vai aprender que tem que ser um tipo, e não um durex, que vai esquentar e vai zoar? - Sabe? - Uhum. - Tipo de coisa, eu acho muito, não. - A criatividade. A Gambiarra é interessante, principalmente porque ela é uma solução pra um problema que ninguém solucionou oficialmente. Ali tá provavelmente uma proto solução que pode ser aproveitada e expandida pra um sistema oficial, digamos assim. Pode ser incorporada. A Gambiarra pode ser criativa ou pode ser também apenas uma falta de, enfim, de esforço pra manutenção, por exemplo, um desleixo. A bagunça, mesma coisa. Reclamações, repetição, coisas que acontecem várias vezes e que ninguém percebe mais. Erros, problemas. E aí do outro lado, o que você vai estar olhando em modo geral? Pessoas, ferramentas, símbolos, ambientes. Teria mais coisas que eu poderia colocar aqui, mas a gente não tem muito tempo hoje. Eu tô só querendo jogar algumas coisas pra vocês prestarem atenção. Os slides estão lá no Facebook também pra vocês olharem depois. Abram os olhos pra essas coisas. É importante que vocês percebam que no começo vocês vão ver coisas e não vão talvez entender as motivações por trás. E aí entra a importância de, com o tempo, vocês irem aprofundando o olhar de vocês. Porque um olhar muito apressado pode levar a conclusões erróneas. Você olha aquele aspecto visível da cultura e você interpreta aquilo através de um estereótipo. Então você olha que a mulher está vestida com uma roupa curta e você interpreta de acordo com o estereótipo que ela é uma vagabunda. Digamos assim, você empresta essa categoria visual, visível, sem nenhuma compreensão, se você for um homem, da própria cultura das mulheres. Por que elas se vestem daquela maneira? Por que elas gostam de se vestir? E das motivações internas? Você ignora isso tudo e fica só com a ponta do iceberg. Por baixo do iceberg você tem uma história muito complexa. Por exemplo, a mini saia já foi símbolo do feminismo. Já não é mais, mas foi por muito tempo. Era uma luta, era uma espécie de resistência você vestir uma mini saia na rua e mostrar. Uma das primeiras mulheres brasileiras a usar mini saia foi a esposa do Oswald de Andrade. Ela, inclusive, chocava a sociedade nos anos 30 usando mini saia. No ano 30, né? Então vamos no ano 70. Enfim, existe uma metáfora da cultura que é criada pelo Edward Terrell, um antropólogo americano, que diz que a cultura é como um iceberg. A maioria das pessoas não vai entender nada se ficar só na ponta do iceberg tentando julgar uma cultura pela comida, tradições. Costumes, roupas. Você tem que ver os valores, a visão de mundo, as crenças básicas, as origens, a raiz histórica disso tudo. Que fica abaixo da linha de visibilidade e é muito mais profundo e muito mais difícil de compreender. Isso é importante entender a diferença dos níveis de profundidade porque isso tem a ver com o grau de inovação que você está almejando no projeto de vocês. Se vocês desejam fazer um projeto que apenas promove inovação incremental, quer dizer, que otimize ou reduz a custos, vocês não precisam de muito aprofundamento no seu olhar. Você pode ter uma pesquisa rápida e você pode ter um aprofundamento baixo. Mas você só vai ter uma inovação incremental. Você só vai conseguir ter uma inovação disruptiva ou se você dedicar mais tempo para pesquisa ou se você tiver mais aprofundamento. Por exemplo, através de uma pessoa que seja especialista no assunto, que te dê uma dica, um mentor, alguma coisa assim. Agora, se você fizer os dois, dedicar bastante tempo de aprofundamento, bastante tempo de pesquisa, você vai ter inovação radical. Aquela que cria novos mercados e novas soluções. Então, aqui está a explicação de porque o aprofundamento do olhar é importante e uma ligação também com a teoria dos modelos de negócio disruptivos, teoria da inovação e a teoria antropológica da compreensão dos fenômenos humanos sociais. Então, é tudo uma questão de o quanto esforço você quer dedicar para uma atividade. Essa pesquisa não precisa ser formal nem explícita. Às vezes as pessoas fazem essas pesquisas de uma maneira inconsciente, ou intuitiva, me dá a dizer. Por exemplo, o fundador da Palm Pilot, vocês lembram primeiro, o Personal Digital Assistant, antes de criar o PDA dele, ele ficou andando dez dias com um toco de madeira no bolso e tinha um pedaço de papel colado em cima de um toco de madeira. Mas ele sentia vontade de usar, ele anotava no papel o que ele gostaria de usar e ele perguntava para outras pessoas, "poxa, o que você acha dessa ideia aqui? Você tem alguma ideia para como usar? Se isso aqui fosse um assistente digital, o que você faria agora?" Ele ficou dez dias interagindo com as pessoas, tentando entender o papel cultural que aquele objeto teria na vida dele e na vida das pessoas ao seu redor. Uma maneira de fazer uma pesquisa, bastante intuitiva, mas que permitiu um aprofundamento na compreensão da relação pessoal que existe entre o objeto que organiza a vida da pessoa e as atividades que ela faz. Existem vários métodos de pesquisa rápida, esse que eu mencionei agora, é pouco do prototipação e diário de uso, uma mistura de prototipação com o diário de uso, isso que o Jeff Howard, acho que é o nome dele, fez. Mas eu não vou recomendar essa para essa semana, porque vocês ainda estão numa fase mais de compreensão do cenário. Eu vou recomendar essas cinco, etnografia virtual, a entrevista, shadowing, um dia na vida e questionário. Opa, questionário não. Questionário não, não faça um questionário, não quero ver questionário no grupo do BePid. Por que não? Porque está acontecendo um fenômeno desgraçado de banalização do questionário enquanto ferramenta de pesquisa. É um absurdo ver isso, é muito triste. Vejam nesse exemplo de uma pesquisa baseada em questionário feita com usuários do site Uporn. Você gostaria de que os vídeos carregassem e tocassem automaticamente quando a página carrega? Aí metade das pessoas fala que sim, mas não carrega o filme automaticamente. A metade diz sim, mas não toque o filme automaticamente. E aí 10% fala que não. Não o quê? Também fica na dúvida. Então o que um designer faz com o resultado de uma pesquisa dessa? Nada. Ele está travado, ele não sabe o que fazer. Não é um input inteligente útil para o projeto. É apenas uma ferramenta de visualização de opiniões que não leva a nada. Muitas vezes os questionários têm esse problema. Você não sabe exatamente o que é aquela informação do questionário, vai ser útil quando você estiver fazendo o projeto. E as perguntas são muito abertas, às vezes elas até induzem uma certa resposta. As pessoas acabam respondendo de maneira forçada apenas para manter a sua amizade, já que você respondeu tantas vezes as suas perguntas, os seus questionários de faculdade lá no Facebook. Então hoje está tendo um colúrnio desgraçado entre os estudantes de graduação, principalmente para responder uns aos outros as suas pesquisas. E eu não sou professor bobo que aceita esse tipo de pesquisa, questionário, porque eu sei que aquelas pessoas que estão respondendo não são público-alvo. Logo, aquela pesquisa é totalmente furada, porque você está pesquisando um público-alvo para atingir outro. Isso é furada, isso não é pesquisa, isso é enganação. Então não me venham com enganação, se quiserem fazer pesquisa não façam questionário. Outro problema, a estatística é absurda, é tipo idiota. Você pensar que três entre dez pessoas que responderam o questionário escolheram A. E o que? E se você tivesse uma população trabalhando um público de duas milhões de pessoas, três entre dez representam? Não, não representam, obviamente. Pode ter uma variação, a estatística é absurda, e aquelas três pessoas que você pegou são outliers, estão fora do padrão ali. Então, se forem fazer questionário, só pode fazer questionário se vocês tiverem o target de milhares de pessoas. Se não, não faça questionário. Faça entrevista, faça shadowing, que você, com o mesmo tempo de elaborar o questionário, tratar os dados, correr atrás das pessoas para responderem, você vai conseguir resultados mais interessantes, com o mesmo tempo de duração. O questionário, a única diferença é que ele é mais zona de conforto. Você não precisa ver uma outra pessoa na sua frente, você não precisa sair do seu escritório, você fica no seu conforto, mas você está se iludindo porque você não está aprendendo tanto quanto poderia com as outras técnicas. Não quero discutir esse assunto agora, porque a gente não tem muito tempo, mas se alguém quiser discutir depois, "Ah, professor, eu não concordo, eu tenho paciência, estou fazendo uma dissertação de mestrado, sei lá, publiquei um artigo com questionário", beleza, conversamos. Eu acho que tem as suas aplicações, o questionário, mas não para esse caso aqui. Vamos ver então dois vídeos, um do shadowing e outro de entrevista, que foram desenvolvidos por projeto da Renault Experience 2.0, projeto de parceria com Hot Milk. Esses vídeos foram gravados aqui nas regiões, nas Rondesas, com alunos aqui da PUC, que possivelmente vocês conheçam. Eu acho que esses vídeos estão inclusos na plataforma Corais, que essa plataforma aqui estão públicos, esse material todo, inclusive... Ah, está aberto aqui, tem o link na apresentação, mas está aberto aqui. Esse é o link, é uma página sobre estudos etnográficos, aqui tem, do lado esquerdo, os métodos que os estudos etnográficos trabalham, eu só estou vendo alguns deles com vocês, por exemplo, aqui no apoiamento de shadowing, você vai ver lá uma descrição textual, vai ter alguns exemplos, testinho passo a passo, alguns exemplos aí para vocês verem o vídeo lá do Renault Experience, então fica essa referência para vocês estudarem. O Corais eu não tenho tempo de explicar o que é agora, mas se alguém me perguntar "Professor, você é empreendedor, você já programou alguma coisa?" Isso aqui eu fiz tudo praticamente sozinho, não vou explicar agora, mas depois quem quiser correr atrás e ver essas referências, depois pode me perguntar mais sobre o assunto. Vamos então ver os ditos cujos vídeos. Desculpem por eu estar correndo, mas é que a gente tem pouco tempo hoje. Evidências servem para você colocar nos post-its com cores diferentes, cada um pode ser qualquer cor, mas use consistentemente. As evidências são o que você já observou, já identificou, os insights, é alguma coisa que você imaginou ser interessante, que veio à sua cabeça a partir das evidências, e as questões são as coisas que você ainda não sabe muito bem, que você quer registrar e que futuramente vai atrair novas evidências. Esse painel de evidências não é uma coisa que vocês vão ser cobrados de entregar hoje nem amanhã, é mais uma técnica que eu estou passando para vocês utilizarem se quiserem durante a semana, se quiserem organizar. Ontem eu falei que vocês já podiam começar a fazer a pesquisa do assunto que vocês definiram ainda, do Vale do Pinhão, e o que vocês já souberam vocês podem colocar em evidências as questões que vocês pretendem fazer. Eu acho que não vai dar muito tempo de vocês completarem isso hoje, porque tem uma outra atividade que eu já passei para vocês, que é a do Lego, do vídeo de Lego. Agora vocês têm... que horas são agora? 8h30. Então vocês têm uma hora e meia para...