Primeiramente, muito obrigado, André, e todos os estudantes aí que estão participando da organização de mais uma CEMEC. É muito importante esse trabalho que vocês estudantes estão fazendo de se encontrar, de se organizar por conta própria e compartilhar conhecimentos. E como já é a segunda vez que eu estou participando, né, no ano passado, eu trouxe aqui uma discussão sobre aproximações possíveis entre o pensamento projetal da engenharia, o pensamento projetal do design, como a gente poderia juntos promover mais inovação e criar coisas inoriginais, hoje eu vou aprofundar um pouco mais no pensamento projetal que a gente cultiva dentro do design. E muitas vezes é visto de uma maneira meio conceitosa, como sendo pensar fora da caixa. Às vezes as pessoas olham e falam "nossa, onde você tirou isso? O que você fumou pra ter essa ideia?" Não é bem assim, a gente tem processo, tem métodos, e eu vou mostrar pra vocês alguns desses experimentos que a gente faz no curso de design com os nossos estudantes, mas também trabalhos que a gente fez com empresas de parceria, com projetos de pesquisa e tudo mais. Então vamos lá, gente. Eu começo com esse título, que é um trocadilho, com a frase mais conhecida do "pensar fora da caixa", e eu vou falar "pensar dentro do fora da caixa". E é uma contradição mesmo, porque eu vou utilizar aqui um jeito de pensar que a gente chama de lógica dialética. A lógica dialética é uma lógica que inclui a lógica formal, que é muito conhecida nas engenharias, muito cultivada, que tem a ver com a matemática, tem a ver com definir o que são as coisas, o que não são as coisas, o que é requisito, o que não é um requisito. Mas na lógica dialética você sai transformando a realidade. Às vezes aquilo que você pensou tem que mudar, porque a realidade já se transformou. Como de Heráclito, o primeiro filósofo vai estruturar a lógica dialética. Uma pessoa nunca se banha duas vezes no mesmo rio, porque quando ela entra no rio, da segunda vez, o rio já não é mais o mesmo, e aquela pessoa também não é mais a mesma. Então essa lógica que está atenta às transformações da realidade vai ser o objetivo dessa fala, vou chegar nela no final. Começando a partir do preconceito de que design é pensar fora da caixa. Então vou tentar desconstruir esse preconceito e mostrar que ele vai um pouco além disso. Então muita gente associa esse pensamento projetual de consigo, que é como eu traduzo, o design thinking, que está bastante popular nas faculdades de engenharia, mais até que nas faculdades de design, muito interessante, associa esse tipo de pensar como uma maneira de pensar fora da caixa. Para quem já trabalha com esse tipo de pensamento projetual há muitos anos, como eu, como até os nossos estudantes de design, sabe que não dá para você pensar fora da caixa o tempo todo. Mas a gente pensa fora da caixa sim, tem momentos que a gente faz isso. Então vamos avaliar primeiro o que você tem que pensar fora da caixa e depois pensar dentro da caixa. Então pensar fora da caixa, existem vários métodos, várias técnicas que enchem os olhos de quem nunca participou de uma atividade como essa. Você não vai ser criativo quando você usar esses métodos, você vai estar criativo, você não precisa ser criativo. Isso que é interessante, como estão todas essas pessoas pensando fora da caixa, você simplesmente vai se encaixando na atividade, começa a pensar fora da caixa e você se sente mais criativo do que normalmente quando você usa um brainstorm, por exemplo, o Chupa de Ideias, o Toroide Ideias, o Poppeys, né? Aqui estão nossos estudantes de criatividade do design gráfico, verificando os diferentes impactos das escolhas deles na criatividade. Por exemplo, fazer brainstorm em pé ou sentado, faz diferença? Fazer brainstorm com roupas bizarras como essas ou sem essas roupas, faz diferença? A gente percebeu que sim, faz diferença. E quanto mais estímulos bizarros você tiver, mais as pessoas não vão se sentir dentro de uma caixa, que é uma sala de aula, dentro de uma caixa conceitual, que são as velhas ideias que são repetidas várias vezes. Isso não é uma ideia apenas acadêmica, isso é uma ideia de mercado também, né? O brainstorm é uma técnica muito utilizada. Mas o mercado tem outras técnicas mais avançadas que o brainstorm, como o GameStorm, que é uma versão do brainstorm usando jogos. São jogos que direcionam o brainstorm, essa chuva de ideias, para um objetivo específico, gerando assim resultados mais focados, também controlando melhor as participações das pessoas para que todo mundo possa falar e que as ideias entrem em confronto. Uma característica importante de qualquer jogo é o conflito. E é isso que o GameStorm faz, coloca ideias em conflito para que as ideias se tornem melhores. A gente também usa League of Souls Play com empresas, né? Que é uma maneira de você fantasiar um cenário futuro a partir do que você já conhece do cenário presente e também de combinar ideias de diferentes pessoas. A gente usou isso no projeto com a Copel, que gerou um programa de aceleração chamado Copel+ quando eu ainda trabalhava na Pugui do Paraná. Muito bacana ver profissionais que trabalham com engenharia elétrica, no caso, mas também várias outras engenharias, trabalhando, botando mão na massa, literalmente, com essas ferramentas e pensando fora da caixa. Aqui eu volto para um exemplo, um pouco mais fora da caixa ainda, que é imaginar futuros diferentes da nossa sociedade. Futuros em que, por exemplo, as mulheres não são vítimas do mesmo preconceito que elas são vítimas hoje. Por exemplo, que mulher tem que usar uma roupa específica para o corpo delas ficar de acordo com o padrão de beleza que os homens e a resta da sociedade espera delas. Nesse caso, não é só as mulheres que fazem isso. Nesse futuro imaginado, nesse cenário, também os homens tem que usar o chamado scrotian. Como vocês podem ver no teatro, tem uma participante, um estudante que está usando o scrotian, que tem a mesma função do scrotian, que é segurar aquela parte do corpo para que ela não caia no longo dos anos. E aí eles estão participando de um teatro fórum, que é um método que a gente utiliza para imaginar futuros, como se fosse um teatro. Imagina, por exemplo, uma entrevista no programa Rafael 11,5 e a inventora do scrotian vem explicar por que ela inventou isso. É uma invenção fictícia. Esses estudantes apenas estão provocando os homens a pensar sobre a disparidade de gênero, que nos afeta no nosso dia a dia hoje no presente. E o último exemplo é um, já passando para os cenários pós pandêmicos, a gente perde muito a capacidade de pensar fora da caixa quando a gente não tem um curso da presença física e de todas essas expressões artísticas que a gente utiliza quando faz a oficina presencial, mas a gente tem se esforçado com ferramentas flexíveis como o Discord, como o Mura ou também o Miro. Em caso de que estamos usando a mistura de Discord com o Miro, para pensar os desafios que o Workitiba, que é esse co-working público da cidade politiva, vai promover entre os seus associados. Desafios que têm a ver com a integração entre o terceiro setor, o primeiro setor e o segundo setor, a sociedade para que resolva os problemas sociais, um dos objetivos do Workitiba. Então, somarizando, quando uma ideia é desenvolvida exclusivamente fora da caixa, ela tem um disco muito grande de ser considerada inviada e acabar guardada em uma gaveta. Então, por isso que não pode só pensar fora da caixa, também tem que pensar dentro da caixa. Vamos então analisar as diferenças de pensar dentro da caixa. De novo, com exemplos de métodos que a gente utiliza para pensar dentro da caixa. O Value Proposition Canvas, assim como o Business Model Canvas e uma infinidade de outros canvas que foram desenvolvidos, inspirados inicialmente nesse Business Model Canvas, o chamado BMC, eles permitem que você pense dentro da caixa, não é uma ferramenta para pensar fora da caixa. Mas quando você não conhece a caixa, não sabe o que é possível, essas ferramentas são muito boas. Quando você está começando a trabalhar com a modelagem de negócios, o Business Model Canvas é excelente, é uma caixa enorme, com várias possibilidades. Se você fica perdido com essa caixa, você usa uma caixa menorzinha, que é o Value Proposition Canvas, que a gente usa muito em aulas quando vai introduzir o assunto do empreendedorismo e a modelagem de negócios. Antes de modelar um negócio, você tem que pensar na proposta de valor. Então você coloca os post-its, aqui tem uma diferença na adaptação desse método, que eu uso um marado de cartas de valores humanos, para estimular a pensar nesses valores humanos como ganhos e dores que podem ser cultivados por um negócio. Aqui nós temos uma matriz de dar e receber. Todas as pessoas que participam desse coletivo, participavam, Sociedades Solidárias, podiam representar o que eles estavam dispostos a dar ou receber os outros para gerar novas parcerias, novos projetos, novas configurações da existência desse grupo. Só que essas coisas já existiam, não tem nada novo. O problema é que nem todo mundo sabia o que cada um estava disposto a dar e receber. Quando você visualiza a caixa, é interessante porque a caixa é comum, todo mundo ali encaixotado, mas às vezes tem setores da caixa, regiões, que você não explorou, e vale a pena explorar pensando dentro da caixa. Aqui nós temos um exercício mais aprofundado de entender os mínimos detalhes de uma caixa, que é a análise da atividade, assim como o exemplo de várias outras ferramentas de análise, inclusive que são bastante populares nas engenharias, você analisar os detalhes, quais são os elementos dessa atividade, com quem ela interage, quais são os objetos que essa atividade compartilha com outras atividades. É isso que os estudantes estão fazendo antes de interferir com uma atividade de interesse deles no projeto de design. Então esse tipo de pensar dentro da caixa é útil, é importante e fundamental para o design. Porém, quando uma ideia é desenvolvida exclusivamente dentro da caixa, ela também corre risco de repetir mais do mesmo, dela ser muito parecida com ideias existentes, dela ter características muito similares ao que já existe e não ter um diferencial. Por outro lado, pode ser exatamente isso que as pessoas querem, mais do mesmo. Quando é assim, tudo bom, pensemos dentro da caixa. Agora, o interessante é quando você começa a pensar dentro e fora da caixa, ao mesmo tempo, assim é possível chegar a ter mudanças qualitativas, e não mais do mesmo. Então mais do mesmo é uma mudança quantitativa. Você mudou, sim, claro, tem mais, mas não é melhor, não é pior, é só mais. Agora, quando você quer uma qualidade nova, isso é realmente uma inovação qualitativa, uma inovação que transforma nossa realidade. Para isso, nós precisamos pensar nos limites da caixa. O que é um limite? É um lugar, um espaço, que você não está nem dentro e nem fora. Nem dentro, nem fora. Isso é um limite. Então, pensar nos limites da caixa é pensar dentro e fora da caixa ao mesmo tempo. E a caixa já começa a se mexer, só que ela reage. Às vezes ela reage com violência. Reage, às vezes abre, mas às vezes fecha e te dá um solavão. Você fica até surpreso. Também chamado de anticorpos da inovação, as pessoas que oferecem resistência, mudança, ou simplesmente os incomodados. Vamos aqui olhar como os nossos estudantes de design buscam trabalhar nos limites da caixa. Então, tem várias técnicas, uma delas muito interessante é a investigação da história da caixa. Onde é a caixa do design de sobrancelhos, para usar um exemplo que incomoda os nossos estudantes de design? Onde ela surgiu? Quem construiu isso? Com que propósito? Então, vejam, falar em design de sobrancelhos incomoda os estudantes de design, porque alguns acreditam que isso não é design. E que não há necessidade de fazer uma faculdade de design para ser design de sobrancelhos. Então, não deveria isso chamar design de sobrancelhos, chamasse outra coisa. Porém, quem começou a usar esse termo design de sobrancelhos? Não foram os acadêmicos, não foram os formados em design, foram os profissionais que faziam o trabalho legítimo, que teve um processo de aumento e complexificação, complicação das técnicas, para um nível que eles acharam que valia a pena explicar a diferença entre um trabalho de salão de beleza comum e um trabalho de design de sobrancelhos. Então, encontrar na palavra design uma maneira de visitar um projeto que existia dessa sobrancelhos. Do lado de vocês verem, por exemplo, um homem, e aqui eu estou escolhendo um de propósito para quebrar o preconceito já, sacudir a caixa de que design de sobrancelhos é só para mulheres, vejam como homens também se beneficiam. Aqui eu estou trazendo o trabalho da Simone Peitussat, que é uma design de sobrancelhos que faz esse trabalho. Olha que interessante, né? É bem sutil a diferença de uma foto. Por isso que é interessante o design de sobrancelhos, ele é um projeto muito delicado, que tem o propósito de que a pessoa, no caso, se sinta mais confiante de interagir com outras pessoas na sociedade. Porém, quando você começa a olhar criticamente para a caixa, ao mesmo tempo que você olha para a história, você começa a ver que tem caixas dentro de caixas, e essas caixas estão restringidas as pessoas a se acomodar com certos comportamentos que nem sempre elas estão conscientes. Por exemplo, todo design de sobrancelhos, eu estou generalizando demais, mas a maioria dos designs de sobrancelhos se baseia em estereótipos de como devem ser as sobrancelhos para o tipo de rosto. Então tem o sobrancelho para o rosto curvo, mais curvado, mais edudinho, como o meu, ou o sobrancelho para o rosto mais quadradão. Você tem o sobrancelho para o rosto asiático, para os olhos separados, como estou mostrando a imagem. Os olhos, asiáticos, os olhos separados, os olhos juntos. Notem que aqui nessa imagem já tem o racismo amarelo, imputido. Somente o olho asiático tem uma raça, os outros olhos parece que não tem, separados, não tem identificação de raça. Quando você fala que você não tem raça, você está sendo racista, porque a pessoa que é vítima do racismo, ela é vítima porque existe a raça, porque existe a diferença. Então vejam como dentro do design de sobrancelhos se esconde uma caixa que a gente vai se acostumando, que é o chamado racismo estrutural. A gente se acostuma, e aqui não estou falando nem do racismo contra pessoas negras, porque esse exemplo aqui é racismo contra pessoas que vêm de origem asiática. Muitas vezes as pessoas falam, por exemplo, que adiante, que eu não vou repetir aqui, mas que estão especialmente focadas na questão da forma dos olhos. E o design de sobrancelhos não ajuda a sair dessa caixa, ele ajuda a acomodar-se dentro dessa caixa do racismo estrutural. Quando a gente começa a perceber essas caixas, a gente começa a nos perguntar, como é que a gente muda isso? E aí vem pensões falando de racismo e as pessoas começam a ficar tensas, não querem discutir isso, principalmente as pessoas que não são vítimas de racismo, pessoas brancas no caso Por que a sobrancelha tem que ser desse jeito ou daquele jeito? Por que você falar que existe racismo relativo a al o que você desenha a sobrancelha desperta emoções fortes em algumas pessoas? Por que falar de design de sobrancelhas desperta a fúria de alguns estudantes de design e de profissionais de design no mercado também? Então isso aqui é um exemplo de uma exploração de uma pergunta básica do tipo qual a função social da sobrancelha? Passar a imagem a uma pessoa, chamar a atenção, entrar em grupo, expressar as emoções, transmitir sentimentos, vejam que a sobrancelha não é só uma característica biológica do nosso corpo Também é uma característica social do nosso corpo, portanto, existe o design de sobrancelhas, mas a gente pode repensar o design de sobrancelhas E se sobrancelhas fossem como bigodes, perguntaram os nossos estudantes uma vez, numa aula, vão ter novas variedades de estilo, vai quebrar o padrão de beleza A gente vai proteger os olhos, ao mesmo tempo que vão, as pessoas vão poder aceitar os seus filmes, assim como as vezes os homens ficam esmerilhando os seus bigodes Você vai poder esmerilhar a sobrancelha, ninguém vai se incomodar se a sobrancelha tá grande Então, por que a sobrancelha não pode ser assim e o bigode pode? Porque talvez tenha a ver com gênero, porque as mulheres não têm o bigode, uma maioria das mulheres não têm o bigode, então, enfim, fica uma condição desigual, não tem a mesma liderdade que os homens têm de escolher se vão ter bigode ou não vão ter Então, quando uma ideia é desenvolvida nos limites da caixa, ela pode promover a expansão, mas também pode promover a redução da caixa, como eu falei, né? As pessoas podem achar "esquece essa história de design de sobrancelhas, não existe, acabou, não queremos mais discutir isso, é a redução da caixa" Ou até pode proibir, falar que é proibido usar o termo design de sobrancelhas, se fosse a artetura de sobrancelhas seria proibido, porque o comitê de artetura, que é uma profissão já mais estabelecida, não permite que você saia usando a palavra artetura assim simplesmente, né? Então, o design não tem ainda esse nível de regulação, mas teria, com certeza, se houvesse essa regulação, eu imagino sim que as entidades profissionais não iriam deixar o design de sobrancelhas Então, isso diminuiria a capacidade de melhorar essa prática, porque os profissionais que são formados em design não iam trabalhar com o design de sobrancelhas, vocês vejam? A gente perderia uma prática que é apreciada por muitas pessoas Então tudo vai depender do conflito que vai surgir por pensar no limite da caixa E aí, vejam alguns exemplos de uma tentativa de superar esse conflito, delegando totalmente o trabalho de uma máquina, que é o aplicativo Benefit Broadgen, ele faz o meu design de sobrancelhas, ele fez automaticamente, eu tive que só marcar o meu rosto na foto, quais eram as distâncias da minha sobrancelha, a nariz e tudo mais, e aí ele calculou pra mim como eu deveria fazer a minha sobrancelha Como vocês podem ver, eu não fiz, não segui a dica, porque eu achei muito ruim o projeto, não tem nada a ver comigo, sei lá, fiquei cada dia tarde, pelo menos eu me senti assim, não achei legal esse design de sobrancelhas Mas foi interessante experimentar e ver que existe também currícia artificial, não é só inteligência artificial, em especial, na maior parte do tempo, quando você fala inteligência artificial, na verdade é uma currícia artificial que é reproduzir uma caixa, e fazer essa caixa, encaixotar outras pessoas dentro da caixa Vejam aqui o que acontece quando as pessoas realmente reagem, de tal maneira que você está no mix ali, de maneira violenta, a Sofia Hardbunter, ela resolveu parar de fazer a sobrancelha dela de minúscula, como as áreas de sobrancelhas recomendavam, em 2017 Ela adotou esse visual, chamado em inglês de Munibro, em português, espejorativamente chamamos de Monocelha, por isso eu estou usando o termo Munibro, porque é o novo estilo que ela inaugurou, e hoje está fazendo muito sucesso, ela já foi convidada a aparecer na vôo em vários lugares de sucesso, ela fez muito mais sucesso com o modelo quando ela assumiu esse visual, do que antes, quando ela escondia essa característica e essa possibilidade do corpo dela Mas ela chegou a receber ameaça de morte, gente, nas redes sociais, por conta dessa quebra do padrão, moderno pode, ter Monocelha não pode E aí, eu vou lembrar um exemplo um pouco mais antigo, mas ainda mais contundente, e também mais radical, porque era a filha da Carla, artista mexicana, não tensionou só a caixa da sobrancelha, ela também tensionou as caixas dos limites comportamentais que uma mulher pode fazer em uma sociedade que era ainda mais conservadora naquela época, em especial relativos aos hábitos sexuais O homem pode trair a mulher, mas a mulher não pode trair o homem, o homem pode ser bissexual, a mulher não pode ser bissexual, o homem pode ter quantos parceiros quiser, mas a mulher não pode ter tal parceiro, que era o caso do marido dela, ela casou, o marido também tinha as suas amantes, fora do casamento Só que ele não admitia que a filha da Carla tivesse amantes masculinos, só podia ter amantes femininos, então ela tinha esse peso sempre do marido que ela amava, que ela gostava dele, sempre na testa dela, e ele tá, enfim, em cima da sobrancelha, essa parte do corpo dela é importante E isso é uma pintura, um autorretrato, dos vários autorretratos que a filha da Carla pintou, e que ajudaram as mulheres em vários momentos a se fortalecer e enfrentar o preconceito contra a LGBTfobia, contra o machismo e outros preconceitos que a gente tem na nossa sociedade Então, muito importante esse trabalho de pensar fora da caixa e pensar dentro da caixa ao mesmo tempo no limite, mas vale lembrar, somente seres humanos podem fazer isso, tá? A inteligência é orgulhista, a artificial só pode pensar dentro de uma caixa, ela tá pré-programada com as possibilidades, e ela não vai conseguir redefinir a sua caixa Então, pra transformar a realidade, não é suficiente pensar dentro da caixa, é preciso conflitos, e esses conflitos vão construir novas realidades, né, assim como eu mostrei nos exemplos das duas modem aqui Mas é importante que não só destruam as realidades existentes, os preconceitos, as opressões, é preciso também construir, criar novas realidades, e isso a gente faz com esse trocadilho que eu desenvolvi aqui, pensar dentro do fora da caixa O que seria isso? Imagine que você tem várias caixas, e essas caixas todas estão pensando nos seus limites, se você conecta elas, a chance desses conflitos tornarem construtivos é maior Uma caixa separada de outra caixa, quando vem um conflito, às vezes há redução das duas caixas, mas quando uma caixa se conecta a outra e se fortalece nessas forças que estão tentando expandir a caixa, aí você tem uma possibilidade de transformação da realidade em várias caixas ao mesmo tempo Que é uma transformação global, uma transformação que não é só de um projeto, é de vários projetos, não é só de um grupo social, não é só de uma organização, uma empresa, mas da sociedade como um todo É bem isso que nós estamos tentando fazer, estimular aqui no curso de design As caixas que restringem o pensamento, elas têm várias origens e vários destinos, ou seja, elas não são imutáveis, a partir do princípio que a realidade pode ser transformada, ela está em fluxo, é a premissa básica da lógica dialética Uma caixa pode restringir outra, mas também uma caixa pode expandir a outra caixa, então as caixas, as pessoas, elas não são ruins Quando você fala de pensar fora da caixa, de maneira engena, como eu falei no começo da minha fala, a gente pensa que a caixa é uma coisa ruim, não precisa ter caixa nenhuma, mas não ter caixa nenhuma significa o que? Não ter base, não ter referência, não ter ponto de partida, e ao mesmo tempo significa ignorar uma caixa maior que você não está vendo, porque a gente está sempre dentro de caixa Às vezes você acha que está fora da caixa, na verdade você está dentro da caixa, uma caixa maior que você não tinha percebido, isso significa pensar dentro de uma caixa, reconhecer que você nunca está fora de uma caixa, mas também nunca está dentro de uma caixa completamente Então você está sempre em limites, né? Mas, existe limites de cada caixa, mas existe limites entre as caixas, e esse limites entre as caixas é o ponto interessante de transição para novas realidades Então significa, em última análise, tentar expandir diversas caixas ao mesmo tempo, promovendo mudanças qualitativas entre elas Eu vou mostrar uma série de projetos, os que parecem estar distantes da realidade da engenharia mecânica, mas eu vou mostrar um exemplo de projetos que quando você relaciona a engenharia mecânica com o que é feito, por exemplo, em start-ups, em organizações multinacionais, em empresas que estão pensando no meio ambiente, que estão pensando em governos, né? Começa a pensar ecossistemicamente, ou seja, pensar várias coisas ao mesmo tempo, começa a fazer sentido essa abordagem do pensar dentro ou fora da caixa Então, primeiro exemplo, bem próximo de vocês, mudadinho, nós temos vários projetos de extensão desenvolvidos por várias professoras, nem todas as professoras conheciam os projetos que cada um fazia, é um departamento que mais faz extensão dentro do TFR Então a gente fez, em 2019, um oficino de mapeamento dos projetos de extensão, que já existia, estava em curso, também, os projetos de extensão, que seriam desenvolvidos no futuro E a gente usou uma abordagem de mapeamento tanto de nível físico, emocional, afetivo, para os professores terem um momento lúdico e imaginarem realidades futuras que fossem diferentes das atuais, ou imaginarem mais integração entre os professores e entre os estudantes também Então, cada centro desse diagrama físico que a gente construiu é um projeto, tem post-it dizendo o que ele faz, tem a representação visual através desses bonequinhos de levo, e assim a gente teve uma tarde maravilhosa, demos visáveis que conhecemos E teve professores que falaram "eu trabalho aqui há 20 anos e nunca tinha descoberto tanta coisa sobre os meus colegas", porque a gente pensou dentro e fora da caixa Aqui tem um exemplo um pouco mais amplo, pensando na nossa atualidade de pandemia, Covid-19, no começo do ano passado, 2020, muitos designers começaram a postar em redes sociais e blogs propostas do que fazer a respeito da pandemia, o que o designer poderia fazer A gente mapeou durante seis meses, várias esforças, e a gente chegou a uma conclusão de que a maior parte das soluções era pontuais, não tinham essa tentativa de pensar dentro ou fora da caixa, é tudo pensando dentro da caixa E daí a gente propôs com essa pesquisa que fosse pensada mais sistemicamente, ou seja, pensar soluções lubares que integram uma coisa com a outra, então não é só usar máscara, é pensar na máscara em conjunto com janelas abertas, com ar ventilado, com poucas pessoas, com distanciamento social, com vacinação muito mais É esse tipo de abordagem que realmente permitiu que a gente conseguisse reduzir a pandemia, agora a gente sabe isso, depois de mais um ano de pandemia Aqui tem um projeto completamente diferente, que já existe mais de 10 anos, é a plataforma curais, que eu desenvolvo com vários coletivos de produção cultural, de software livre, de anarquismo, ativismo político E a gente resolveu mapear agora todas as relações que terem sido durante esses 11 anos entre os membros da plataforma e os projetos que eles desenvolvem em conjunto, eu participei de vários projetos, por isso a minha imagem parece maior que os outros, então tem mais conexões Mas tem muita gente também que a gente não conhece que às vezes é ponto fundamental entre uma comunidade e outra, são chamados brokers, aquelas pessoas que fazem a conexão entre uma comunidade e outra E a gente quer identificar essas pessoas para começar a entender melhor como essa plataforma ajudou a articular o trabalho delas Aqui tem um exemplo de um TCC, um trabalho bem mais específico, de um estudante de design que conectou mulheres que produzem café em Quinhalão, Tomazinha, aqui no norte do Paraná, com mulheres que vendem café em Curitiba, nas cafeterias, promovendo assim uma inovação para valorizar um café e o trabalho feminino Para que as mulheres não fossem visibilizadas, como acontece hoje, muitas mulheres que cafeem com todas, elas produzem café mas não vão no nome delas no robo do café, se for homem vai, se for mulher não, por causa do preconceito, que a gente está no início não Então pensar dentro do Fala da Caixa é isso, gente, é combater o preconceito através de impertenciar os limites Aqui tem mais um exemplo de Cicloartivismo, a Ciclo do Açú, uma organização de centros educativos que tem trabalhado muito importantemente para melhorar e qualificar a malha cicloviária de Curitiba, trabalhando aí com empresas e principalmente com o poder público Tem muitas atividades, muitos serviços e esses serviços alguns deles dependem de voluntariado, então eles estavam imaginando como é que poderiam se conectar melhor os interessados na Ciclo do Açú para promover e continuar esse trabalho bacana que a Ciclo do Açú faz, também o TCC aí, o Carinque de Borba, que ainda está para ser defendido Mais um TCC agora, trabalhando com fabricação digital, com impressoras 3D, CNC, mais próximos aí da Universidade de Agilia Mecânica, é o TCC do Suru, que é uma tentativa de criar um móvel modular que tem um projeto livre e aberto para qualquer um poder transformar em outras coisas, outras coisas, outros móveis É um móvel transformador que pode ser produzido por quem quiser, distribuidamente, então você pode produzir, você está em um outro lugar do Brasil, você pode produzir esse móvel modular lá Então eles começaram a mapear com esses atores do ecossistema necessários para estar engajados com o Suru, para ele ser sustentável E só para vocês não ficarem na abstração de mapas, eu vou mostrar agora o protótipo do Suru, que está bem avançado, e mostra um outro tipo de exploração da caixa, que é a exploração focada dentro da caixa, explorando justamente aquelas áreas da caixa que a gente não costuma explorar Então vejam nesse vídeo que eles estão combinando esses módulos de maneiras que não são muito convencionais para que, para explorar o espaço de possibilidades e assim descobrir diferentes configurações inimaginadas deste móvel Então vejam que ao invés de fazer um móvel fixo, um produto que faz uma coisa só ou duas ou três coisas, eles fizeram uma plataforma para criar vários módulos que fazem várias coisas Isso não é trivial, não é só fazer módulos, tem que pensar como eu mostrei, como é que o sistema vai produzir, reproduzir e transformar a realidade usando esse móvel Então, chegando à minha conclusão, à minha fala, somente seres humanos em conjunto podem pensar dentro do falo da caixa Nem um computador sozinho pode fazer isso, nem uma pessoa sozinha pode fazer isso É preciso que as pessoas estejam conectadas, estejam trabalhando juntas Dentro das escolas de pensamento e design, aquela que se dedica mais a essa coletividade é a chamada de pensamento projetual expansivo Esse pensamento projetual expansivo mais conhecido como design thinking, ele tem um modelo que a The Viscule de Stanford popularizou, que passa por cinco etapas Desenvolver empatia por um público, por um grupo de pessoas, definir o que você vai projetar, idear, prototipar e testar e repetir esse ciclo, porém esse modelo não mostra essa conscientização do individual para o coletivo Que eu mencionei que é fundamental, sem ela você não pensa dentro do falo da caixa Então agora eu vou propor, para finalizar, o meu processo, porque eu estou vendo como processo de conscientização desse pensamento projetual expansivo Isso é uma pesquisa que a gente está desenvolvendo ainda em conclusa, mas eu vou apresentar os resultados Então a primeira fase é reconhecer as caixas que restringem o pensamento, às vezes as pessoas pensam sobre coisas parecidas, às vezes completamente diferentes Então às vezes você está compartilhando uma parte de uma caixa com uma caixa de outra pessoa, cada possibilidade dessa caixa é uma bolinha branca Porque tem muitas bolinhas brancas fora de todas as caixas, ninguém está pensando naquelas possibilidades, estão perdendo aquelas possibilidades Pensar fora da caixa seria você abandonar essas possibilidades dentro e lá para fora, porque às vezes é perder alguma coisa O mais interessante é você ter que tentar entender as relações entre essas caixas, entre diferentes pessoas Porque aí começa a surgir conflitos, uma pessoa pensa diferente da outra, começa a gerar atenção e as caixas já começam a mudar de tamanho Já começa a englobar novas possibilidades, ao mesmo tempo se perde em outras Aí tem o pulgato, o salto qualitativo, quando você pega essas diferentes caixas que estão interagindo, você percebe que elas na verdade fazem parte de uma caixa muito mal Uma caixa em comum, que já era compartilhada, ninguém tinha visto que estava ali Mas quando acontece as pessoas falam "ufa", nós não estamos falando greve, nós estamos na mesma página, sim, temos algo em comum sobre o que tratar de trabalhar juntos, uma realidade transformada que é conectada, que é compartilhada E aí sim as pessoas começam a mudar de posição dentro da caixa, dessa caixa maior E aí traçam novas relações, começam a ver possibilidades que não tinham pensado que estavam fora do seu âmbito de aplicação No quinta etapa você vai repetir isso tudo só que vendo outras caixas maiores ali, você vai começar a ter um universo de possibilidades extremamente grande, muito maior Quando você começou repetindo esse processo, a gente vai ter um processo de conscientização de possibilidades, de transformar a realidade que não estavam acessíveis porque a gente estava pensando apenas dentro da caixa Mas ao mesmo tempo essa realidade também não estaria acessível se a gente pensasse fora da caixa, porque ao pensar fora da caixa você também perde muitas coisas Então, concluindo, pensar fora da caixa é fácil, difícil e mais valioso é decidir o que deve ficar dentro e o que deve ficar fora de cada caixa Essa não é uma decisão técnica, essa é uma decisão política Pensar dentro ou fora da caixa, portanto, significa fazer a política do dia a dia Não estou falando da política eleitorial, partidária, oficial, que aparece no jornal, estou falando de uma política que todos nós fazemos Cada escolha que fazemos é política que afeta as outras pessoas em volta da gente Então, essa maneira de pensar é uma maneira de mudar o mundo enquanto o mundo está fazendo parte dessa mudança, né Expandindo a consciência coletiva para que não só eu perceba que estou fazendo parte da mudança, mas os demais e ao se tornar consciente dessa mudança a gente pode se organizar para ir de acordo com um projeto coletivo Que é um projeto político, mas é um projeto que vai transformar a realidade e ser melhor para todo mundo Gente, muito obrigado por ter aqui pela atenção e agora gostaria de abrir para discussão, debate, propostas, questionamentos. Obrigado