Quem diria que eu farei uma apresentação sobre nacionalismo autêntico na Pesquisa em Design, mas cá estou eu, inspirado pela obra do Álvaro Virapinto e também impertigado com a situação que a gente vive atual no Brasil de 2022 e as discussões nacionalistas por diferentes vertentes. Uma delas é a do Virapinto que eu acho que vale muito a pena recuperar esse conceito de nacionalismo autêntico que a gente vai ver na obra do Consciencialidade Nacional. Então, como é que eu tenho pensado sobre isso dentro da minha área de pesquisa, que é o design? Enfim, essas perguntas têm constantemente aparecido na minha consciência, na minha investigação, na minha interação com os estudantes aqui da UTF-PR, a quem interessa o design, o que pode ser feito com o design e do que trata o design. Eu não vou entrar em muitos detalhes, não é o nosso foco aqui dessa disciplina, mas uma das denominações mais simplistas do que é design é ciência do projeto, é a área que pesquisa como se fazem projetos na nossa sociedade. Bom, o Álvaro Virapinto faz contribuições para ciência, tecnologia e sociedade, por isso ele está aqui nessa disciplina do PPGT, mas ele também faz contribuições bem significativas entre a relação entre ciência e projeto, e por isso que eu como pesquisador da área de design estou muito interessado na obra dele. Dentre os diversos textos que ele escreveu, o texto que mais aprofunda o conceito de projeto é, nada mais nada menos, que o Consciência e realidade nacional, mas ele também trabalha com esses temas em ciência e existência e no conceito de tecnologia que a gente já mencionou e apresentou nas outras disciplinas, nas outras edições dessa disciplina. O Álvaro Virapinto coloca que o mundo que a gente vive enquanto ser humano ele é produzido socialmente pelas nossas mãos, concretamente. A gente não tem mais o contato imediato com a natureza, porque enquanto ser humano a gente é mediação, a gente depende de mediação para viver. Essas mediações são as mais diversas, é claro que a mais óbvia é a linguagem, as suas várias linguagens, na verdade que o ser humano utiliza verbal, gestual e os idiomas, mas a técnica também é uma mediação, a ferramenta também é mediação e o design também é mediação. Então assim que eu tô lendo o Virapinto, essas mediações são fundamentais para nossa existência, porque o nosso mundo é um mundo mediado, é um mundo que a gente está colocando a nossa mão, portanto isso aqui tem a ver não só com uma questão de comunicação, isso que é uma diferença importante, muita gente vai ler o Virapinto falar que reduz tudo a comunicação, ao contrário, a comunicação ela faz parte de um processo de produção de existência, então na verdade reduz tudo a produção de existência, isso é verdade. Comunicação fazendo parte aí crucial da produção, mas não substituindo ela, não é toda comunicação que pode ser considerada trabalho, daí a discussão que a gente tava tendo agora pouco, como geral. Mas enfim, voltando à questão da relação de ciência e projeto, o Virapinto ele tem essa definição bastante interessante de que a ciência é uma autoconsciência máxima possível em cada cultura humana, então qualquer cultura tem uma forma de ciência, embora tenha nomes diferentes, isso é muito interessante num espaço nacional como o Brasil, que é pontuado por diversas culturas e diversos processos interculturais, muitas vezes violentos, que descreditam e utilizam inclusive esse descrédito da produção de conhecimento de uma cultura para justificar a colonização e o extermínio até mesmo dessa cultura. O conceito de ciência do Virapinto permite combater esse tipo de atitude, que vai desembocar numa justificativa também para a exploração do trabalho do outro, a produção de ciência é inerente a qualquer trabalho, porém devido às desigualdades sociais algumas formas de trabalho se estabelecem realmente como mais científicas que outras, nessa imagem eu trago aí esse momento de relação intercultural em que um pesquisador de fora do nosso território está, de uma certa forma, roubando um conhecimento do trabalho científico indígena e traduzindo ele para um trabalho que é considerado legitimamente dentro de uma sociedade pautada pelo imperialismo como sendo científico do que o indígena e portanto passível de financiamento público e por aí vai. O design aparece dentro desse processo de desigualdade social entre as relações de trabalho, colocando a diferença entre aquele que projeta e aquele que executa o projeto, mas principalmente entre aquele que projeta e aquele que usa o projeto, que acaba se tornando, essa é uma discussão que a gente pode ter em outros momentos mais aprofundados, estou julgando aqui a semente desse debate, que existe uma produção de subjetividade que começa a se tornar interessante para o capital na esfera do consumo e portanto o design industrial ele não é só uma proposta de adaptação dos produtos para a demanda de consumo, mas eu acredito que é para a exploração do trabalho na esfera do consumo já misturando o consumo com produção, isso é uma discussão como eu falei para a gente fazer depois, mas de qualquer forma eu vejo o design industrial ligado a essas duas coisas, a divisão do trabalho mais intensa na indústria e a necessidade de uma uma separação entre os trabalhadores de colarinho branco e trabalhadores de colarinho azul que estão no chão de fábrica, o designer acaba se estabelecendo como um trabalhador intelectual, enquanto que aquele que está produzindo o que o design definiu é um trabalhador de colarinho azul, porém eu acredito que existe também um trabalhador de um outro colarinho que seria o designer que também trabalha usando essas ferramentas que designer produziu e o capital ele vai se aproveitar dessa estrutura para se reproduzir e extrair mais valor nas mais diversas esferas aí, isso é um debate também que eu queria muito ajuda do Geraldo para repensar futuramente, eu queria desembocar nisso aqui que é uma parte central do trabalho do Vera Pinto que é a crítica a essa sociedade social nas mais diferentes esferas da nossa sociedade, primeiro essa questão que me interessa, não é projeto execução, para mim eu estou muito mais estressado e eu acho que tem muito mais diferença entre projeto e uso entre designers e usuários que vai se desembocar em outras áreas, diferença entre trabalho intelectual, trabalho manual, trabalho científico, trabalho técnico, ciência pura, ciência aplicada, ciência desenvolvida, ciência subdesenvolvida e no nível bem filosófico mais abrangente a distinção entre teoria e prática, então essa dicotomia, essa separação ela não é filosófica, epistemológica, metodológica, ela é uma distinção social, fruto, segundo Vera Pinto, de um acidente relacionado ao capitalismo e a usurpação digamos de uma política existencial de todo ser humano, todo ser humano faz os dois lados, a partir do momento que uma elite se apropria de um lado e fala nós temos o poder sobre isso e a hegemonia e esse lado aqui passa a ser desvalorizado, basicamente essa é uma das teses principais acerca do trabalho em relação do trabalho com cultura, com educação e com o projeto que é a disciplina que me interessa, enfim, para superar essas dicotomias a sugestão do Vera Pinto é incluir a condição existencial do pesquisador, da pesquisadora na investigação, então aqui está o próprio Vera Pinto fazendo parte de processos de articulação da consciência nacional, fazendo parte do Isebi e nesse caso dessa foto recebendo a visita do Jean Poulsartre que traz, desenvolve um existencialismo com algumas das pessoas marxistas, mas não, certamente não marxista, o Vera Pinto vai fazer uma leitura crítica do trabalho do Sartre, o Freire vai continuar esse trabalho e eles vão fazer essa leitura crítica porque tudo o que o Sartre fala não exatamente corresponde à realidade existencial de um pesquisador, um filósofo no contexto subdesenvolvido brasileiro, então ele vai considerar a condição dele muitas vezes na obra, isso tem inspirado muito, então junto com Geraldo a gente tem feito parte de movimentos de combate, esse desmonte da educação brasileira, o desmonte da pesquisa, então o Vera Pinto tem me estimulado também a incluir isso como parte da pesquisa e não fazer isso como uma atividade separada, digamos, da pesquisa, então essa condição existencial é meu ponto de parte definitivo para as minhas investigações desde então no design e graças em partes pela atividade do Vera Pinto. Aqui só um dado que vocês já estão possivelmente cientes de que a ciência brasileira tem recebido cortes fenomenais nos últimos anos, nós estamos com orçamento aí similar ao que era 20 anos atrás, numa época que já tinha um governo do Fernando Henrique Cardoso que não estimulava muito a pesquisa, mas a gente está numa situação tendendo a ficar pior do que estava na época. E se a gente reconhece que a nossa condição é subdesenvolvida, nós não podemos tentar fazer a mesma ciência que as metrópoles coloniais, nós temos que debustar sobre os nossos problemas, os nossos povos, como a fome, a miséria, a desigualdade de renda, desigualdade racial, desigualdade de gênero, são questões do nosso povo, porque se a gente deixar o pensamento que vem de nós para dominar, quer dizer o metropolitanismo, um termo legal e também alternativa à colonialidade que existe hoje na discussão pós-moderna, o Vera Pinto já colocou esse termo em 1960, 70. Ele nos leva a pensar que as soluções para nossos problemas estão sempre em outro lugar, em outro tempo, mas nunca aqui e agora, então a solução para fome no Brasil é o transgênico. A gente já tem mais de 10 anos de transgênico no Brasil e não resolver a fome, pelo contrário, piorou, então a gente poderia ter um outro caminho de atacar esse problema da fome aproveitando as nossas ciências, ciências essas que levaram a seleção e aperfeiçoamento de diversas sementes que se adaptam a diferentes climas, diferentes solos, diferentes condições, isso é uma beleza, digamos, que a gente ainda tem na América Latina, uma diversidade de maneiras, de técnicas de produção de alimentos para o consumo humano que a gente às vezes acha que não é suficiente, que não é interessante, que não vai dar em nada, que não tem capacidade de fazer em alta escala. O Vera Pinto nos convida a olhar para essas ciências e a partir dessa ciência subdesenvolvida, nos desenvolver de um jeito que faz sentido para nós e não simplesmente importar de fora. Bom, eu tenho vivido esse confronto desde a minha defesa de tese de doutorado em 2015, que foi baseada em pensadores do norte, pensadores europeus, como falei, teoria da atividade, design participativo e são pensamentos, são fundados no pensamento eurocêntrico, mas enfim, pelo menos tem a base da lista de origem, que a gente pode dialogar a partir do Vera Pinto, desde que eu voltei em 2015 para o Brasil, tenho me dedicado a uma contradição específica que está na ordem do dia, que é a opressão e tentando posicionar o design dentro dessa discussão, como que o design oprime, como que liberta e aí a gente não pode deixar de passar pelas manifestações de um nacionalismo que o Vera Pinto é inauthentico, aparecendo na produção do design bolsonarista. Temos tentado construir com os nossos estudantes no design visões alternativas de coletividade, em 2019 a gente teve uma disciplina experimental chamada projetos para pessoas, com a Gabriela participou, ela está em uma imagem, não sei. Aqui, ó, Gabriela, aqui ó. Gabriela produzindo um manifesto, um design politizado e o interessante é que a gente fez uma descoberta muito bacana nesse, ao construir esse manifesto, que é uma formação de um, de corpos coletivos, como uma base para pensar o design que não é feito só por uma pessoa, por um gênio, por uma pessoa que tem um viés criativo, um dom criativo, mas um design que é feito pela massa, para a massa, com a massa, ou design feito dos oprimidos, para os oprimidos, com os oprimidos, né, com o objetivo de libertar. A gente começou a ver que tinha que repensar quem faz o design para a gente poder discutir libertação. E a gente fez vários estudos depois disso, né, e acabamos escrevendo um manifesto chamado Manifesto em Design de Senso, que posiciona o design dentro do debate político nacional, mas que tem também uma proposta estética de quebrar com as regras do design termo. Todas as regras, basicamente, foram quebradas nesse, nessa expressão visual. O interessante da história dele é que ele foi projetado coletivamente por todos os estudantes que estavam escrevendo, 20 estudantes ao mesmo tempo, escolhendo qual seria a fonte, qual seria a cor, qual seria a imagem, e ninguém se posicionando como um líder revolucionário que dita o que os outros têm que fazer. Justamente, a partir do diálogo, a gente se constituiu, digamos, enquanto um coletivo, e por isso que esse manifesto se chama de Senso, né, porque ele é uma apologia a essa diversidade, mas ainda assim uma afirmação de que a democracia se faz no de Senso e que ele é saudável e que a polarização política que a gente estava vivendo naquela época, 2019, ela poderia ser feita dentro de um âmbito democrático em que existe respeito. A gente estava tentando recuperar esse âmbito democrático fundamental, né, que democracia não é você falar só com aquelas pessoas que concordam com você, é justamente você poder ter um debate respeitoso que não vai resvalar na violência, no extermínio do diferente, que era o problema que a gente via na esfera pública brasileira na época. Esse manifesto teve muitos desdobramentos, mas talvez o mais importante foi o estímulo para a reflexão do laboratório de design contra opressões em 2021, que é um projeto de extensão que possivelmente vai se transformar num grupo de pesquisa em breve. Nós temos alguns professores e estudantes trabalhando toda semana em repensar as bases do design a partir de autores como o Álvaro Virapinto, autores como o Paulo Freire, mas não só as bases filosóficas e conceituais, mas também, principalmente, as bases estéticas e as bases formais pelo qual a gente produz o projeto. Então, nesse caso, a gente fez aí uma oficina de restofamento das cadeiras da nossa sala, que fica no subsolo, a gente convida quem quiser aparecer toda quinta-feira das duas às três, a gente está fazendo uma reunião aberta que a gente chama de "batibumbo", a gente faz uma atualização dos nossos grupos de trabalho, a gente tem um processo de autogestão inspirado pela personalidade e na experiência da TechSol, a professora Malinene e as colegas dela foram muito influentes na formação do lado, a gente tem vários estudantes que passaram por lá e agora estão com a gente e a gente faz projetos juntos com a TechSol também e tem outras relações com vários outros projetos, mas eu quis destacar esse das cadeiras aqui, porque aqui a gente está tentando pensar uma produção nacionalista brasileira que não é bolsonarista, que não é ufanista, que não é brasileiro, então essa discussão toda sobre consciência crítica que a gente vai ter nessa disciplina, ela também se desdobra numa discussão estética, numa discussão formal, numa discussão ética dentro do design no âmbito da graduação, no nível em que o estudante, claro, ele não vai ler o Virapinto diretamente, mas a gente está provocando eles a pensar sobre as questões que o design nos traz. A gente tem artigos científicos também desdobrados dessa discussão, acho talvez a contribuição mais relevante até agora a partir do Virapinto foi esse artigo sobre a opressão do usuário, o que a gente está chamando de maneira mais popular de usuarismo, que seria uma opressão específica em que o design está implicado, que leva a uma negação da manualidade do outro como se ele não pudesse lidar com a tecnologia, porque ele é burro, porque ele é incompetente, porque ele é capaz, então o design tem que simplificar, tem que colocar o usuário dentro de uma caixinha, os estudos de CTS já chamam atenção para isso há muito tempo, até acho que talvez um nome bem interessante também para dialogar com o Virapinto nessa área do design, seja o nome do, agora me falem na memória, mas a teoria da caixa preta, você lembra? Vilen Flusser, o Vilen Flusser e o conceito de usuário dele é bem parecido, é uma questão de conceito crítico, de qualquer forma a gente tem publicado várias coisas nessa, inspirado no... Vilen Flusser, é brasileiro? Brasileiro e tcheco também, ele é originalmente da tcheca, da tcheca zlovaca, enfim, professor Gonzato lá da PUC tem sido meu parceiro de leitura do Virapinto há muitos anos, a gente tem vários artigos inspirados no trabalho dele e no condo design e a gente quer aprofundar essa discussão porque segundo o Virapinto, pesquisadores podem negar suas origens e servirem a outros corpos coletivos como outras nações, nação é só um tipo de corpo coletivo, a organização, instituição é outra, mas essa não é uma atitude moral que a gente considera como consistente, coerente, na construção de subdesenvolvimento pesquisadores deve se identificar com o povo e com o povo criar projetos de pesquisa libertadores, assim o trabalho científico pode contribuir para um país mais consciente das suas ciências, das suas culturas, de seus mundos, enfim, de quem somos enquanto nação, então é assim que a gente está vendo o nacionalismo dentro do Virapinto, é uma leitura que não vai resvalar, digamos, num ufanismo, a gente não esteja sendo uvanista e justamente essa leitura do consciencialidade nacional é possivelmente vai nos ajudar a levantar mecanismos para evitar que haja uma uma leitura ingênua do nacionalismo no campo do design e outras áreas que vocês atuem para ele. Gente, passou.