Formativa e Pesquisa Participante. Bom, a origem dessa abordagem está na origem da própria ciência sociais. A primeira grande levante, força nas ciências sociais foi o positivismo, que abordava ciências sociais como se fosse uma ciência natural. Existia um ideal, digamos, que seria possível estudar seres humanos no seu estado, entre aspas, natural, buscando as leis invariantes. O positivismo era uma crença de que as ciências sociais poderiam contribuir para o progresso da sociedade, descobrindo as leis naturais que organizavam os seres humanos antes de eles estarem envolvidos na sociedade que os corrompe. Uma ideia um pouco idílica do pacífico selvagem. E se você entendesse a lógica desse pacífico selvagem, você poderia projetar uma sociedade com leis, com normas, com processos, com políticas que iriam fazer essas pessoas contribuírem somente com ações construtivas para a sociedade. Na nossa bandeira nacional, imagino que todos devem ter na cabeça, ordem e progresso é um dos lemas do positivismo. Uma coisa que não está óbvia na ordem e progresso é "se tiver ordem, haverá progresso". É isso que quer dizer. Então, primeiro você tem que ter ordem, para depois ter progresso. A ideia é de que progresso só vem através da ordem. Na desordem, o caos, não vai dar progresso, porque isso não é natural, segundo o positivismo. Então vamos lá, o positivismo é o moruco baca da ciência, mas a gente está há alguns séculos já tentando se livrar dessa crença. O que o positivismo resultou, digamos assim, de maneira prática? Qual foi o efeito principal? A crença de que o método experimental é possível de ser aplicado nas ciências sociais e ele é superior a qualquer outro método de investigação nas ciências sociais. Resumindo, esse método surgiu na medicina, ele reduz o ser humano total a uma doença e aí você ataca essa doença isolando as variáveis. Então, redução do fenômeno a variáveis que podem ser mensuradas e isoladas. Aí você tem dois tipos de variáveis, a variável dependente, que é aquela que você vai controlar com o seu experimento, que você vai focalizar. E aí, a variável independente é o resultado que você vai mensurar. Então você vai tentar descobrir uma ca... ou verificar uma relação de causa e efeito entre a variável dependente e a variável independente. E para mostrar que essa variável dependente de fato causa a variável independente, você elimina ela, a variável dependente, num grupo experimental. Desculpa, num grupo de controle, que tem um estímulo placebo ou nenhum estímulo. Que é a pessoa que vai tomar ali a bolinha de remédio que não tem nada, que é de farinha, e outro grupo vai tomar a farinha que tem o princípio ativo, e esse grupo vai ser o grupo experimental, então o que vai tomar o grupo de farinha é o grupo de controle chamado. Então essa visão da psicologia, do método experimental clássico, foi aplicada primeiramente na psicologia experimental. Pavlov, o primeiro a executar alguns experimentos com animais, tiveram resultados consistentes, e ele descobriu o princípio do reflexo condicionado. Se você alimentasse um cão, sempre no mesmo horário, aí você começasse a tocar uma campainha antes de alimentar o cão, o cão não faria sentido nenhum daquela campainha, quer dizer, não tem relação nenhuma. Agora, se você faz ao mesmo tempo que você dá a comida para o cão, você toca a campainha e você faz isso com bastante tempo, o cão passa a associar a comida, a gratificação, melhor dizendo, da fome dele, ao som da sineta. E quando você bate a sineta sem a comida, o cão demonstra sinais de excitação, de fome, ele começa a produzir saliva, sem ter o alimento ali presente. E aí surgiu, obviamente, a pergunta, será que isso é passível de ser aplicado a seres humanos? Você pode ter um reflexo condicionado e condicionar as pessoas a terem comportamentos melhores, superiores, para uma sociedade melhor, uma sociedade perfeita. Mas isso é a crença positivista. Então, eles tentaram fazer isso em bebês, um bebê, na verdade. Esse experimento do Little Albert, o pequeno Albert, ele tinha a seguinte premissa, se a gente... tentaram, na verdade, antes de fazer esse experimento com bebê, tentaram com adultos, e não funcionou, falhou miseravelmente, porque as pessoas não se condicionavam do jeito que o pesquisador esperava que fosse condicionado. Aí esses dois pesquisadores, Watson e Rayner, que foram os fundadores do behaviorismo, eles falaram assim, vamos fazer isso com criança, porque a criança ainda está em um estágio parecido com o do animal, ainda não tem muitos significados, não tem muita capacidade de significar aquela situação e vai agir por reflexo. Então, fizeram um experimento em que eles mostravam animais estranhos, como macaco, lebre, animais que tinham pelos, cachorro, e botavam cachorro bravo para a criança, e a criança nem tinha um. Aí eles pegaram e faziam a mesma coisa, só que batendo uma lâmina de metal atrás dele com um martelão. "Bleeeem!" Ao mesmo tempo que eles mostravam o animal, eles falavam "Bleeeem!" atrás do neném, e obviamente o neném se assustava, né, e chorava. E aí depois que eles tiraram o "Bleeeem!" atrás do bebê, de fato o bebê sentia, dava essa mesma reação de medo, de desespero, quando ele via os animais com pelo. E aí eles falavam "Pronto, está provado que o reflexo condicionado também é possível entre seres humanos." Essa conclusão veio de um dos experimentos que é considerado um dos mais antiéticos da pesquisa das ciências sociais hoje em dia. Na época, eles foram considerados uma boa, uma descoberta bem interessante. Algumas pessoas criticaram, outras não. Hoje em dia, a psicologia guarda isso nos seus arquivos da história, digamos assim, que ela gostaria de não ter acontecido. Esse tipo de pesquisa hoje em dia não é possível de ser executada. Nós temos comitês de ética que barrariam, digamos assim, a própria sociedade como um todo, iria ostracizar, digamos assim, pesquisadores que tomassem uma dessa atitude. Já na metade do século XX, já começam a ser executados esse tipo de experimentos controlados, clássicos, com grupo de controle, para a otimização de práticas de trabalho, muito influenciados pela administração científica do Frederick Taylor, que propôs que as pessoas, que os princípios científicos poderiam ser aplicados à gestão de uma fábrica e a aumentar a produtividade, definindo processos de trabalho e ambientes de trabalho mais propícios para os trabalhadores, do ponto de vista dos gestores. E um dos estudos que mudou um pouco essa trajetória, que demonstrou que essa abordagem não era uma abordagem tão científica assim, quanto estava sendo propalada, foi o estudo numa fábrica na General Motors, eu acho, da General Electric, não me lembro agora, é General Electric? Que pesquisou qual seria o efeito da iluminação sobre o comportamento dos trabalhadores de diferentes áreas da fábrica. Então, tinha lá um grupo que tinha uma iluminação antiga, já que já estava lá, e um grupo experimental com uma iluminação maior, para você ver melhor o que você estava fazendo. E eles achavam que, a hipótese era que haveria maior produtividade se tivesse maior iluminação. E o resultado foi que tanto o grupo experimental como o grupo de controle, que não tinha iluminação extra, aumentaram a produtividade. Aí a conclusão dos pesquisadores foi o seguinte, que o fato de você observar um ser humano, ou observar um grupo social, em si já afeta o comportamento dessas pessoas. Então, o pesquisador não consegue, mesmo que ele não esteja lá, porque nesse caso, o pesquisador não precisava estar lá para poder mensurar isso, bastava você controlar as variáveis do ambiente e mensurar os outputs, os resultados produtivos. Mesmo nessa situação, você tem uma modificação do ambiente causada pelo pesquisador, que interfere no fenômeno. Esse efeito Halter, como ficou conhecido, gerou uma preocupação, e antes dele, outros experimentos parecidos com esse, levaram os pesquisadores das ciências sociais a pensar... Gente, a Uruc Baca aqui está terrível. Não é possível essa sala aqui estar... Pesquisadores a pensar maneiras alternativas de estudar fenômenos como agência humana, a capacidade de agir, de uma maneira que ela não fosse negada, que não fosse eliminada do experimento, sem reduzi-la metodologicamente a variáveis, como a gente estava discutindo até agora. Um dos primeiros psicólogos a pensar nisso foi o Lev Vygotsky. Ele não é tão conhecido assim no Ocidente, em especial, acho que no Brasil ele é mais conhecido, mas de um modo geral ele não é conhecido muito no Ocidente, porque os livros dele só ficaram acessíveis para as nossas línguas a partir dos anos 80 e 90. Mas ele elaborou um método de dupla estimulação por volta dos anos 30, e esse método é um pouquinho diferente do método pavloviano de estimulação única, porque ele dá um estímulo auxiliar extra, que serve para você lidar com o primeiro estímulo. Então o foco do experimento de dupla estimulação não é o efeito do primeiro estímulo sobre a pessoa que está participando, o participante, mas sim o efeito do participante sobre si mesmo. Como ele se apropria daquele primeiro estímulo dá sentido, eventualmente usando a ferramenta que foi lhe fornecida para criar uma reação que vem da sua própria vontade. E aí você estuda do outro ponto de vista, digamos assim, num ponto de vista em que o participante é a origem da capacidade de agir, não o pesquisador que faz a situação de controle. Então o reflexo não é condicionado pelo pesquisador, mas sim criado pelo próprio participante, a partir do processo de significação dos estímulos. Ele não nega que exista reflexo condicionado, mas ele diz que o reflexo condicionado só funciona para as partes psicológicas mais inferiores, tem a ver com a nossa sobrevivência, que foi demonstrado ali com o caso fatídico do pequeno Albert. Mas ele diz que para funções complexas na mente já não funciona o princípio de estimulação única, aí você tem que trabalhar com o princípio de estimulação dupla. Um colega do Ligotzky da mesma época, Kurt Lewin, inclusive eles se correspondiam, o Lewin na Alemanha, o Ligotzky na Rússia, ou na União Soviética na época, ele pensava de maneira similar de que o conhecimento científico que era desenvolvido nas ciências sociais deveria ser aplicado, quando eu falo em ciências sociais aqui eu estou colocando psicologia no meio, é como normalmente no inglês se fala, no Brasil ciências sociais é mais restrito a sociologia e antropologia, mas eu estou usando o termo geral. Talvez no Brasil, às vezes a palavra ciências humanas é usada para isso, mas eu vou usar porque eu estou mais acostumado com esse vocabulário. Não que eu ache que nenhuma das opções seja melhor, só por uma questão de costume mesmo. Então o Kurt Lewin falava o seguinte, que a gente desenvolve muitos conhecimentos interessantes nas ciências sociais sobre comportamento humano, mas a gente aplica muito pouco em problemas sociais relevantes. Então a gente pode levar através da pesquisação uma proposta de participar das mudanças sociais. Ao invés de você apenas estudar a mudança, você é um participante daquela mudança. Então você coloca o seu conhecimento científico, digamos assim, as generalizações que você tem, ou enfim, a própria participação do próprio pesquisador na solução do problema, como uma contribuição àquele espaço e você avalia o processo de mudança com essa perspectiva de dentro. O objetivo da pesquisação, e um escopo talvez um pouco mais reduzido, é que ela ao invés de falar sobre as variáveis ou as características gerais do comportamento humano, ela fala sobre características do comportamento humano em problemas específicos. Então, no caso, um exemplo que ele estudou, deu como exemplo para explicar a primeira vez o que era pesquisação, foi a participação de minorias no governo, nas decisões de planejamento de um determinado estado, conecticut nos Estados Unidos. Então ele observou encontros interraciais, de pessoas com cores de pele diferentes, tentando decidir políticas públicas para reduzir o racismo naquele estado. E os pesquisadores do time do Curt Lewin foram lá e fizeram parte desse processo de mudança, facilitando e também observando como era antes dessa intervenção e como é que se tornou depois dessa intervenção. A palavra intervenção ainda não era utilizada pelo Curt Lewin nessa época, só estou usando aqui para fins didáticos. Outra pessoa que foi fundamental no estabelecimento de uma visão alternativa da pesquisa muito longe do positivismo, o Paulo Freire, nosso patrônio da educação brasileira, ele partiu do princípio de que o conhecimento científico não era melhor do que o conhecimento popular que as pessoas tinham. Ele era diferente, ele podia ajudar as pessoas a se emanciparem de condições opressivas, mas ele não era melhor. Então você tinha que primeiro partir daquele conhecimento popular para promover alguma mudança relevante. Ao invés de você, diferente da pesquisação, em que você traz o conhecimento da ciência e aplica num contexto, aqui você parte do que as pessoas já conhecem naquele contexto e você aproveita e conecta e até cria uma espécie de conhecimento híbrido popular e científico para promover mudanças naquele grupo social. E quem define o rumo dessa mudança são os participantes, daí vem o nome pesquisa participante, ou às vezes também chamada de pesquisa ação participante. Ela é uma oportunidade de aprendizagem para todos, inclusive para o próprio intervencionista, o pesquisador, porque ele não conhece essa cultura popular e não sabe eventualmente das dificuldades e das histórias de vida que aquelas pessoas trazem naquele processo. E os exemplos de pesquisa participante que o próprio Paulo Freire não usa esse termo no começo, quem vai dar esse nome pesquisa participante vão ser pessoas que vão olhar para o trabalho dele, vão atribuir, digamos assim, o crédito do pioneirismo do trabalho dele, por estar trabalhando com pessoas como camponeses, depois ele vai trabalhar com bancários, por aí vai. Pessoas que não tinham acesso a sistemas de educação mais organizados ou que valorizassem, digamos assim, o conhecimento que eles tinham. E aí ele vai promover a mudança, principalmente na leitura do mundo, não só ler as letras do texto, mas utilizar o texto para ler o mundo. Em 1973, começa na Europa um movimento de apropriação do trabalho do Paulo Freire e de outros latino-americanos, não vou citar nomes aqui, mas existem vários outros pesquisadores que estavam trabalhando de maneira parecida com o Paulo Freire, até pelo contexto que a gente vivia de crescimento de uma abordagem de esquerda nos anos 60. E esses pesquisadores europeus inspirados nisso começaram a fazer coisas parecidas lá. Um deles foi, estava o nome errado, é Alain Touraine, o nome, acho que repetiu aí o Paulo Freire, a gente gosta tanto, aí acaba copiando. Alain Touraine, o nome desse pesquisador, ele cunha o termo intervenção sociológica, em que o pesquisador tem o objetivo de elevar a consciência dos participantes sobre a origem de sua condição social e também sobre as possibilidades de transformação. Então ele fez um trabalho com os estudantes que estavam em greve, naquela época de bastante agitação na França, e ajudou os estudantes a entender que aqueles problemas que eles tinham na sala de aula com o professor, que eventualmente era autoritário, era fruto de um sistema, na verdade, educacional e um sistema capitalista de produção. E a partir disso o movimento estudantil pôde tomar ações mais calcadas na realidade, não somente numa abordagem imediatista, digamos assim. Inspirado no movimento da intervenção sociológica, que cresceu e se diversificou bastante, esse termo hoje é usado para várias coisas diferentes, inclusive pessoas que não concordam com a abordagem do Alain Touraine usam o termo intervenção sociológica, o psicólogo Yuri Engström, ele retoma a tradição do duplo estímulo do Vygotsky e também entende que essa intervenção sociológica pode ser aplicada ao estudo de organizações. Numa área que é conhecida como uma espécie de sociologia das organizações, sociologia da administração, que é os estudos organizacionais. Ele cria uma toolkit chamada laboratório de mudanças para aplicar intervenções formativas, como ele chama, em diversas empresas e instituições. Esse nome formativa ele usa para diferenciar de sociológico, mas para fazer a conexão, porque na formativa a ideia é que você constrói alguma coisa, você forma algum tipo de estrutura, algum tipo de ferramenta como objetivo. Não somente elevar a consciência, mas formar um novo tipo de organização. Ele é finlandês? Finlandês, isso mesmo. Eu tenho uma postila que eu consegui lá em casa, como é que se diz, meu computador, sobre essa teoria, ela é muito, muito interessante. Ela é uma teoria, a teoria dele, na verdade, eu não mencionei, se chama aprendizagem expansiva. Foi traduzida recentemente a tese de doutorado dele para o português. É uma edição bem limitada, difícil de conseguir esse livro, então se vocês quiserem dar uma olhada. É o pessoal do Rio de Janeiro também, ele veio da Molde São Paulo. São Paulo. Ele veio ministrar um curso sobre o laboratório de mudanças e aí eles traduziram o material dele. O grupo dele tem uma conexão muito forte com a Universidade de São Paulo. E volta e meia os pesquisadores de Helsinki vêm dar cursos aqui na Universidade de São Paulo, na USP. E tem alguns egressos de lá, uns doutores que vieram de lá e estão hoje atuando em universidades brasileiras. Então está tendo um movimento assim. Eu não fiz o doutorado em Helsinki, eu fiz o doutorado na Holanda, mas eu tive a oportunidade de ficar três semanas fazendo o curso sobre intervenções formativas com o próprio Engström e o time dele. Então me marcou bastante e me ajudou também a sair numa dificuldade muito grande, que era como fazer uma pesquisa abertamente ideológica dentro da engenharia. Mas depois eu vou falar um pouquinho sobre isso. Então vamos lá, vamos ver os detalhes da intervenção formativa que é o foco dessa oficina. A gente viu um contexto, agora vamos falar, isso aqui provavelmente o pessoal do CREITO não vai gostar muito do que eu estou falando, mas eu, após observar a situação lá e ver que era um grupo de estudos extremamente bem sucedido, com muitos pesquisadores, com bastante recurso, eu fiquei me perguntando como é que pode. E comecei a estudar e olhar coisas que às vezes eles não falam muito claramente. O próprio Engström recebendo ligações telefônicas a todo momento e ligações que ele exportava como se fosse um prestador de serviço. Então, enfim, percebi que, na minha visão, posso estar errado, que o CREITO é uma espécie de um instituto que mistura pesquisa com consultoria, alia isso. Então você tem organizações em crise que buscam e ficam conhecendo as pesquisas e a abordagem que eles têm, o laboratório de mudanças e a teoria da aprendizagem expansiva. Esses institutos às vezes são financiadores, às vezes não são financiadores, mas ajudam a obter um financiamento para pesquisa sobre organizações em crise. Então as propostas de pesquisa deles vão nesse sentido. Aí eles vão lá, fazem um estudo de caso da intervenção que eles elaboraram, que eles desenvolveram com a organização. A organização tem um resultado de transformação ali dentro facilitado, digamos assim, e eles têm uma generalização do que eles viram, e essa é a parte que eu acho que eles são fantásticos e que o motivo pelo qual eles conseguem ser relevantes tanto academicamente quanto profissionalmente, quanto no mercado, melhor dizendo, é porque eles generalizam a partir da teoria da atividade. Então todos os pesquisadores lá usam a mesma teoria. Essa é uma teoria muito completa, tem muita coisa, digamos assim, abarcada por ela, e por isso eles conseguem, cada um tem um foco específico, e fazer contribuições científicas que são reconhecidas, bem respeitadas em grandes periódicos internacionais. A teoria da atividade, o que permitiria de usar, replicar a mitologia? Sim, mas o principal ponto é das descobertas. Pode voltar lá um pouquinho? A descoberta que eventualmente você tem, quando você faz um estudo de caso de intervenção formativa, você chega à conclusão de que as pessoas mudaram. Como mudaram? O que mudaram? Por que foi assim? Essas são perguntas que a teoria da atividade ajuda a responder. E aí quando eles respondem essa pergunta daquele caso, essa resposta pode servir para outros casos. Então é generalização via teoria e não direta a partir dos resultados. Não quer dizer que uma situação parecida vai dar o mesmo resultado, mas se houver aquele conceito teórico em uma outra situação parecida, pode ser que o resultado seja similar. E é que os participantes, quem é sujeito investigado, é o sujeito que participa, ele já vai se formando e já vai fazendo a intervenção no processo. Perfeito, é uma mistura de formação, porque você está se formando. Com pesquisa e com ação. Exatamente, exatamente. Já vai fazendo a mudança organizacional. E o que você aprende, digamos assim? Você aprende aquilo que não existe ainda. Essa é a teoria dele. Aprendizagem expansiva por quê? Porque expande os limites do conhecimento. Então você aprende o que não está lá, ele fala. "What's not yet there". O que ainda não está lá. E o que não está lá? Uma coisa que você precisa criar. Então ele enfatiza aqui as pessoas, o tipo de aprendizagem que você sai ali, digamos assim, a lição moral da história que você aprende por participar de um laboratório de mudança é que você tem que estar sempre preparado para aprender coisas novas que ainda não existem. Ou seja, precisa ter um time que tenha capacidade de colaboração para lidar com essas mudanças que são inesperadas, digamos assim, de contexto, de condições, e aí vai. Esse é um exemplo de uma intervenção formativa baseada em laboratório de mudanças no Hospital Estadual de Bauru, feita pelo pessoal lá da USP. Almeida, Vilela, Marco Queirol. Eles ainda não publicaram, acho, esse resultado, mas isso aqui já apareceu no site lá da Universidade de Helsinki, no Cradle, no site deles. E eles fazem esse tipo de intervenção em vários tipos de organizações. Aqui eu estou mostrando o hospital, porque a área de saúde é uma área que ele já tem uma concentração muito grande. Mas existem, eu já vi casos deles fazerem intervenção em planejamento rural, intervenção em... - No exemplo ali, tinha sido existindo... - Isso, isso. Fábricas. Vários, vários, vários contextos. Os princípios metodológicos que estão no artigo aí que eu passei como referência para vocês darem uma olhada, que o Engstrom apresenta esse método, são o seguinte, o ponto de início é sempre uma problemática complicada que não se conhece de antemão por completo. Então ninguém sabe exatamente qual o problema, mas as pessoas sabem que a organização está em crise. O processo da intervenção começa com um pesquisador provocando os participantes, no começo ele vai dizendo como que eles vão agir no processo de mudança, mas com o tempo ele vai sendo questionado pelos participantes e ele vai transferindo essa agência para os participantes levarem o processo para onde eles quiserem ir. Então tomarem, digamos assim, o controle da intervenção. O resultado, no momento, é a criação de um novo conceito que vai ajudar a lidar com a problemática, esse conceito pode ser implementado através de uma ferramenta ou de um documento ou de algum tipo de resultado tangível. Por isso que eu falei que ela é formativa, ela forma alguma coisa. Além das próprias pessoas. E o papel do pesquisador, como eu falei também anteriormente, provocar os participantes e sustentar a participação no processo. A palavra facilitador, às vezes, é utilizada. Eu gosto muito da palavra complicador, mais do que de facilitador, porque eu acho que no laboratório de mudança, muitas vezes, faz as pessoas se confrontarem e passarem por situações de conflito. E o processo de descoberta, ele envolve um vai e vem entre perguntas, hipóteses, interesses, observação, entrevistas, oficinas, insights, necessidades, ideias, conceitos, o momento de compartilhar descobertas, a cocriação, interpretação, análise de dados. Então você fica nesse vai e vem, isso aqui é um diagrama meu, uma interpretação, digamos assim, do como é que é uma intervenção formativa na prática. Até porque você não vai encontrar um artigo do Engelstrom falando de etapa 1, 2, 3 e 4 de uma intervenção formativa. Por quê? Porque ela não é linear. É um processo bastante complexo que deve ser primariamente seguido a regra da adequação para a situação específica. Então se naquela situação faz sentido levantar perguntas, levantamos. Se não, a gente faz interpretação de dados. Se não, a gente faz isso aqui. Então você vai seguindo, digamos assim, o rumo muito próximo da situação. Vamos falar sobre o laboratório de mudança, que é um toolkit, uma ferramenta para intervenção formativa, mas não é a única. Eu vou mostrar para vocês depois algumas intervenções que eu fiz que não são baseadas em laboratórios de mudança. Na verdade, eu nunca fiz. Laboratório de mudança Apes, Slitters, como está aqui, eu nunca fiz. Depois eu vou explicar por quê. Mas, metodologicamente, ele funciona assim. Isso aqui senta os participantes em U, como a gente está sentado aqui hoje. Aí você coloca três painéis, um painel primeiro, que é o espelho, que é o primeiro estímulo. Esse painel vai mostrar uma problemática de relacionamento das pessoas, daquela organização, através de vídeos ou áudios ou fotos de pessoas falando sobre esse problema, que estão muitas vezes fazendo parte daquela oficina e que foram entrevistadas antes da oficina. Então aqui está um trabalho que a gente chama de estudo etnográfico anterior, a oficina do laboratório de mudanças. Você mostra ideias e ferramentas que foram utilizadas em outros lugares ou que os próprios participantes durante a oficina começam a dar ideia e começam a jogar e preencher. Tradicionalmente eles usam flipchart ou quadros brancos como esse, um para o espelho, o outro para ideias, conceitos, ferramentas. E o terceiro quadro, que é o chamado segundo estímulo, você traz modelos da teoria da atividade para interpretar os dados e os problemas para elaborar conceitos e ferramentas. É uma espécie de ajuda intermediária, um auxiliar para você pensar sistematicamente a respeito do problema que você está trabalhando. O primeiro, o modelo mais conhecido deles é o triângulo, da sistema da atividade. Eu não vou apresentar ele em detalhes porque demoraria para a gente fazer essa introdução, mas normalmente ele não indica uma solução. Ele só indica uma maneira de observar a atividade que está tendo problema de uma maneira sistemática. E um fato importante também é a gravação em áudio da sessão. O pesquisador controla a câmera, então você tem um pesquisador gravando e outro pesquisador facilitando a situação, facilitando a oficina. Esses vídeos depois são analisados posteriormente, vou mostrar como. Detalhes do método experimental. Então veja, aqui ele está misturando o método experimental com o método de intervenção sociológica. Isso é uma mistura muito nova. Algumas pessoas chamam isso de métodos mistos na pesquisa de ciências sociais. Então o método experimental do bigode é que ele pode ser utilizado fora de laboratório, para começar por aí, você não precisa controlar o ambiente, só precisa oferecer um primeiro estímulo, que é uma situação contraditória, um problema além das capacidades do participante que exige que ele se desenvolva ou que desenvolva um novo conceito. Pode ser um conceito, pode ser uma ideia, pode ser uma abstração basicamente, que permita resolver esse problema e outros problemas parecidos. A solução do problema modifica o problema, por isso é descrito como uma contradição. Quando você começa a pensar, não é um problema tipo "quanto é 2+2?" É um problema do tipo "qual a origem da fome na sociedade?" Então quando você começa a pensar sobre isso, você já se coloca como parte do problema. Então você já modificou o problema. Você percebe, você olha para a sua classe social, de onde você vem, você teve fome na sua própria vida, isso já modifica o problema que você está olhando e o problema vai mudando, enquanto você está pensando sobre ele. Então ao invés de uma solução final, essa contradição, que é o problema que nunca acaba, ele leva a formação de um conceito que atualiza essa percepção da contradição. O que é o segundo estímulo? Que é a parte mais difícil de entender. Ele seria um estímulo auxiliar que pode ser fornecido pelo pesquisador ou pode ser apropriado, criado pelo próprio participante. Se, por exemplo, as pessoas durante uma oficina começam a pensar numa solução, digamos assim, e essa solução ainda não está muito clara, está meio vaga, a grande chance é que ela se transforme num segundo estímulo. E essa ideia meio vaga ajude elas a chegar numa outra ideia mais concreta lá para frente. Então o pesquisador que está conduzindo um laboratório de mudança tem que ficar muito atento para aproveitar essa emergência desse segundo estímulo e canalizar ele para um resultado produtivo, ao invés de negar, digamos assim, a saída do que ele tinha planejado. Um, duas... Diga. Só para deixar mais concreto, vamos imaginar a experiência da criança. De repente tem um outro negócio e ela percebe que se ela apertar o barulho, isso seria uma reação ao primeiro estímulo fazendo com que ele pare. É isso? Uma coisa banal assim ou é mais complexa? É isso que você falou, é um estímulo único. Você tem um estímulo só e você tem uma reação. Aqui tem uma diferença, você causa uma certa confusão na criança. Se você não causar confusão, não tem segundo estímulo. Eu vou mostrar um exemplo, eu trouxe até um jogo sobre isso. A gente vai jogar aqui, vocês vão ver um experimento de dupla estimulação clássico para ficar mais claro. Então, o segundo estímulo tem que ser meio ambíguo, para exigir que a pessoa forme um conceito sobre ele. É uma estrutura temporária e flexível, às vezes utiliza-se a palavra "undyne". Você constrói um undyne em volta de um prédio para construir o prédio. Depois, quando está pronto o prédio, você joga fora o undyne. Então, esse undyne é o segundo estímulo. Por exemplo, se você dar uma folha em branco para a pessoa resolver um problema geométrico, às vezes ela vai fazer uns rabiscos ali, que não vai ser a solução. Esses rabiscos é o segundo estímulo. E o papel é parte desse segundo estímulo também. É o que fala de ambíguo, um estímulo ambíguo. Então, vamos ao exemplo. O exemplo de experimento clássico que o próprio Vygotsky dá, experimento dos blocos de Sakharov e Vygotsky. Deixa nessa tela. Não, pode deixar na segunda tela da análise. Não, não, deixa aí, pode deixar aí. Ou seja, você informou que tinham quatro conjuntos, que tinham as palavras e assim? Isso, o primeiro estímulo é esse. Você tem um objetivo, que é organizar essas peças, mas você tem também um aspecto contraditório, que você não sabe qual a ordem de organização das peças. Então, você pede e organiza, mas não diz qual o critério. Isso é complicado. Com o tempo, eu vou revelando aspectos desse critério, e você vai pegando e dando significado a eles. Às vezes o significado não corresponde ao original, mas você vai se aproximando até você formar o conceito complexo. E aí, depois que você entendeu o que é a mura, eu poderia mostrar, por exemplo, um outro objeto fora desse jogo de blocos lógicos, e você identificaria esse objeto. Se é a mura, lag, porque você já generalizou o conceito dessa palavra com uma série de instâncias de exemplos. Então, você consegue operar conceitualmente com esse signo que você criou. Então, isso é, digamos assim, a descoberta principal do Vigótico. Ele explica que isso é a maneira como as crianças aprendem o significado das palavras, de modo geral. Quando a criança tem contato com uma palavra, ela lague. Ela não sabe o que significa lag. Mas quando ele começa a ser colocado perto de vários objetos parecidos, aí o lag começa a criar... Ele tem lá uma descrição de várias etapas na formação de conceitos, mas em última análise você chega numa abstração que serve para você identificar que uma cadeira não é só esta cadeira específica, mas uma cadeira tem uma forma que você pode identificar com um grau de validade muito grande. Muito obrigado pela participação. Diga. Esse aprendizado não é expansivo, né? Por que você acha? Porque no fim dos contos, todo mundo já sabe, aliás, quem desenvolveu isso já sabe o que está a ser aprendido. Mas se a gente forma o conceito, não é o resultado. Você poderia achar outra característica. Não interessa o resultado, interessa o como a gente construiu o resultado. Isso, exatamente. Eu acho que, por exemplo, se você colocar no contexto, no outro contexto, talvez não seja expansivo. Mas aqui, com essa turma, com vocês criando novos conceitos a partir do que a gente está fazendo, porque esse experimento incluiu todo mundo aqui, né? Eu não estou excluindo essas pessoas da participação. Então, pode-se dizer que a gente está expandindo o nosso conhecimento do que é possível fazer com a intervenção formativa. Eu tinha entendido que o expansivo nem pesquisadores exatamente sabem qual vai ser o aprendizado. É verdade. É verdade. [Inaudível] A qualidade de ser expansivo não é tanto pelo resultado que você chega, é mais pelo processo, como elas falaram. Se a gente está numa investigação que busca descobrir alguma coisa que a gente não sabe qual é, enquanto a gente estiver nessa investigação, a gente já está sendo expansivo. Entendi. Tá? Então, vamos continuar. Então, análise. A gente já fez, né, do primeiro e segundo estímulo. O segundo estímulo são as palavras que não têm significado, com o tempo vai sendo organizado o campo visual para perceber características variadas. E a reação é a formação do conceito das palavras estrangeiras. Então, perceba a diferença entre uma estimulação única, que você, se fosse um experimento desses, você daria os blocos e veria, digamos assim, qual é o efeito desses blocos na habilidade matemática da criança. Se ela brincar com isso várias vezes, ela vai ficar mais melhor em matemática? Isso poderia ser feito. Mas o bigode não está interessado na habilidade matemática, ele está interessado na formação de conceitos, que é uma característica do tipo meta-cognitiva, aprender a aprender, digamos assim. Será que alguém já fez isso primeiro? Não, ninguém. Ele tem que ser uma tarefa extremamente difícil. Se fosse fácil, aí já não daria para você ter esse processo de dar um sentido, porque o sentido já haveria, digamos assim, pronto. Então, alguém que já conhece o problema não pode participar? Não pode. Eu, por exemplo, não posso fazer, participar desse experimento. Ninguém mais é nosso cliente. É, nenhum de vocês. Mas vocês podem repetir o experimento com outras pessoas, vocês vão ver que é divertido. Os blocos lógicos são, digamos assim, um dos primeiros materiais didáticos, brinquedos didáticos criados, inspirados no trabalho do Vigotsky. Bom, vamos voltar então para cá, para o laboratório de mudança do Engelstrom. Vigotsky dizia que esse tipo de experimento poderia ser feito em ambientes não controlados, fora da escola, sem brinquedos. Basicamente, ele dizia que o duplo estímulo era um princípio básico da própria formação da vontade humana. Você poderia observar isso em várias situações. E aí, o Engelstrom utiliza essa prerrogativa que Vigotsky deixa em aberto para dizer que o laboratório de mudanças é um ambiente para experimentos de duplo estímulo. Esse aqui é um exemplo, é uma foto da intervenção que está descrita no artigo que vocês receberam como indicação, né? Que o Engelstrom explica as bases da formação, da intervenção formativa. Nesse experimento que ele dá de exemplo, no hospital, o primeiro estímulo são os vídeos dos profissionais falando sobre falta de recursos humanos, a lista de espera longa e outros problemas que eles enfrentam no trabalho. E o segundo estímulo é um organograma que os próprios participantes criam. Os próprios participantes pegam uma folha e começam a fazer um rabisco de como mudar as unidades de trabalho deles e reorganizar o trabalho. Eles criam a ideia de dividir essa unidade em subunidades, só que ao invés de fazer isso de cima para baixo, um chefe que vai organizar aquilo ali da maneira mais ideal como ele pensa, foi construído durante o laboratório de mudança, então as pessoas podem ter responsabilidade compartilhada de executar as tarefas de maneira que todo mundo esteja de acordo, digamos assim. [Pedindo uma coisa, o segundo estímulo organograma foi proposto pelo mediador ou o facilitador?] Não, foi os próprios participantes que trouxeram essa ideia e o meu pesquisador acolheu, digamos assim, ele não parou eles na verdade. [Todo mundo trabalhou sobre o mesmo organograma?] Exatamente. [Ao mesmo tempo?] Isso. Ele não dá muito detalhe dessa parte material, que é o que me interessa bastante, porque o foco dele é outro, mas eu vou falar um pouquinho mais sobre isso daqui a pouco. Então, essa aqui é a análise que está no artigo sobre o experimento de dupla estimulação que aconteceu lá. É um pouquinho difícil de ler esse diagrama, mas vamos ler de maneira linear. Então, você tem um primeiro estímulo com os problemas que tem lá naquele ambiente de trabalho, aí as pessoas estão perdendo a motivação sobre o objeto de trabalho, que são os pacientes, parece que os pacientes estão em última prioridade, digamos assim. Aí eles constroem um estímulo secundário, um segundo estímulo, que é esse modelo organizacional diferente, o tal do organograma. Surgem novas complicações, novos problemas, o primeiro estímulo se torna mais tenso, digamos assim. E aí eles criam um terceiro, um novo conceito, que é de responsabilidade compartilhada pelos pacientes. Pelos pacientes, né? E eles completam o segundo estímulo quando eles fecham um documento detalhando tudo que foi discutido nas oficinas de laboratórios de mudança e que seriam implementadas, digamos assim, no trabalho. Quando eles vão implementar, surgem novos problemas. Isso aqui continuaria, se eles tivessem continuado a intervenção formativa, teria novas caixinhas aqui nessa análise. Mas isso não é circular, quer dizer, apesar de um alimentar o outro, em algum momento, supostamente, se resolve o problema, digamos assim. É, não. Eu acho que só o fato de mostrar que aqui um problema já se transformou em outro, ele se transformou em outro, ele se transformou em outro. Na verdade, sim. Vai sempre ter um problema, mas não é o mesmo problema. Isso mesmo. É, exatamente. É um outro problema decorrente, derivado. Uma continuação, digamos assim. Isso, uma continuação. E o que é circular, digamos assim, é essa relação entre primeiro estímulo, segundo estímulo, primeiro estímulo, segundo estímulo e formação de conceitos. Então, se você for ver aqui no fundo, estaria uma certa espiral aqui, entre uma coisa e outra. A generalização desse estudo específico é que a intervenção formativa aumenta a agência dos participantes quando eles resistem ao pesquisador, percebem. Então, eles falam, ah, não queremos fazer do jeito que você está falando. Isso aqui não é útil para a gente. Vamos fazer de outro jeito. Quando as pessoas percebem que as possibilidades de ação delas estão ali, elas não sabiam que poderiam fazer diferente. Quando elas visualizam novos padrões de atividade, às vezes trazido pelo pesquisador, às vezes trazido por uma pessoa que está participando. Quando as pessoas se comprometem a mudar e quando elas, de fato, já começam a tomar a atitude de mudar. E tudo isso pode acontecer durante um laboratório de mudanças ou logo em seguida. E, digamos assim, vejam que esse experimento foi um caso só, e ele conseguiu já generalizar através da teoria uma proposta bastante robusta, digamos assim, de intervenção formativa. Normalmente os estudos do Cradle são assim. É um caso, dois casos, muito bem estudados, muito a fundo, que a partir deles se utiliza um conceito teórico para explicar e você generaliza a partir dessa teoria. E como eles têm muitos casos ao longo de, sei lá, de décadas, a teoria vai se tornando cada vez mais robusta. Na verdade o próprio objeto deles é uma intervenção formativa. Eles têm uma intervenção formativa sobre o modelo de negócios. Isso, é o modelo de negócios. Isso não é por acaso. Mas eu creio que mesmo, uma vez que isso, como você falou, é mais viral, existem, como você falou, mesmo visando o modelo de negócio, tem determinados momentos que você tem que ter como um certo fim. É, quando é que você para, né? Pois é, para que você possa implementar aquilo e avaliar se aquilo realmente vai surgir o efeito desejado. Eu acho que você tem, só que daquilo vai surgir, bom, e você quer... Claro, claro, mas você tem que ter momentos que você precisa, por meio do, não sei se, quem está gerenciando o laboratório, dizer "Ó, até aqui isso está bom, não está, ou seja, existe algo assim ou não". Porque senão você fica... Eternamente, né? A infinito, né? É, normalmente eles trabalham no laboratório de mudança com o horizonte de seis oficinas, dividida assim uma vez a cada duas semanas, mas... E quando chega, termina as seis oficinas, eles "Olha, infelizmente agora terminou o nosso contrato e agora é com vocês". É mais ou menos assim. É claro que tem outras intervenções que eles ficam anos, às vezes, mas são casos, né? Diferentes, cada caso é um caso. É, mas ao fim, digamos, se dá intervenção do pesquisador, eles normalmente detectam quando eles percebem que os participantes estão tomando a frente, estão tomando controle, eles falam "Olha, a gente sente que agora a gente não precisa mais estar aqui". Digamos, seria uma maneira ideal de sair, né? Mas eu acho que a maior parte do tempo é arbitrário, por conta de um contrato, alguma coisa assim. É, porque, por exemplo, se você for aplicar isso em um grupo de alunos ou alguma coisa assim, tem um momento que vai ter que terminar. Pois é, sim. Tem também o conceito de saturação de dados, né? Quando você começa a receber os mesmos tipos de feedback, aí você olha, não está evoluindo, saturou, já estamos discutindo, volta e volta, é a mesma coisa, só que isso também não pode ser confundindo com o tal do "double bind", que ele chama, que é a crise que acontece que as pessoas ficam realmente falando sobre a mesma coisa, que dá uma sensação de desfrustração porque não está avançando, e aquilo ali tem que ser intensificado para que haja uma transformação. Aquilo ali é uma característica comum de resistência à mudança. Mas não pode confundir uma coisa com a outra. Como que eles intensificam? É, confrontando a noção mais caótica que as pessoas têm da atividade com a noção sistêmica. Então, quando elas montam, por exemplo, o diagrama da atividade usando o triângulo, às vezes a pessoa percebe problemas sistêmicos que estão ali, que não são problemas de uma pessoa só. Que uma pessoa está... Normalmente as pessoas falam assim, "o problema é fulano, o problema é esse crano". E aí, quando você começa a construir essa noção mais sistêmica, você percebe que o problema não é fulano, é esse crano, mas o modo de produção daquela atividade. E aí isso provoca uma mudança na conversa. Daí já... "Ah, não, então agora vamos para outro caminho, porque a gente não precisa mais discutir o sexo dos anjos, digamos assim". Se vocês quiserem baixar um livro gratuito sobre laboratórios de mudanças, acredite, em português tem isso, em inglês não tem. Então aproveitem, porque é um privilégio que a gente tem aqui no Brasil por enquanto. É, é um daqueles dois links, que é o segundo link. É o segundo link. Tá, ele explica em detalhes como fazer o laboratório de mudanças, mas eu tenho que avisar vocês de que o próprio Engström não gostou muito da edição desse livro. Porque ele não queria que se tornasse intervenção formativa em algo tipo muito simples de fazer, uma receita. Mas o Iaco Virkonen já tem uma ideia bem diferente. Ele fala "Não, a gente tem que simplificar para que mais pessoas possam ter acesso a esse método". Eu acho que eu concordo mais com o Iaco Virkonen, mas eu continuo pensando que a gente tem que olhar criticamente para laboratórios de mudanças, que não é tudo sobre intervenção formativa. E eu vou mostrar agora intervenções formativas que eu realizei em combinação com o design participativo, que é a área que eu conheço melhor, e que não são laboratórios de mudança. O design participativo surgiu na Escandinávia, na computação, quando os pesquisadores como Pelém leram Paulo Freire. Então eles leram Paulo Freire e falaram "Gente, nós não podemos mais ficar produzindo sistemas que vão lá e promover, impor, digamos assim, uma maneira de pensar correta, uma maneira de trabalhar mais produtiva, sem que as pessoas possam participar desse processo de elaboração de sistemas". Então eles criam, que eles na época não chamaram design participativo, mas depois ficou conhecido como, inspirado em Paulo Freire. Então o foco deles são objetos que devem ser transformados, então aqui não é a mudança organizacional, o foco primeiro é um objeto, um sistema, que está muitas vezes embutido numa mudança organizacional e vai ser criado no processo. E eles chamam muita atenção para ferramentas e espaços que estão estruturando essa participação. Isso é uma coisa que o pessoal lá do CREI, da teoria da atividade, eles não prestam muita atenção. Então eles têm um nível instrumental de facilitação de oficinas, eu diria bastante baixo, comparado com a experiência que tem o pessoal do design participativo. E daqui a pouco vocês vão ver alguns exemplos que eu vou aplicar com vocês aqui. Algumas pessoas já participaram de algumas oficinas que eu organizo, com base nessas ideias do design participativo. Qual a diferença entre a gente desculpe a repetir o Orando, do design thinking? O design thinking, ele é um termo que existia já na academia, na época, nos anos 70 já se utilizava para definir a maneira particular como os designers pensam. Então, estudos cognitivos que estudavam, por exemplo, como o design resolve problemas. E aí nos anos 90 e 2000, teve uma empresa chamada IDEO, que começou a usar esse termo para falar num processo de exportação da expertise do design para outras áreas. E isso ficou conhecido também como design thinking. E, final, porque a gente já usou isso para fazer projeto pedagógico, alterações de disciplinas e tudo isso? Sim. Eu acho que às vezes as pessoas não fazem essa conexão entre design participativo e design thinking. Eu estou sempre tentando fazer, porque na minha visão, o que a pessoa chama normalmente design thinking é melhor descrito como design participativo. Porque quando a gente se reúne para refazer o currículo pedagógico, a gente não está querendo pensar como designer, a gente está querendo tornar uma participação das pessoas mais produtiva. Mas eu uso o termo design thinking aqui na universidade também, as pessoas me conhecem como especialista em design thinking, por uma questão de que o termo está na moda, as pessoas estão falando dele. Então, tá bom, então, sou especialista em design thinking, mas se você perguntar como é que você chama isso, eu chamo de design participativo. E o principal diferença também é ideológica, design thinking não, ele quer servir as empresas, para as empresas inovarem e eventualmente fazerem um bem social, como uma, digamos assim, aquele lado assim... É uma externalidade. É, uma externalidade, enquanto que no design participativo está comprometido com a mudança social do ponto de vista não das empresas, mas do ponto de vista dos trabalhadores. Acho que isso é uma mudança, uma diferença fundamental. E a minha motivação vem daí. Eu estou muito mais do lado do pessoal do chão de fábrica do que dos gestores, mas eu também acho bom conversar com gestores. E não quero cometer os mesmos erros que o próprio Pelen e os colegas se descometeram. Tá, vamos voltar para a contribuição deles, né, do design participativo. A pesquisa etnográfica deles, né, que eles fazem antes das oficinas, elas prestam muita atenção na materialidade, nos objetos, nas ferramentas, no ambiente de trabalho. E às vezes identificam problemas ergonômicos, problemas sociais que na abordagem da teoria da atividade, da intervenção formativa, não são vistos. Quando eles vão executar as oficinas, eles não ficam só no blá-blá-blá, na conversa, né, que o próprio Engelstrom utiliza muito o diálogo, transcrição de diálogos para mostrar as evidências. O design participativo mostra muitas fotos como evidência, porque são fotos de objetos que são construídos com os participantes. Então, aqui você tem a prototipação, que é a criação de um modelo de um computador do futuro, em 1980, usando pela primeira vez mouse, monitor com tela gráfica. Nessa época, ninguém conhecia essas tecnologias e não sabia para que servia. Então, ao invés deles pegarem, implementarem e dizerem aos trabalhadores da indústria gráfica sueca como que eles deveriam trabalhar, eles resolveram perguntar como que eles deveriam trabalhar. Então, eles criaram... mas como é que você pergunta sobre um assunto tão abstrato como esse? Então, eles criaram uma abordagem de projeto em que são criados modelos muito simplificados, com papel, com tecnologias falsas, que enganam as pessoas. Mock it up, mockup. Então, o termo mockup foi introduzido na ciência da computação. Aqui, esse aqui é uma impressora laser. O que é? É uma caixa de papelão que eles escreveram, impressora laser, ninguém sabia o que era isso, você colocava papel de um lado, saía papel impresso do outro, era uma magicasinha de um negócio que eles fizeram lá, uma gambiarra. Não é uma impressora, mas as pessoas podiam ensaiar um cenário em que elas usariam uma impressora laser. Para quê? Que ambiente de trabalho, que situação de trabalho seria útil isso? E esse tipo de ferramenta hoje é utilizado amplamente na área de design de novos sistemas, como uma maneira de incluir os usuários no processo. Outra descoberta bem interessante da área participativa é que você podia usar jogos durante as oficinas de participação. E esses jogos estruturavam a participação para que aproximassem a linguagem cotidiana dos usuários com a linguagem do projeto, a linguagem dos projetistas, dos designers. Então, você criava uma espécie de palavras-chave, tal como aqui, que não se conheciam antes, ninguém sabia o que era o lag, o que era a 7, mas com essa estrutura de jogo vocês acabaram pegando um conceito que pode ser usado para definir um projeto. Características aqui, a gente falou de grande, pequeno, são características que você pode utilizar no projeto, por exemplo. Se você estiver discutindo o tamanho de objetos que você está projetando, por exemplo. Na minha pesquisa de doutorado, agora, daquela época ali que eu estava mostrando, anos 70 e 80, passa até os anos 2010, é o momento que eu começo a fazer minha pesquisa de doutorado, cheguei lá, uma colega minha já estava fazendo design participativo em hospitais e ela tinha desenvolvido esse jogo chamado Head, para facilitar ou complicar a mudança de um hospital para o outro. Eles estavam construindo uma nova sede, o pessoal tinha que se adaptar aos novos ambientes e ela fazia uma simulação com pecinhas de tabuleiro como se fosse ambiente de pessoas trabalhando. Então, se o paciente estivesse aqui, o paciente tem acho que a cor de pele, ou pele branca, como é que dá a dizenda, e aqui tem os enfermeiros, laranja, os enfermeiros, onde que eles estariam? Para cada um dos momentos do dia, o que eles estariam fazendo? Elas tinham algumas cartas que elas jogavam, do tipo, emergência, está pegando fogo, como é que as pessoas fazem, por aí vai. Esse jogo Head ajudou a gente a perceber que jogos são muito bons para simular cenários antes da mudança acontecer, as pessoas se tornam um pouquinho menos ansiosas, preocupadas com o que vai acontecer quando jogam esses jogos. Então, esse foi o meu primeiro contato com jogos em design participativo. Depois a gente começou a criar jogos para visualizar coisas que estavam muito abstratas num projeto. Nesse caso aqui é um dique de proteção contra inundação, sabe que a Holanda é abaixo do mar, então tem que proteger a costa toda. E aqui eles estão discutindo se vale a pena combinar funções junto com o dique. O dique, além de proteger da água, também poderia servir para botar um shopping center em cima, ou para ser um parque de diversão, ou para ser um parque de natureza, ou para ser um lugar para morar, botar prédio em cima. E eles estão discutindo os prós e contras. Os prós são os verdes, os contras são os vermelhos. E o resultado desse cubo dos dilemas, como a gente ficou conhecido, é uma visualização dos quadros de referências que as pessoas estão usando para abordar a situação. Então elas deixaram mais claro por que elas achavam que uma determinada opção era arriscada ou não. Quando as pessoas falavam o motivo dela ter colocado vermelho ou verde, elas, sem querer querendo, deixavam claro o quadro de referência delas. E é também uma forma de ajudar os outros a aprenderem aquilo que elas já tiveram percepção. Isso, às vezes uma pessoa nega o argumento de uma outra pessoa, simplesmente porque ela não entende o quadro de referência com o qual esse argumento foi construído. E esse tipo de ferramenta ajuda as pessoas a desenvolver uma habilidade de se colocar naquele outro quadro de referência. Mas nesse caso, então, existia o cubo e várias pessoas que deveriam estar pensando sobre o problema, tinham que ficar, qual era o quadro positivo ou negativo, e aí escolhiam o negócio verde ou vermelho e tal? Isso mesmo. Isso mesmo. Aqui tem um exemplo, quando eu voltei para o Brasil, então eu desenvolvi um jogo de tabuleiro chamado Hospital Expansivo. Eu não vou entrar em muitos detalhes, mas ele é um jogo que confronta qualquer pessoa que tenha participado de uma equipe multidisciplinar. Então ele vai colocar você num papel, então cada jogador joga ou como engenheiro, ou como arquiteto, ou como enfermeiro, ou como diretor do hospital, e cada jogador vai adotar um quadro de referência correspondente a esse papel. Só que o jogo estimula que um papel tente ganhar do outro. Então tem uma certa competição, ao mesmo tempo que tem uma necessidade de colaborar. E aí ele tem algumas brechas que deixam coisas bizarras acontecer, do tipo formação de cartel entre empreiteiros. Nesse momento em que eu voltei para o Brasil, em 2015, estava no ápice da Lava Jato, ou talvez tenha sido um pouquinho depois, mas foi uma época que estava se falando muito sobre corrupção na área de construção civil, e fui convidado para testar esse jogo de tabuleiro no Hospital de Clínicas do Paraná, junto com os profissionais envolvidos na área de cirurgias, que estavam tendo um conflito muito sério de relacionamento, não estavam conseguindo nem mesmo se organizar basicamente para manter as atividades funcionando de maneira produtiva. E aí nesse jogo apareceu ali um cartel, os duas pessoas aqui, esse aqui é o diretor financeiro do hospital na época, fazendo cartel com o chefe das enfermeiras, e depois eles brincam, "puxa vida, isso aqui é uma brincadeira, mas a gente sabe que essas coisas acontecem, às vezes as pessoas colaboram para o mal". E aí discutiram depois do jogo, o jogo teve um impacto magnífico em restabelecer a confiança do grupo, a gente fez vários outros jogos depois, mas o ponto desse experimento específico foi que as pessoas começaram a não só entender o quadro de referência, mas ser funcional, agir naquele quadro de referência do outro. Isso que é muito interessante que o jogo permite. Ele é um instrumento de comunicação, o instrumento de comunicação não é um instrumento de empatia. Isso. Porque você não se aconforta com o outro, você consegue entender o outro. Mas uma diferença fundamental é que aqui as pessoas estão de fato fazendo ações, embora essas ações tenham impacto inicialmente só no jogo, aí já é uma parte bastante ousada da minha tese, eu digo que o que acontece no jogo acontece na realidade. Então as pessoas estão jogando para valer. E às vezes as pessoas fazem ações nos jogos, "ah, é brincadeira só", mas aquilo ali tem um significado muito grande e vai ser lembrado, vai ser lembrado no extra-jogo e vai ter impactos, e as pessoas vão ficar, por mais que não falem, impactadas por aquilo. Então o jogo para mim é uma continuação do trabalho. Nesse caso. Vamos ver mais um exemplo. No meu doutorado, na minha tese especificamente, eu falei muito sobre como que os jogos fazem emergir contradições. Contradições não são das pessoas, são dos projetos, são das atividades, são inerentes. E muitas vezes são a origem desses conflitos pessoais que as pessoas têm. Então é uma espécie de uma estrutura que está por trás desses conflitos. A minha tese está aqui, então vou passar para vocês, também quem quiser ter acesso a ela, também está no meu site gratuito, também. E o foco principal delas são essas contradições. Nesse caso aqui, as contradições existentes num projeto de um centro diagnóstico de imagem surgiram através do jogo, porque aqui está representado pelos fios o processo de trabalho de enfermeiros e médicos, e embaixo, em branco, está representado o projeto do ambiente desse espaço, em duas dimensões, que é a tal da planta baixa, que os arquitetos e engenheiros tinham feito. A partir da visão dos gestores de como seria o trabalho dos enfermeiros e médicos, que falaram, a partir da construção desse jogo, que nem quiseram jogar, chegaram uma hora e falaram, isso aqui não vai funcionar nada, pode jogar fora no lixo esse projeto. E acabou que no projeto foi cancelado. Então o efeito... Por que esse fio? O fio significa o seguinte, o paciente entra aqui na porta, aí ele vai até a recepção, se registra, senta na sala de espera, entra na sala de troca de roupa, como é que é o nome? Vestiário. Depois passa por um corredor e aqui ele passa pelado. Ninguém tinha pensado nisso. Passa pelado no meio de um corredor. Por que não tem conexão direta do vestiário para a sala de diagnóstico? Então eles tiveram que refazer esse projeto. E refizeram várias vezes, mas nunca ficava bom. No final dos contos acabaram cancelando o projeto. Então, vai dizer que jogo não tem influência? Eu acho que tem. Jogo, para mim, é realidade. Esse outro jogo aqui é o mapa da empatia, voltando para o mesmo caso do hospital de clínicas. O mapa da empatia pergunta o que uma pessoa está sentindo, está fazendo, está vivendo, está sentindo, está ouvindo, sobre uma pessoa que você não conhece muito bem. Então, nesse caso, quem preencheu foram os técnicos administrativos e quem revisou e corrigiu são os residentes. Dizendo assim, olha, técnicos administrativos, vocês acham que a gente está não se importando nem um pouco com pacientes? Estamos sim. Riscava, amassava e colocava em laranja o que eles não sabiam sobre eles. Então, uma... Peraí, o que os médicos não sabiam sobre os residentes não sabiam sobre os técnicos? Não. O que os técnicos não sabiam sobre os residentes. Ah, então, depois da observação dos residentes, os técnicos escreviam em laranja. Não, os técnicos, quem está escrevendo aqui é uma residente. A residente corrigia os técnicos e falava, olha, nós estamos fazendo isso aqui que você não sabia. Nós estamos dizendo isso aqui que você não sabe também. É um processo terapêutico para desconstruir preconceitos. As brincadeiras, de um modo geral, elas podem ser utilizadas, brincadeiras, jogos, brinquedos, são excelentes para planejamento participativo. Exemplo é o processo da agência PUC, que eu já mencionei para vocês anteriormente. Teve alguém que pode participar? Não, né? Você participou, né? Então, é bem ativo, bem dinâmico. A gente teve 66 pessoas. Muito difícil manter 66 pessoas engajadas um dia inteiro e deu certo graças a essas ferramentas. E também graças a uma postura de humildade da Proreitoria nesse momento. Não sei se é sempre assim, acho que não, mas nesse dia, a nossa queridíssima Paula estava sentada no chão. Vejam, né? Sentada no chão, observando, só ouvindo, né? Acho que foi um dia bastante de escuta ativa. Eu não vi os organizadores, eu incluso, censurando os participantes. Um momento bem interessante. E os resultados estão para ser compartilhados em breve. Algumas ações já foram feitas com base nesse planejamento também. Depois eu vou falar mais sobre isso e é o motivo do tal dos bolsistas que me acompanharam aqui. Tem a ver com esse planejamento que colocou a inovação aberta como uma das prioridades da universidade ou da agência. Esse foi no começo do ano agora, né? Foi no final do ano passado. Foi no final do ano passado. Isso. Ah, mas tem inovação aberta? Inovação aberta é a missão da agência agora. Inovação aberta para todos é a missão. Tá bom, né? Esse é o novo? É o novo. A gente nem apresentou, estou só adiantando aqui uma... É o grupo novo da agência. É o grupo novo da agência, isso. Com os meus alunos eu utilizo também teatro doprimido. Isso aqui é maravilhoso. O teatro, ele exige um pouco mais da pessoa se jogar, digamos assim, no processo de mudança. Ele expõe mais medos e dificuldades que as pessoas estão tendo. Mas ele também permite uma mudança muito rápida. Então, a gente tinha uma turma que gostava bastante de falar de política. Como nós estamos vivenciando agora cada vez mais, eu acho legal, positivo. Só que é aquela política futebol, né? É a esquerda versus direita. Então, sempre comunismo versus capitalismo. E aí, numa cena de teatro doprimido, eles colocam aí um sistema novo de gestão da empresa que ia valorizar os profissionais mais criativos e tal. E aí, de repente, gera uma greve dos outros profissionais que não são tão criativos assim. Então, eles começam a executar ações que eles estão vendo na mídia, dentro da sala de aula, se colocando como parte desse processo e vendo a relação entre esses conflitos que estão aí no dia a dia, na sua profissão. Bom, eu falei um pouquinho sobre as ferramentas que a gente está utilizando para expandir a intervenção formativa. Agora, eu vou falar sobre a parte mais científica. Não adianta nada fazer uma intervenção formativa magnífica se você não consegue transformar aquilo num artigo científico para o teu modelo de negócios crescer. Então, você faz o artigo, várias pessoas leem, conhecem o método e você consegue obter novos financiamentos porque você tem publicações naquela área. Então, como é que a gente faz o caminho inicial, desde o momento que você fez a intervenção até chegar no artigo? Primeira parte é você fazer anotações enquanto a coisa está sendo organizada. Desde a primeira reunião que você faz, vai anotando e anotando na língua dos pesquisados. Então, no caso aqui, vocês estão vendo anotações em holandês. Eu tive que aprender holandês para poder fazer intervenções na Holanda. Bem difícil. E depois eu transfiro essas anotações de papel para um sistema digital chamado IBIS, ou Institut Based Information System. No IBIS, eu coloco as anotas que viram pontos nodais de um mapa mental, equivalente a um mapa mental. E cada uma dessas notas, ela pode ser aberta. Então, eu posso ver um texto associado a essa nota. Eu posso classificar com tags específicas, cada um deles, permitindo uma recuperação depois por tópico. E também me permite fazer uma série de outras análises qualitativas em cima desse material. Esse software não é muito comum, com o PEND e o NG, é meio difícil de usar. Não recomendo para ninguém. Eu acho que não precisa necessariamente ser um software. Você pode fazer isso no papel também, já vi algumas pessoas fazendo, e tendo o mesmo tipo de resultado. Mas eu gosto. Eu gosto mesmo de análise qualitativa, de afundo. Ficar anotando. Então, esse aqui é o meu dia a dia lá na Holanda, quando eu estava analisando os dados da pesquisa. Constantemente trazia novos dados, refletia e atualizava o sistema. E um momento muito importante de reflexão é quando eu contrapunho os dados com os modelos teóricos que a teoria da atividade me fornecia. Esse é o tal do modelo triangular, que eu mostrei para vocês anteriormente, que é o principal usado nessa teoria. E aqui já está sendo aplicado para os problemas específicos dos projetos hospitalares que eu estava estudando. Eu não vou explicar em detalhes, porque isso aqui demora muito tempo para apresentar, mas só para entender que a teoria é fundamental nesse processo de análise. Outra parte bem importante é a análise, rever o material, as evidências coletadas, e evidências em vídeo, são muito mais ricas do que anotações, porque você às vezes vê um vídeo, você vê uma coisa que você não tinha visto quando você estava lá presente, você olhando de uma maneira mais distanciada. Então, eu transcrevo essas sessões, o que as pessoas estão falando, eu classifico os turnos, separo em turnos de fala, separo, às vezes aplico códigos de classificação. Então, por exemplo, o que ele está fazendo aqui? Está propondo um problema? Está propondo uma solução? O que está acontecendo nessa conversa? Isso se chama análise internacional, e tem um programa chamado Enview. Esse sim eu recomendo para usar para esse tipo de análise. Esse é um resultado desse software, é um tipo de análise com base nos dados que estão ali. Então, a gente mensurou quem estava falando e quem falava depois de quem tinha falado. Então, aqui tem o Project Manager, o gestor do projeto. Quando ele falava, o próximo turno, 6% das vezes era ele mesmo. Então, ele não era um cara prolixo, ele não continuava falando sem parar para respirar, digamos assim, como algumas pessoas às vezes fazem. 36% das vezes que ele falava, ele era precedido, não, precedido não, ele era sucedido pelo especialista em logística. Ele também era mais ou menos igualmente sucedido pelo especialista em saúde. O especialista em saúde e o especialista em logística, eles eram precedidos um ao outro a maior parte do tempo. Então, isso significa o que? Que houve uma colaboração muito forte entre essas duas pessoas e o gestor ficou meio perdido. E aí, no outro gráfico mais revelador, demonstra que no começo, aqui você tem o da saúde é esse do meio, o gestor é essa linha fixa e o especialista em logística são essas bolinhas. Então, você vê que no começo o cara de logística fala bastante, de repente o gestor começa a falar, aí o de saúde começa a falar e o gestor volta, mas no final acaba que o profissional de logística tem uma prominência, digamos assim, na fala durante essa oficina. A gente conclui que houve uma liderança emergente que mudou dos atores, quem estava falando mais em determinado momento, digamos assim, atuou como líder dessa oficina. E a gente propõe um conceito de liderança fluida a partir desses dados, que é liderança como uma prática emergente. Um resultado bem interessante, eu não me interesso tanto por liderança na minha pesquisa, mas foi o caso de um colega meu que pesquisou usando esses dados. Então, para finalizar a intervenção formativa, os critérios de validade clássicos precisam ser revistos, validade interna, baseada na minimização do envisamento na manipulação das variáveis. Vocês já devem ter visto muita gente falar até do vocabulário comum, "ah não, o pesquisador não pode se meter, não pode participar, o pesquisador tem que ser uma mosca na parede". Isso é um critério de validade interna, para que o pesquisador não afete as variáveis. Não é o caso da intervenção formativa, já vamos falar sobre isso. A validade externa é tentar generalizar os resultados para situações diferentes do experimento, diretamente. Então, se aconteceu no experimento de uma criança ir lá comer o marshmallow, ela não resiste, no experimento clássico, não resiste comer o marshmallow, então toda vez que você botar o marshmallow na frente de uma criança, ela vai comer o marshmallow, e não vai ficar esperando. É verdade? Não sei. A validade externa ali parece ser grande, mas pode ser que não. Eu não sei, estou só dando um exemplo aqui agora. Agora, validade ecológica com certeza não é uma validade muito grande no experimento do marshmallow. Por quê? Uma criança raramente fica sentada na frente de um prato de marshmallow e mais nada ao seu redor. Então, o que acontece? O marshmallow chama muita atenção. E tem validade ecológica, porque isso não é uma situação parecida com a do dia a dia, uma situação não é realista. E a validade de construto é aquela que compara as variáveis que você mensurou com os conceitos teóricos que você está usando para explicar aqueles dados. Se bate a variável com o conceito teórico. Esses são os critérios principais usados nas pesquisas, nas ciências sociais, mais orientadas ao positivismo e nas pesquisas orientadas à crítica, teoria crítica, que é onde está a intervenção formativa, onde está Paulo Freire e os outros que eu mostrei anteriormente. Existem critérios novos de validade. Eu acho muito legal o trabalho da Latter, que ela pegou e falou, "Gente, é possível fazer pesquisa ideológica abertamente e você ter critérios de validade". Então, o fato de você ser abertamente ideológico não significa que você não vai ter validade, você vai ter outros critérios de validade. E ela escreve esse artigo que teve bastante impacto nas ciências sociais, em que ela fala que se você tiver triangulação de métodos, além de triangulação de fontes de dados, você pode evitar que haja um envisamento do método. Então, ao invés de você fazer só o estudo etnográfico, você faz estudo etnográfico e faz oficina criativa. Validade e construto. Ao invés de você só confrontar com a teoria, você confronta com as evidências novas, que vão dizer que aquela teoria está errada e que você tem que refazer o conceito. Confrontar evidências com teoria. E a validade aparente, são dois novos conceitos que ela traz aqui, ou enfatiza, que não são muito conhecidos. Validade aparente, se aquele construto que você está criando, ele representa a realidade de uma maneira que uma pessoa que está perto daquela realidade se enxerga. Por exemplo, se aquela pessoa concorda que aquele construto teórico explica o que ela está fazendo. Então, para você ter validade aparente, você tem que voltar com os seus dados para os participantes e falar "Gente, foi isso que eu entendi da nossa oficina, é isso que vocês quiseram significar?" "Ah, não, não é, então vamos corrigir." Então, depois de uma entrevista, por exemplo, você pode trazer a análise da entrevista para a participação do entrevistado, para ele verificar, analisar e fazer o double checking. Essa validade aparente também pode ser, como se fala, robustecida, se você tiver um outro pesquisador olhando para os seus dados. Também é outra maneira, um pesquisador não tenha participado da intervenção, ele vai lá e olha os seus dados e tem conclusões parecidas. E a validade catanítica, essa totalmente nova da pesquisa dela, ela propõe que você pode avaliar a qualidade de uma intervenção formativa se ela demonstra que as pessoas se apropriaram da pesquisa para se transformar. Se houve realmente mudanças derivadas daquela participação. Então, dois critérios, não, duas indicações de situações onde vale a pena a tal da intervenção formativa. Quando o fenômeno de investigação não for diretamente observável, por exemplo, como é que você observa a solução de problemas? Visivelmente não vai ver. Aqui foi o mais próximo disso quando vocês viram no campo visual, mas só isso, só tirar foto não revela muita coisa, por exemplo. Tem que ter a tal da intervenção, tem que ter a pergunta do pesquisador, que nem eu estava fazendo ali provocando a colega e conversando com ela. O fenômeno tem múltiplas determinações, não é só biológico, é social, é econômico, é simbólico, é psicológico. O fenômeno se manifesta diferentemente em cada situação. O fenômeno está implicado na formação da própria situação. É implicado, como por exemplo, você estuda cultura, quando você estuda organização, você vai estudar organização através de uma organização que foi organizada pela organização. Então, esses casos são bem interessantes para a intervenção formativa. Isso não é um problema, essas características. Ou então, quando há uma organização em crise te procurando para colaborar. Então, nesse caso, você pode adotar a intervenção formativa como uma abordagem de criar um contexto para essa colaboração que é produtivo tanto para o pesquisador quanto para os participantes. Ou quando há pesquisadores, de modo geral, incomodados, frustrados, de cara, com academia, que só produz coisas que não são utilizadas na prática ou que são utilizadas para manter as estruturas sociais desiguais que a gente tem hoje na sociedade. Tipo assim, nós. É, exatamente. Se pegar a bola, você só precisa pegar. Primeiro é útil para o empreendedor. Ou quando há uma necessidade de desenvolver um projeto colaborativo multidisciplinar. Por exemplo, você já tem trilhas de empreendedorismo social. Podemos fazer uma intervenção com esse foco, por exemplo, e eu acho que a gente já está fazendo sem querer querendo aqui e agora. É isso sobre a intervenção formativa. Dúvidas?