Quando se pensa em função social do design, muitas pessoas primeiro vão buscar algo que está faltando no design. Algo que pode beneficiar a sociedade como um todo, mas não beneficia por estar faltando um método, um conhecimento, uma técnica, uma abordagem. Eu já penso de maneira diferente. Quando eu penso no aspecto social do design, eu penso que todas as pessoas, de alguma maneira, elas se relacionam através do design. Então o design tem um papel social porque ele intermedia relações sociais. Isso independe desse design ser um projeto profissional. E aí entra o pulo do gato nessa percepção. Quando a gente considera que tudo ao nosso redor é projetado, mas não necessariamente de maneira profissional, a gente realiza que existe uma demanda social por design muito maior do que aquela que a gente consegue suprir com a nossa formação profissional, que sai da universidade ou mesmo aquela que se forma no mercado de trabalho. Por quê? Tanto a universidade quanto as empresas que contratam designers estão focadas em atender demandas de uma classe social abastadas, privilegiada, porque é ali onde existe uma possibilidade de rentabilidade do trabalho de design, de uma alta mais valia, de você conseguir obter um lucro a partir de um trabalho de design. Quando a gente olha para as demandas sociais não atendidas pela essa classe profissional de design, a gente começa a ver que ali existe uma margem de lucro possível muito pequena, ou às vezes até mesmo inexistente. Mas ainda assim as pessoas precisam desses projetos. Elas precisam renovar a decoração da casa delas, elas precisam construir um puxadinho na casa, elas precisam fazer um website para um novo negócio que elas estão criando, e tudo isso acontece muitas vezes na base do improviso. Esse é, digamos assim, a realidade social do design na maior parte dos projetos, a grande maioria é feita assim. Agora, um profissional que se torna consciente da demanda social de design, percebe que ele pode ter uma atuação maior do que simplesmente aceitar os briefings, os jobs, as propostas de trabalho da classe social privilegiada que tem condições de pagar por um projeto profissional. Ele pode de duas maneiras ajudar as pessoas que não estão sendo atendidas. A primeira é ganhar dinheiro da classe social, usar esse dinheiro para a classe social abastada, e usar esse dinheiro para a classe social menos abastada através de doações, através de investimentos, através de distribuição de renda de maneira voluntária. Essa é uma das maneiras e é válida. A segunda maneira que é mais específica da profissão de design é que esse conhecimento, esse trabalho que a gente pode fazer pelas pessoas abastadas também pode ser feito pelas não abastadas. Quer dizer, a gente pode fazer trabalho pro bono, trabalhar assim, receber uma remuneração financeira, mas recebendo, claro, outros favores em troca, outros tipos de processos solidários. Então a gente pode fazer projetos para entidades sem fins lucrativos, organizações da sociedade civil, podemos nos engajar usando esse conhecimento específico que a gente tem, se for necessário. Mas existe uma terceira maneira, além dessas duas, que é menos conhecida, mas eu acho muito mais poderosa ainda. Porque mesmo que a gente utilize o nosso tempo profissional restante para doar as outras pessoas, ainda assim a demanda social para projetos não vai ser completamente atendida. E aí eu vejo na terceira linha um potencial muito mais interessante, que é a gente se esforçar para infraestruturar os projetos de designers amadores. A gente conseguir compartilhar conhecimentos de maneira genérica, através de recursos educacionais abertos, através de palestras e cursos gratuitos. Quando a gente oferece nosso conhecimento, compartilha nosso conhecimento dessa maneira, a gente não está pescando peixe, a gente está ensinando a pescar. Mas por outro lado a gente também está aprendendo que tipo de peixe que as pessoas querem comer e que tipo de alimentação é mais saudável para elas. Às vezes nem é o peixe. E aí a gente pode também, nesse diálogo que a gente pode ter com projetistas amadores, a gente pode ajudar eles a se conscientizar de condições melhores e possíveis de vida. E eu acho que nessa terceira abordagem, que seria uma abordagem voltada para infraestruturar o projeto amador, a gente consegue ter um impacto muito maior, porque não é mais limitado a força de trabalho de uma pessoa, de um time, de uma equipe. É um processo que vai se espalhando, porque uma pessoa aprende e ela passa para frente esse conhecimento, desde que ele esteja aberto, licenciado com creative commons e outros mecanismos que estimule um conhecimento aberto, um conhecimento que esteja disponível para todas as pessoas.