Então, beleza. Então, aqui nós temos uma foto do Malinovski, que é o fundador da etnografia como método de pesquisa. O Malinovski é o que se pode dizer de um pioneiro da antropologia. Antropologia é o estudo do homem em seu contexto, a partir do ponto de vista do homem que está lá naquele contexto. A etnografia é um método que implementa isso na prática. Ela permite que o Malinovski, apesar de ele não ser da cultura do povo trobian, que ele estudou lá na Oceania, ele assim da assim consegue entender porque que os trobianeses fazem os rituais, se vestem daquele jeito, vivem daquela forma. Então, a etnografia visa desenvolver uma compreensão do contexto a partir da pessoa que está lá dentro. A etnografia, ela se baseia em vários conceitos. O principal deles é que é o etnocentrismo, a ideia de que uma outra cultura não pode ser julgada pela sua cultura. Então, você deve tentar se desmincular do etnocentrismo, de ver o mundo apenas pela sua perspectiva. Apreciar pessoas diferentes, que é a ideia de outro. Estranhar as coisas familiares, olhar com distanciamento para coisas que as pessoas olham normalmente, acham que é tudo normal, você acha que é estranho. Representar pessoas de diferentes maneiras, desenvolver e levar em consideração diferentes perspectivas, pontos de vista, e evitar o enviesamento, que é você ver a realidade que você quer ver e a realidade que está embutida dentro de você mesmo, tentando aí evitar que coisas que você acredita que existem, sejam impostas na realidade de uma maneira que elas não na verdade elas passam a existir, porque você está vendo elas. A etnografia não existe um mito da objetividade, existe sempre uma relação do pesquisador com os pesquisados e essa relação é construída no processo de interação entre o pesquisador e o pesquisado, ou seja, não existe uma verdade absoluta. A etnografia não vai estudar uma coisa que existe fora dela, ela constrói uma compreensão a partir dessa interação com o mundo e o mundo se transforma através da etnografia. A etnografia é bem complexa, é uma discussão longa que eu não vou querer ter aqui, o pessoal de humanas aí conhece um pouco mais. Eu quero focalizar na etnografia aplicada ao design, porque nos últimos anos a etnografia tem sido apropriada por outras áreas, o marketing, o design, e agora mais recentemente a computação tem usado bastante a etnografia para a definição de produtos, serviços e tecnologias que tenham mais a ver com as culturas das pessoas. No caso aqui tem um exemplo da Elane Iacob, que ela faz etnografia nas favelas do Rio de Janeiro. Ela avisa com isso obviamente informar as empresas que estão interessadas em desenvolver produtos para a classe CDI que vive nessas favelas. Ian Tipchase é um pesquisador da Nokia, ao era da Nokia, por muito tempo ele pesquisou os padrões de uso de celulares ao redor do mundo, visando com isso levantar as necessidades de usuários que não eram atendidos e oportunidades de inovação para a Nokia. Basicamente, resumindo, o trabalho da etnografia e do design é gerar insights a partir de observações. Então você observa a atividade acontecendo, a atividade do usuário está inserido, você olha aquilo e você gera um insight, "poxa, poderíamos fazer tal coisa, poderíamos fazer diferente nisso, poderíamos fazer diferente naquilo". Quem quiser saber mais detalhes desse assunto, recomendo altamente esse estudo do Nicolas Nova. É só pesquisar "Nicolas Nova Etnographic Study" que você vai ver isso aí no Google. A Nokia, ela descobriu que as lojas de aluguel de celular na África, elas tinham uma lista de telefones coletiva e aí ela criou uma funcionalidade para isso num próximo modelo de celular. Então, na realidade que a gente vive isso parece meio estranho, mas na África nem todo mundo podia comprar celular ou pagar o serviço para ter o celular. Então você tinha lá uma vendinha que era um negócio próprio, o cara alugava o celular por uma ligação por algum tempo e tal, então para que as pessoas pudessem gravar os endereços elas colocavam num caderninho coletivo e você podia consultar uma espécie de listas amarelas da coletiva colaborativa. Eles fizeram isso dentro do próprio celular depois que eles descobriram com essa pesquisa. A Motorola também começou a investir em pesquisa antes de ir à falência, ou melhor, antes de ser comprada pelo Google, e ela desenvolveu um modelo de celular que na época eu achei muito bom, um projeto, que é o "Mortal One". Alguém já viu esse modelo aí? No Brasil ele foi bem vendido, ele é bem fácil de utilizar, ele tem bem pouca funcionalidade, tem números grandes, não tem quase texto, é imagem, tudo ícone, visando justamente o público de pessoas analfabetas e além de tudo ele tem um ringtone muito alto, mais alto do que a maioria dos celulares e o objetivo disso é avisar os indianos que o telefone está tocando, porque na Índia é muito barulho nas ruas, os indianos gostam de participar de festas barulhentas e os celulares não ouviam tocar, até que a Motorola implementou essa função. Como é que você vai descobrir isso? Como é que você vai descobrir que os usuários não vão falar, não vão reclamar disso? Você vai ter que ir no local ver as coisas acontecendo, ver a pessoa não pegando o celular e aí eventualmente naquele momento observando isso para transformar no insight e que você deveria ter um som mais alto. Como a etnografia funciona? É um movimento de vai e volta entre vários estágios, você gera perguntas, hipóteses, interesses, coisas que você quer saber, você observa, entrevista as pessoas, faz oficinas com as pessoas para construir coisas juntas, você gera insights, necessidades, ideias, conceitos, interpreta, analisa os dados, compartilha as descobertas e co-cria novos serviços e produtos com base em tudo isso. Isso não acontece nessa ordem, pode acontecer de você ir daqui para cá, de lá para cá, é um movimento de vai e volta e sempre revisando seus conceitos. Na prática é assim, tá? Isso aqui são estudos de etnografia que eu fiz na Holanda principalmente, tem um aqui no Brasil, esse aqui em Londres, essa história dos três aí são na Holanda. São estudos que visam tentar entender como os usuários estão usando certos produtos, estão vendendo, oferecendo serviços, aqui tem a questão da habitação, como as pessoas estão em uma região de Londres, aqui tem o projeto de um hospital, aqui tem o uso de uma praça na Holanda e aqui tem análise desse mesmo projeto. Então você está sempre tentando gerar dados para depois analisar com calma e tentar entender os padrões de comportamento, que não são a princípio fáceis de entender. Um dos problemas que a gente enfrenta na etnografia é o excesso de informação, overdose de informação. Durante a minha pesquisa de doutorado que durou quatro anos, eu gerei 3.500 notas, anotações, assim que eu sempre transferia do Moleskine, do Caderno de Anotações, eu transferia para o computador e ia fazendo mapas mentais. E aí se eu juntasse todos os mapas mentais, dá esse mapa gigantesco aí. Como é que faz para você organizar isso aí? Você precisa de categorias, categorias que organizem os seus dados a partir de um critério pré-definido. No caso aqui eu estou usando a teoria da atividade, que é a teoria básica da minha pesquisa e a que eu vou mostrar para vocês também. Mas basicamente, a teoria da atividade fala que você deve separar as notas que você coloca para analisar a teoria na sua pesquisa, as notas que você coloca para analisar os fenômenos que você observa diretamente e as notas que você coloca para tentar definir o seu objeto de pesquisa e as notas que você coloca que você observa diretamente acontecer na prática. Então vejo que no começo da minha pesquisa, em 2011, eu tinha muito mais um enfoque teórico, pois desde que na época eu parei de ver teoria e fui só definir o meu objeto de pesquisa e aí eu tive algumas observações da prática. Depois a parte de teoria fica muito forte e aí a parte de prática também tem um núcleo, até que a parte prática acaba ficando quase tão grande quanto a parte teórica no final do processo. E essas notas se livram umas às outras, você vê que entre um e outro há uma conexão no meio da pesquisa, depois as coisas andam meio que separadas porque eu já não precisava mais tanto fazer anotações e fazer as ligações entre as anotações. Muitas notas que eu tomei durante essa pesquisa eu acabei não usando depois na análise de dados, mas isso é normal, na etnografia você tem que coletar coisas que você não sabe se vai usar. Mas eu trago esse exemplo para mostrar a importância da teoria na pesquisa etnográfica. Alguns pesquisadores são contra o uso de teoria para evitar um envesamento, na realidade você vê só aquilo que a teoria diz que existe. Eu prefiro ter teoria porque ela focaliza mais na observação, ela ajuda na análise de dados e também ajuda a co-criar conhecimento ao longo do tempo, porque as pessoas vão usando a mesma teoria e isso vai acumulando conhecimento. Claro, tem as limitações do envesamento, conclusões apressadas, distorcer os dados para encaixar na teoria, mas enfim. Existem várias teorias que você pode usar para a etnografia de design, aqui eu vou apresentar para vocês a teoria da atividade, mas tem também teoria da torre rede, engenharia cognitiva, etnometodologia e outras. Alguém conhecia alguma dessas? Não? Tá bom. Teoria da atividade se baseia no conceito de que a minha própria existência é uma atividade social, então mesmo que eu esteja sozinho, eu estou vivendo porque eu estou usando recursos que foram fornecidos socialmente, eu tenho a linguagem que eu aprendi que eu estou usando que foi adquirida socialmente e eu tenho a intenção de produzir algo que eu vou comercializar socialmente. Então não existe atividade que não seja social nessa teoria. E por que isso? Agora entra no detalhe, como que a atividade social entra no sujeito? É através da mediação. Então tudo que você faz é mediado por um signo. Então dentro da teoria da atividade não existe aquele conceito de estímulo-resposta. Por exemplo, se eu pegar um... deixa eu ver aqui. Vou pegar esse sorretinho aqui. Com licença, Samina. Eu não falei nada para ele, eu bati com isso no joelho dele que ele fez e chutou. Como é que você sabia que era prostata? Reflexo. Reflexo? Não, todo desenho ou filme já apresenta essa ficção. Então você aprendeu esse signo. Você não sentiu reflexo agora quando eu te bati, por que isso que não é forte e suficiente? Porque eu não sou médico, não sei o lugar certo de bater, então não é quando eu reflexo. É pelo aprendizado social, que o Wynow sabe que ele tem que levantar a perna. A aprendizado que eu acabei dele. Ontem assisti a bandeira branca. Da onde que existiu a bandeira branca? Que é a rendição de um exército para o outro. Pois é. Da onde surgiu assim? Quem levantou a primeira bandeira foi o Samin Hjal. E hoje existe até hoje. E as pessoas continuam fazendo. E é mundial, por mais que a pessoa não saiba nem ler, mas ela sabe que a bandeira branca é rendição. É isso aí. É o aprendizado social. O que acontece então é que não existe essa estímulo-resposta direto, porque existe sempre um signo que media a relação, que dá significado. Então vamos ver outro exemplo aqui de como é que as pessoas aprendem. Um exemplo do bebê. Então o bebê está ajudando os braços dele aleatoriamente, eles fazem isso direto, você presta atenção no bebê, você vê que ele não tem intenção de fazer todos os movimentos, muitas vezes até quer controlar os movimentos, mas não consegue ainda. E aí de repente tinha um brinquedo perto e a mãe entendeu que ele estava apontando para aquele brinquedo. Então a mãe vai lá, pega o brinquedo e traz para o bebê. O bebê não tinha intenção, ele não tinha esse signo. Mas quando a mãe trouxe o brinquedo e o bebê percebeu que existia relação entre aquele movimento, meio assim na direção e o objeto que ele criou, ele adquiriu aquele signo. E aí o bebê começa a aprender, ele aprende o signo de apontar. O aprendizado então de modo geral surge até a participação numa atividade. E um documentário que mostra isso de maneira brilhante é o território do Brincar. Alguém já assistiu? Muito bom, galera, assistam esse documentário que saiu no passado. Ele vai lembrar bastante vocês que essa para quem teve a oportunidade de ter uma infância feliz, esse filme vai fazer você chorar, você vai sentir saudades. Mas ele mostra então crianças aqui brincando de quê? Brincando de casinha, de cozinhar. E por que elas estão brincando de casinha, de cozinhar? Porque são coisas que elas querem aprender, essas crianças. Elas estão numa atividade, estão tão engajadas com aquilo porque elas se divertem, mas elas também têm sede de aprender o que que ela pode fazer dentro de uma das atividades dessas. Essa teoria da atividade tem um nome mais comprido, nome técnico que é teoria histórico-cultural da atividade ou em inglês Cultural Historic Activity Theory, daí aquele acrônimo chat. Se alguém quiser pesquisar, a maioria do material na internet está disponível em inglês, não em português. Então por isso eu passo a referência do nome completo. Vamos aplicar então a teoria da atividade para análise de uma atividade que vocês poderiam estar pesquisando caso que quisessem criar um startup na área de cuidados de bebês primaturos. Então você vai lá observa como é e gera uma coisa assim. É isso que vocês vão ter que fazer durante essa semana. Primeira coisa, perguntar-se sobre o que que as pessoas estão transformando com a atividade delas. Quem são as pessoas? Na teoria da atividade o termo técnico é sujeito. Depois vocês vão ver, vocês vão ter essa informação para vocês poderem usar como referência um trabalho. O sujeito vai transformar um objeto. Objeto é o que as pessoas estão transformando. Então a minha pergunta é o que que as pessoas estão transformando quando elas estão engajadas na atividade de cuidado intensivo de bebês primaturos? Pergunta para vocês, o que vocês acham que estão transformando? Estão salvando vidas, o que está sendo transformado? A saúde de quem? A saúde do bebê, exatamente. O objeto dessa atividade é a saúde do bebê, certo? Então tenta se transformar a saúde do bebê de ruim para boa, basicamente. Que resultado é esperado? Então, bebê mais saudável e também uma mãe feliz. Quais são os meios? Quem sabe alguns instrumentos são utilizados para cuidar do bebê? Incubadora, muito bom, bem lembrado, incubadora. Então análise preliminar, sujeito são a enfermeira, a mãe, o médico, objeto a saúde do bebê, o resultado é um bebê saudável e uma mãe feliz, então instrumentos, incubadora, nebulizador, antibióticas e o whatever. Não confundam objeto com instrumento. A palavra objeto na teoria da atividade é um pouco difícil de entender no começo, porque a palavra objeto dá a ideia de que é uma coisa física, mas na teoria da atividade o conceito é que ele tem um lado físico e um lado representativo, representação e físico ao mesmo tempo. Aqui está o exemplo do bebê, a saúde do bebê, melhor dizendo. Então a saúde do bebê, esse objeto da atividade, ele tem um lado representado pelos instrumentos, que é os números, os valores que estão aparecendo nos instrumentos. Aqui está medindo um batimento cardíaco, aqui tem sei lá, um sensor de ventilação, um actuador de ventilação, um negócio da... acho que ele mensura a pressão do sangue e por aí vai. Para quê? Para você tentar entender a saúde do bebê, porque só pelos sinais da pele, sinais vitais que você observa diretamente, você não consegue ter acesso muito à saúde do bebê. Então você precisa dessa rede de instrumentos representando a saúde do bebê. Então, o que é a saúde do bebê? É os instrumentos de representação do bebê mais o material do bebê, que é o corpo dele. Então são essas duas coisas, o objeto tem esses dois lados, físico e simbólico. As enfermeiras utilizam essas representações para coordenar sua interferência sobre o corpo do bebê. Veja, elas estão aqui trabalhando numa situação de risco, o bebê precisa receber bombadas de ar ritmadas para poder sobreviver, ele está numa situação crítica e eles precisam coordenar essas bombadas de ar com o batimento cardíaco dele. Então elas não estão olhando para o bebê mais, vejam, não estão olhando para o bebê, mas elas estão interferindo sobre a saúde do bebê com o intermédio daquelas ferramentas que foram adquiridas socialmente. É a tal da mediação simbólica. Isso aqui é um exemplo bruto de uma coisa que acontece em todo lugar, às vezes de uma maneira as representações elas estão físicas, às vezes elas estão apenas no plano da fala, por exemplo, ou do escrito, mas aqui é uma coisa bruta, você vê que ali a saúde do bebê agora, a atenção dela é toda ali, apesar do material ser o mesmo, que é o corpo do bebê. A teoria da atividade ela também analisa como que as pessoas trabalham em grupo, porque como eu falei, toda atividade social, então se é uma atividade social ela tem uma comunidade, uma comunidade de pessoas que se preocupam com esse objeto saúde do bebê. Qual a característica dessa comunidade? A equipe de cuidados intensivos de bebês é uma comunidade sensível aos familiares do bebê, porém eles não querem se tornar muito afetivamente envolvidos com os bebês, porque se os bebês morrerem e há uma chance de isso acontecer, eles não se sintam muito tristes e não possam nem trabalhar de repente, como uma mãe que sofre essa perda. E aí Kevin, está atuando lá? - O seu lago é bizarro. - Ah tá, fica à vontade. Então a teoria da atividade, como eu falei, ela tem um lago entre sujeito e objeto, mas ela tem também entre sujeito e comunidade, e quando você começa a ver a relação entre sujeito e comunidade, surgem regras. E a relação entre objeto e a comunidade surge a divisão do trabalho. Então, claro que a gente formou aqui os elementos todos que vocês vão ter que investigar na atividade que vocês estão tentando mudar. Instrumentos, sujeito, objeto, resultado, regras, comunidade e divisão do trabalho. Se você conseguir identificar todos esses elementos na sua pesquisa etnográfica, você consegue entender melhor o contexto dos seus usuários e a situação em que o seu negócio vai ir a impactar. Aqui está um exemplo de regras mais divisão do trabalho, um médico faz um plano de acompanhamento do bebê e as enfermeiras precisam seguir a risca desse plano. É claro que pode ser que aconteça emergência e as enfermeiras têm desviado o plano, e aí você tem a ação de recriar as regras, de redefinir as regras das próprias enfermeiras, apesar do médico não gostar muito disso. Então o modelo do sistema da atividade, que é o que vocês vão utilizar na sua pesquisa etnográfica, ele se converte de uma maneira mais fácil para vocês em um questionário. Esse questionário não é para vocês perguntarem para as pessoas, é para vocês se orientarem sobre o que vocês precisam obter informação. Então não chegue perguntando "Ei, qual resultado esperado da transformação?" Não pergunte isso para o usuário, o usuário talvez não saiba responder, mas uma vez que você entende a teoria, você entende como perguntar para as pessoas essa informação que você está buscando. Então esse guia da atividade, cada pergunta dessas focaliza em um daqueles elementos, com exceção do onde. Esse onde não está nesse modelo, e é uma crítica que eu faço na minha pesquisa de doutorado, que eu acho que deveria ter um item, espaço ou lugar, mas eventualmente não tendo, eu incluo a pergunta mesmo assim. Depois vocês vão pegar esses slides e vocês anotam as suas perguntas todas. Depois que vocês fizerem essas perguntas, começarem a receber respostas, vocês podem utilizar várias ferramentas para chegar nessas respostas. O próprio corpo, quando você precisa observar diretamente, "Ah pessoal, eu vou ligar a pessoa", beleza, mas talvez você não consiga ver a coisa acontecer e isso seja fundamental para você entender aquele contexto, para entender aquela atividade. Então por isso que eu coloco como instrumento de coletor de dados o nosso corpo. Você vai ter que sair de casa e isso talvez seja o instrumento mais sedentário de todos que vocês vão utilizar. Muita gente tem dificuldade de fazer essa atividade de pesquisa etnográfica porque tem vergonha, porque não gosta de sair de casa, não gosta de sair da frente do computador, acha que é perda de tempo e tal. Galera, se vocês quiserem fazer negócio, vocês vão ter que sair da frente do computador e conversar com pessoas, porque negócio se faz com pessoas. Caderno de informações, tipo Moleskine. Eu gosto muito desse modelo Moleskine porque ele é bem portátil, cabe num bolso, eu carrego sempre comigo, cabe, dá para botar um lápis dentro assim, então eu basicamente não preciso de mais nada se eu coloco no bolso e vou fazer minha pesquisa etnográfica e vou anotando cada vez que eu precisar. O legal do Moleskine também é que ele não tem pauta, então eu posso fazer desenhos, se eu observar uma coisa eu posso fazer um diagrama também. Tem uma parte que você pode colocar coisas no final, aqui uma espécie de bolso e principalmente esse elástico aqui que mantém ele fechadinho assim sem bagunça e protegendo mais o conteúdo. O meu modelo não é Moleskine, eu só uso o nome Moleskine apenas para vocês, não estou vendendo o Moleskine, eu só uso porque é o formato que as pessoas copiam, mas esse aqui é da marca Moleco. Com certeza aí rolou uma apropriação canibal. Smartphone para tirar fotos, gravem áudios das pessoas explicando o que elas estão fazendo, coletem documentos como folders, papéis, coisas que vocês não podem coletar, tiram uma foto do documento, utilizem um protocolo de pesquisa como guia de atividade, aquelas perguntas que eu mostrei e se quiser fazer uma lista de outros tópicos com questões que vocês querem investigar, tem isso anotado no caderno antes. Comece a pesquisa montando essa visão geral, monta esse modelo e aí vai trabalhando com as partes. Então esse modelo inicial é o que a gente chama de todo caótico, é quando você imagina que é um quadrado e é bem simples, é bem fácil, aí você começa a pesquisar, olhar, observar atividades, não é quadrado, é um monte de círculo e cara, é diferente os círculos aqui, você começa a entender, de repente você vê que os círculos faziam parte de uma lógica, sei lá, de um todo, holístico, você está vendo por vários aspectos. Então basicamente você começa com a visão geral caótica, vai para os detalhes daquele modelo e volta com aquele modelo atualizado. Então agora a gente vai ver as partes, então cada um daqueles elementos lá daqui a gente vai ver uma maneira de você analisar aquele elemento. Quando você vai analisar o espaço, isso aqui eu estou mostrando como exemplo, vocês não precisam usar esses modelos aqui que eu estou mostrando, são só exemplos. Se você quiser analisar o espaço, saber mais sobre o espaço, você pode pedir para as pessoas desenharem uma planta baixa assim simplificada do local de onde e para onde elas vão no dia a dia delas. Aí o cara vai lá desenhar em uma cor só, "ah eu sou o enfermeiro, eu venho daqui, vou para cá, depois vou para lá". E por aí vai. Do outro lado tem um exemplo de uma análise de mapeamento temático, a gente foi no bairro de Londres e pediu para as pessoas dizerem onde que elas vão para ter lazer da natureza, onde elas se sentem mais em paz, onde elas veem ratos, tinha rato lá naquela região, e aí a gente ia lutando para avaliar a qualidade do espaço. Se vocês quiserem analisar os sujeitos, as pessoas que fazem parte, análise de stakeholder, mapa de stakeholder, daí você papeia os stakeholders em relação à importância do projeto, tem a ver com o interesse que eles têm, o dinheiro tem a ver com o poder que eles têm de influência, e aí você pode mostrar que esse stakeholder aqui, esse pertencer interessado do projeto tem muito interesse, muito poder, ele precisa ser envolvido nas decisões, enquanto que esse cara aqui não tem tanta influência e está bem distante, não está tão interessado. Do outro lado vocês veem personas, que é também um método de você identificar as pessoas que são usuários, consumidores, e mapear as características que eles têm para inspirar sua equipe a sempre se lembrar desses usuários quando estiver desenvolvendo o projeto. Objeto da atividade pode ser investigado através de mapas mentais, massa de modelar, mapa mental a maioria de vocês de imagina já conheça, você define o nome do objeto e vai traçando as características. A massa de modelar é o método mais alternativo que a gente usa em Zeynkin, que tenta ajudar as pessoas a focalizar na metáfora, uma metáfora que descreve o que ela faz, muitas vezes o trabalho dela é muito mais representativo, representacional do que material físico, então elas não conseguem representar fisicamente. Aqui por exemplo, você vê um pessoal que trabalha dentro da CETRAN com as faixas de pedestre, então eles fazem a sinalização, fizeram a faixa pedestre que é uma coisa física que eles trabalham, mas e o gabinete? Qual é o objeto físico que eles trabalham? Não tem muito claro, então eles fizeram uma metáfora de um cérebro para descrever o objeto do trabalho deles, que eles pensam a estratégia da CETRAN, da Secretaria de Trânsito. Se vocês quiserem analisar resultados da atividade, vocês podem usar o Value Proposition Canvas, na verdade eu acho que vocês vão ter que utilizar esse canvas aqui nas próximas oficinas, tem os professores que são super fãs disso aqui, e tem também o diagrama Fishbone, o diagrama Fishbone é... Alguém já usou? Espinha de peixe? Como é que traduz pra espinha de peixe? Então tá, espinha de peixe você coloca um resultado aqui, que pode ser bom ou pode ser ruim, geral ruim, isso aqui é usado para solução de problemas, mas você pode usar também para ver o que você precisa fazer para melhorar. Então você coloca aqui quais são as causas desse resultado, aí você tem as causas gerais e os detalhes de como nós fomos se agravando e tornando isso aqui possível de acontecer. Então é uma maneira de você focalizar e afundar no como que aquele resultado surgiu. Análise de instrumentos pode ser feita através de redes, eu gosto muito desse formato aqui, que é o diagrama torre, você coloca um arco-úrbio, as pessoas, os stakeholders, e você mostra como que eles se relacionam, com que ferramentas eles se relacionam, por exemplo, esse cara aqui conversa com o telefone com esse cara aqui, mas com esse cara aqui ele nunca conversa com o telefone, eles se encontram em reuniões. Já esse cara aqui nem conhece esse cara aqui, mas ele usa a mesma base de dados que o cara, e essa base de dados fornece dados que são usados às vezes em reuniões entre os dois. É que esses caras não se conhecem, não trabalham juntos, mas compartilham a mesma impressora, e de alguma maneira eles vão ter algum tipo de contaminação entre as atividades deles. Do outro lado tem um outro exemplo de estudar os instrumentos, é você pedir para as pessoas colocar todos os instrumentos na mesa, organizado, tirar uma foto, pode ser a partir da mochila, pedir para abrir a mochila, tirar a foto de tudo que você tem na mochila, falar "para que isso, para que alguém iria fazer isso, a Nokia ia fazer isso, para poder pensar que tipo de serviços que precisam ser incorporados dentro do celular, para reduzir o número de coisas que as pessoas carregam nas mochilas e nas bolsas". É interessante, né? Divisão do trabalho e da atividade. Aqui tem o diagrama de busch, que é muito usado na OML, que você coloca no pessoal de computação, talvez conheça, você coloca um ator por linha, e aí você mostra como ao longo do tempo os atores interagem, que estão documentando o sistema do mercado pago. Então o comprador paga o mercado pago, o dinheiro, o mercado pago confirma o pagamento, e aí o vendedor, ips, eventualmente não enviou o produto até a data limite, o que acontece? Aí vai rolar. Enquanto isso o mediador, que é o mercado pago, está retendo o dinheiro, ele não entrega para o vendedor, só entrega depois que houver uma confirmação de que o produto foi entregue e está ok. Ou eu acho que entrega o dinheiro se tiver uma data limite que ninguém fala nada, também tem isso. Aqui tem uma outra apresentação mais espacial, que focaliza na transformação de matéria-prima por diferentes atores numa fábrica, é bem comum esse tipo de coisa na fábrica, mas eu acho que pode ser usado metaforicamente também para trabalhos de escritório e intelectuais. Regras podem ser representadas com diagramas de fluxo dizendo, você pegou esse documento, tem que passar esse documento completo com essas informações para a próxima pessoa, que vai pegar, passar para o outro, e aí você tem aqueles fluxos intermináveis da burocracia. Normalmente a parte das regras é isso da burocracia, da organização. Ou você tem também algoritmos de decisão que informam para as pessoas o que elas têm de fazer e tem um diagnóstico de saúde. Para estudo da comunidade, você pode pedir o mapeamento da comunidade, tendido para as crianças desenharem a comunidade, em geral elas conhecem melhor as características da comunidade, elas conseguem expressar de uma maneira mais afetiva. Você pode, para os adultos, pedir para fazer colagem, também colar fotos de revista, assim que faça sentido que expresse os valores da comunidade. O importante é que quando você termine essa análise das partes, você volte para o todo e reconstitua o seu diagrama da atividade. Aqui eu estou mostrando em laranja, novas informações surgiram ou informações foram cortadas por conta de fazer essa análise da atividade por partes. Existem tópicos avançados na pesquisa etnográfica com o interia da atividade, por exemplo, você estudar várias atividades ao mesmo tempo e ver as conexões entre elas. O conceito de contradição, que é como a teoria explica que a transformação, a mudança acontece nas atividades. A expansão do objeto, que é como ela acredita que as coisas, a inovação acontece. E a etnografia participativa. Eu não vou abordar esses tópicos avançados no feedback, não dá tempo, só estou mencionando apenas para vocês saberem que existe. E se quiserem pesquisar, ali em atrás. Essa contradição que eu ouvi de ver em design think? Isso, bem lembrado, tem uma disciplina eletiva de design think oferecida na minha escola de arquitetura e design, que ela é aberta para todos os cursos, então quem se interessou e quiser ir mais a fundo nesse assunto, tem uma disciplina de 60 horas, não é assim, 40, 60 horas? Duas aulas por semana. É, duas aulas por semana. E ela acontece no inglês do semestre também, ela é dada em inglês. Então quem tiver interesse no próximo semestre pode se aprofundar mais nesse assunto. Por último, tem um vídeo aqui, mas eu não vou mostrar esse vídeo. Vocês têm como tarefa assistir esse vídeo por conta própria, antes de sair a campo. Ele explica alguns detalhes, algumas dicas de como fazer a etnografia para design. Acho que tem uns 5 minutos esse vídeo. Então eu recomendo vocês assistirem em casa depois, antes de fazer as pesquisas, tá bom? Vocês têm alguma dúvida sobre o assunto que foi passado, sobre a tarefa que vocês têm para fazer? Como vocês vão entregar essa pesquisa? Tragam para a próxima sala de aula todas as anotações, fotos, impressa, todo material que você tiver, que você tiver descoberto. Traga documentos, tudo que você conseguir coletar se souber, traga, mas não traga digital só, traga também em formato físico. Por quê? Porque a gente vai montar painéis para a gente poder visualizar os dados que vocês receberam. Então para isso a gente vai usar material físico. Beleza? A próxima aula, estou falando aula, mas é oficina, né? Na próxima segunda-feira, nesse mesmo horário. Vocês têm o cronograma lá, isso, né? Então vocês precisam, basicamente, voltando ao slide mais importante para a atividade, é o das perguntas, tá? É o guia da atividade. Então vocês têm que responder essas perguntas aqui. O modo como vocês vão trazer os dados, não se preocupem, vocês podem trazer desorganizado, caote, que a gente organiza quando for. Nos encontrarmos na segunda-feira. Vai postar no grupo, esse slide. Bom, alguém tem alguma dúvida? Não? Esses métodos, você tem uma quantidade mínima, nós podemos usar qualquer um, ou tem que ser todos? Da persona, não sei se você apresentou. Não, você não precisa usar esses métodos, é só estar dando exemplo. Se você conhecer o método, você usa. Se você quiser aprender o método, você usa. Se você não conhecer nenhum deles, só anota e usa-los. Tá bom, vamos fazer um exercício rápido, a gente tem mais... Terminou um pouco antes aqui? Você pode também, pode fazer mais de uma atividade, né? Então, qual a atividade de estudar? Esse é um bom ponto. Vamos fazer o seguinte, estudem a atividade que vocês querem mudar no mundo. Você pode ter várias atividades, mas estudem a atividade que vocês querem mudar no mundo. Não vai estudar a atividade do seu negócio, porque não é essa que vocês querem mudar no mundo. Essa é a atividade que vai ajudar a outra atividade a ser modificada, certo? Porque todo negócio tem uma atividade interna de gestão. Não é essa atividade que eu tô interessado aqui, eu tô interessado na atividade do usuário, certo? A toda nossa conversa é nesse sentido. Antes que vocês saiam a campo, pesquisem, vamos validar quais atividades vocês vão estudar? Então, juntem os grupos e montem esse diagrama aqui mesmo, que vocês não têm entendido muito bem como fazer. Só pra gente poder validar, a gente tem mais dez minutos, que a gente tem andado cedo, e aí eu vou passar nos grupos aí pra gente verificar isso. Beleza? Vocês podem fazer isso se precisarem de caneta, tem caneta aqui na caixa. Papel eu vou buscar lá em cima, tá? Então, dez minutinhos aí pra fazer essa chave. [Som do computador] Então, dez minutinhos aí pra fazer essa chave.