Muito obrigado, Diego, pelo convite. Muito obrigado também aos colegas que daqui a pouco vão começar comigo na mesa redonda. E especialmente à Taciana Portoal, membro do Remundo, com quem a gente já teve a oportunidade de ter algumas trocas, inclusive eu vou falar sobre elas daqui a pouquinho. Então é muito legal a gente poder se juntar a forças e falar a partir do lugar da periferia, ou pelo menos o lugar de aliado da periferia. Porque a gente precisa se fortalecer, a gente quer sobreviver. E se a gente quer se desenvolver, porque o centro não faz questão de que a gente se desenvolva, pelo contrário. O centro se beneficia do nosso desenvolvimento. E quando a gente faz força e promove essa solidariedade na periferia, nas periferias, a gente se fortalece, se desenvolve, e desenvolvemos para todo mundo. O que o centro também ganha quando a periferia se desenvolve, embora não tenha muita noção disso. Vamos lá, então, gente. Eu pretendo fazer uma apresentação rápida sobre uma reflexão que vem nas minhas andanças pelas artes e pelo design. Eu tenho tentado aproximar esses dois campos com um conceito de antropofagia, que é um conceito enraizado na nossa cultura brasileira, que é um conceito criado para combater o imperialismo, em especial a invasão cultural e a colonialidade, numa época que ainda nem se chamava com esse nome. E a partir disso, pensar um design de interações com tecnologias da informação. Eu vou apresentar uma proposta e as minhas experiências, digamos assim, buscando nesse conceito da antropofagia uma tentativa de enraizar a prática de projetos de interações mediadas por computação, mediadas por tecnologias da informação, a partir de nossas matrizes culturais, visando, como mencionei, a libertação, a emancipação das periferias dos centros dominantes. Bom, o design de interação é uma área que herda, já do design de produto, do design gráfico, uma preocupação com uma estética, mas é uma estética primariamente formal. Se você olha os produtos da Apple, eles obedecem uma lógica visual parecida. Você tem formas, você tem cores, você tem relações entre coisas que aparecem similares entre os diferentes dispositivos. Isso é considerado uma das características fundamentais do projeto da experiência integrada, um exemplo também do chamado design centrado no usuário. Porém, o segredo dos aplicativos, dispositivos, dos softwares da Apple não é tanto a estética formal, que é bastante comedida, simplista, minimalista. O detalhe que encanta está mesmo nas interações que você tem com esses dispositivos. Ali surge uma estética específica, que é uma estética que não é somente funcional, não tem a ver só que se o produto funciona e faz o que ele deveria fazer, mas o como ele faz, como ele oferece as possibilidades de fazer, é que é um negócio que encanta as pessoas. E isso, por exemplo, no gesto "pinch", esse gesto de você abrir o dedo e com isso acompanhar a imagem, é uma criação patenteada da Apple que fez uma diferença enorme na época que foi lançada e continua influenciando o design de interação gestual em diferentes plataformas. Mas esse design de interação não é só um funcionamento de um equipamento, ele também é um funcionamento dos meus dedos. Eu estou fazendo esse gesto porque esse gesto é concreto, ele é manual, ele é corporal. E tudo isso faz parte desse conceito de estética da interação que eu estou tentando trazer à baila e buscar em enraizamento a nossa cultura. Porque há um problema com essa estética da interação. E não só quando a gente importa esses dispositivos, ou mesmo copia dispositivos estrangeiros e reproduz as mesmas estéticas da interação, a gente também vai incorporar certos gestos e certos rituais no nosso cotidiano. E esse cotidiano vai ser transformado por esses gestos, vão haver novos significados. Então, por exemplo, aqui tem dois gestos que foram catalogados por um projeto muito bacana chamado "Curious Rituals", desenvolvido pelo "Near Future Laboratory". Eles pesquisaram quais novos gestos surgiram com dispositivos móveis. E aí, no caso do "Haunted Interface", são interfaces assombradas, você tem pessoas levantando o seu joystick quando estão jogando algum jogo, videogame, mesmo que o dispositivo, o joystick, não tenha um acelerômetro, ele não consiga capturar esse gesto, se mexer. Então a pessoa vai jogar um jogo de corrida, vai ir para um lado, vai para o outro. Então essa expectativa de que o dispositivo entenda a pessoa é um gesto que está incorporado também no comportamento da pessoa. Então não é só o computador que está programado para o gesto. As pessoas, os corpos das pessoas também se programam para o gesto. Quanto mais ele é repetido no seu dia a dia, mais o nosso corpo se habitua, também é programado a interagir daquela maneira, e muitas vezes a gente interage sem ter uma consciência completa daquele ato. Por exemplo, um segundo exemplo, "Fuss-E-Owner Syndrome", que seria a síndrome da pessoa que gosta de futricar no celular toda hora, ela põe em cima da mesa em uma conversa e volta e meia, ela ajusta com a posição do celular, ela muda de posição, bota para um lado, bota para o outro da mesa, e volta e meia ela dá uma olhadinha de canto de olho, "Opa, será que tem alguma atualização nova?" Então a gente faz isso às vezes sem perceber, mas as outras pessoas percebem. Quando você está em uma mesa de jantar ou em uma mesa de reunião, e você vê que o seu interlocutor está olhando muito para o celular, significa que possivelmente você não está sendo interessante, está deixando a pessoa chateada, entediada, ou então essa pessoa está muito preocupada com alguma coisa que vai acontecer, e aí cabe você perguntar, "Você está preocupado com alguma coisa?" Então isso tudo faz parte dos rituais que estruturam o nosso cotidiano e acostumam o nosso corpo a certas posturas e atitudes. E comportamentos, como se fossem normais. Então o comportamento constitui a normalidade do nosso ser social. Porém, essa normalidade não é biológica nem natural, ela é construída pela cada sociedade, cada cultura. Esses aplicativos, essas interfaces digitais que entram no nosso dia a dia, propõem estéticas de interação, propõem gestuais, propõem gestos, rituais, esses aplicativos, essas estéticas estão mudando o nosso comportamento, fazendo a gente achar que é natural vigiar uma pessoa ou outra. Então vejam como, quando a Apple pergunta para você se você quer ser rastreado, mas de um jeito em que você sente vontade de ser rastreado por ser uma vantagem, porque a opção simples desse diálogo é permitir. Permitir é mais fácil do que não permitir. Na verdade a opção não permitir não está escrita, está escrito pedir ao app para não rastrear, que é quase um pedir por favor não me rastreie. O que não dá a sensação de que eu tenho o poder de decidir se eu vou ser rastreado. Eu tenho que pedir para alguém para não ser rastreado, que essa pessoa pode não aceitar. Então eu não tenho a escolha não permitir, eu posso permitir, essa escolha eu tenho. Então vejam como há um desbalanço nessa relação, que é muitas vezes passada desapercebida, e a gente simplesmente está acostumado a aceitar, a se submeter, a baixar a cabeça, e a aceitar o que os aplicativos digitais, serviços digitais nos oferecem. Mesmo que a gente não leia os termos de uso. Agora veja como isso se torna cada vez mais integrado na nossa cultura, e cada vez gerando resultados e mudanças que a gente não gostaria que acontecesse. A gente pode achar que uma coisa pequenininha não faz muito impacto, mas se ela é repetida muitas e muitas vezes pela sociedade, ela se torna uma coisa grande. Então do lado direito nós vemos aí um exemplo de um Insta-stalker, que é basicamente uma pessoa que fica vigiando uma outra pessoa no Instagram, usando aplicativos diversos para não deixar rastros, para elas não saberem que estão sendo vigiadas. Ao mesmo tempo você vai ter aplicativos para pessoas detectarem os Insta-stalkers, que basicamente podem ser admiradores incógnitos, mas podem ser também abusadores, pessoas que estão querendo provocar aquela pessoa, ou então descobrir uma fraqueza para ser explorada. Quando a gente acha que isso é normal e está tudo bem, a gente está mudando nosso padrão ético. Então veja como a partir de uma coisa muito pequenininha, a gente vai ter uma mudança a longo prazo, que vai ter impactos diversos na nossa vida. Então quando a gente fala de design de interação, eu estou falando de se posicionar frente a esses desafios éticos. Agora, muitas vezes designers não se perguntam sobre isso. Quando eles não se perguntam, eles também estão reproduzindo padrões estéticas de gestos e rituais que vão oprimir alguém. Então essa estética da interação, ela acoberta a opressão entre usuários. Um usuário vigia o outro, mas acoberta também, e esconde, pior, uma outra opressão específica entre designers, que têm o poder de definir essas tecnologias, ou pelo menos algum poder, eles têm de voz nessa discussão, em favor de... quer dizer, na verdade, eles usam isso contra os usuários. Então eles criam maneiras para guiar a atenção da pessoa para ela se converter e comprar algum produto, mesmo que para isso ela perca a sua privacidade. Então vocês veem a imagem extraída de uma história de quadrinhos chamada UX Hero, que de hero não tem nada, na verdade ele é um vilão que só quer salvar a própria pele no final do dia. Então vejam como esse discurso de você manipular os usuários, ele está tão integrado dentro da profissão de UX designer, ou designer echu, como eu prefiro traduzir em português, como uma questão ética da profissão, normal você manipular as pessoas para elas fazerem o que elas não querem, comprar um produto, por exemplo, ou vigiar alguém, ou ser vigiada. Agora, de uma maneira mais ampla, não é só a opressão de um designer com um usuário, é a opressão de um país com outro país, porque o Brasil é um país usuário, se a gente considerar um corpo coletivo, nós não produzimos a maior parte das tecnologias que utilizamos no nosso cotidiano. Isso é um fenômeno global, não é só o Brasil que é um país usuário, tem vários países subdesenvolvidos que dependem dessas tecnologias no nível tal que uma universidade pública como a nossa não funciona, sem uma tecnologia estrangeira, isso pode ser definido como um novo tipo de colonialismo, colonialismo digital, ou uma continuação, um desdobramento digital de um colonialismo, ou de uma colonialidade que já estava presente na nossa sociedade. A pergunta que me interessa mais não é fazer essa crítica, embora ela seja fundamental para se situar, mas principalmente, como é que a gente quebra esse ciclo de opressão em que um oprime o outro, um vai se acostumando, vai se naturalizando com a opressão. A gente precisa repensar essas interações estéticas, então, para isso, a gente precisa repensar as práticas de design que dão origem a essas interações estéticas. Existem práticas que vão reproduzir a opressão e ignorar a libertação, no topo desse diagrama, existem práticas de design que vão combater a opressão e buscar a libertação. Então, isso aqui é uma parte de um esquema, de um programa de pesquisa mais amplo chamado "Projetando para a Libertação", que eu desenvolvo há alguns anos, já com a colaboração de vários pesquisadores, que tenta buscar esses caminhos para superar a opressão sem negar as contribuições interessantes que vêm do Norte Global. A gente busca sempre hibridização e descolonização, processo epistemológico, processo metodológico, que passa pela crítica e também pela criatividade. E aí, a maneira específica que eu vou abordar agora na minha fala, que a gente tem trabalhado muito, fica no campo direito, na questão das metodologias. Muita gente discute descolonização hoje no design, focando nas epistemologias de design, isso é importante. Mas muitas vezes se esquecem de que também precisamos de ferramentas técnicas, maneiras diferentes de fazer as coisas que sejam mais apropriadas para os nossos interesses e condições de consciência. Então, aqui nós vemos um diagrama que nós construímos a partir do estudo da antropofagia, um movimento que surge no começo do século XX, a partir da Semana de Arte Moderna e seus desdobramentos, uma aglutinação de artistas brasileiros que quiseram pensar a nossa realidade a partir das nossas referências culturais e dos conflitos que nós temos especificamente aqui, ao invés de reproduzirem obras, estilos que vinham do estrangeiro sem haver nenhuma tropicalização, sem fazer nenhuma mudança nesses estilos. Então a antropofagia passa, segundo a gente definiu nesse modelo, eu e o professor Gonzato da PUC do Paraná, que fizemos essa adaptação, passa por um processo de admigração de algo que você vê num outro, que pode ser um estrangeiro, pode ser um europeu, pode ser um estadunidense, você devora esse outro, devora metaforicamente, não vai sair comendo uma pessoa de verdade, mas você pode comer as ideias dela e isso é a antropofagia chamada alta. A antropofagia baixa é o canibalismo, a antropofagia alta é esse canibalismo cultural, que você come as ideias da outra pessoa quando você come a ideia e não deixa de existir. Uma ideia sempre se espalha quando ela se multiplica, quando você tem essa devoração. Depois você digere, aí entra o ácido crítico, para depois você adicionar o que você vai absorver, o que você não vai absorver e relacionar com o que você já tem na sua cultura local, para no fim celebrar a novidade que é esse híbrido, essa mistura de culturas. Então eu tive muitas experiências na minha carreira acadêmica e profissional de mercado, tentando buscar esse canibalismo cultural dentro do design de interação, passando pela fundação do Instituto Faber-Ludens, que funcionou de 2007 a 2011, fez vários experimentos interessantíssimos de formar designers, que sejam vindo da computação, sejam vindo do design, sejam vindo das artes, da educação, e botar eles para trabalharem juntos em projetos criativos que tentavam transformar a tecnologia em algo relevante para a nossa cultura. E aqui, mais para frente, vocês vão ver algumas imagens de um segundo momento, depois que o Faber-Ludens já tinha sido fechado, a Anapurna do Paraná, eu e o professor Gonzato tivemos a oportunidade de trazer de volta essa cultura com uma disciplina de design de interação na graduação, que foi fantástica, que a gente escreveu alguns artigos a respeito, sistematizando essa antropofagia no conceito de atelier, atelier antropofágico. Bom, mais recentemente, agora na UTFPR, eu tenho estudado muito o teatro do oprimido, que é uma criação, dentre várias pessoas, mas principalmente do dramaturgo Augusto Boal, que tem uma carreira específica no teatro, dirigindo peças de clima político e social, mas que também criou um método específico para que qualquer pessoa pudesse fazer uma peça para analisar as relações de opressão que interferem na sua vida, e principalmente fazer isso em grupo, coletivamente, para se fortalecer, para enfrentar essa opressão no seu dia a dia. Então esse teatro do oprimido, ele pega os gestos e rituais que reproduzem a opressão no dia a dia, coloca em cena, e a gente pode modificar essa cena para que esses gestos sejam quebrados, transformados, para que eles deem lugar a outros gestos que fortaleçam os oprimidos, e não só os opressores. Então aqui tem um exemplo, eu mencionei da Taciana, que ela ia aparecer em algum momento na discussão, ela foi uma das felizes participantes da nossa oficina de teatro do oprimido na área de interação com o computador, um simpósio na área da computação, acolheu esse mini curso, e a gente estava fazendo nessa cena uma discussão sobre o impacto que o Uber Comfort, uma nova funcionalidade do Uber, trazia para a experiência tanto do passageiro quanto para o motorista, que muitas vezes é ignorado nessas interações estéticas. Muitas vezes o motorista é um oprimido, ele é uma pessoa desempregada, mal empregada, trabalhador precarizado, que mora numa periferia, enquanto que o passageiro é uma pessoa que tem um pouco um poder aquisitivo melhor, e muitas vezes é uma pessoa branca, homem, enquanto que a motorista é uma mulher, negra, enfim. Essas relações de classe, raça e outras, elas estão em jogo, e quando você seleciona a opção "prefiro viajar em silêncio e pagar mais por isso", significa que você está bloqueando a possibilidade daquele motorista falar alguma coisa que você tem que ouvir, mas que você não queira ouvir. Você dá um calabouco de antemão, você paga para a pessoa ficar em silêncio. Por mais que isso seja aceitável socialmente, ninguém esteja protestando contra essa funcionalidade. Há de se perguntar se isso é ético na nossa sociedade. É esse o padrão ético que nós queremos? É esse tipo de gestos e rituais que nós queremos estimular na sociedade? Se uma pessoa é diferente, eu vou pagar para ela ficar em silêncio e não me incomodar? Então é esse tipo de discussão que esse tipo de teatro nos traz. É um teatro muito dinâmico, um teatro muito cotidiano, um teatro de improviso. As pessoas que participaram, como vocês devem saber, a Tarsena não é atriz, mas ela sabe atuar no seu dia a dia. Todos nós somos teatro, segundo Augusto Boll. Nós desempenhamos vários papéis. Agora estou desempenhando o papel do professor dando uma palestra. Daqui a pouco é o papel do professor discutindo, debatendo com os colegas. Então tudo isso faz parte de um teatro cotidiano que a gente traz, trabalha e discute o papel da tecnologia em estruturando esse cotidiano. Aqui temos mais alguns exemplos, agora já pós-pandêmicos, de utilização do Teatro Fórum usando os sistemas de videoconferência e aplicando também os figurinos virtuais usando o Snap Camera, que é um aplicativo que faz uma modificação na sua webcam para daí trazer personagens mais fáceis de você improvisar. Quem tem alguma vergonha de, de repente, de ela atuar, quando coloca uma dessas fantasias, se liberta. Então aqui tem discussão sobre a interação em aplicativos de entregas durante a pandemia, como esses aplicativos davam para a segurança dos entregadores. E embaixo nós temos uma discussão sobre as relações mediadas pelas câmeras de segurança em condomínios fechados, como ele estimulava, de repente, um hábito de ficar vigiando e cuidando das outras pessoas, conforme já mencionei anteriormente. Aqui um exemplo curioso de um teatro invisível. A gente entrou para dar uma palestra, nós três, né, Rodrigo, Frize Gonzato, Cláudio, Bordin e eu, para dar uma palestra numa semana acadêmica dos estudantes de informática de Campo Morão, aqui na UTFPR, desculpa, Francisco Beltrão. E aí, qual não foi a surpresa, que eles assistiram a uma peça de teatro. A gente começou a brigar durante a palestra e, de repente, lá pelas tantas, um apresentador, que é o Rodrigo, ele chamou, ele substituiu se a si próprio por uma inteligência artificial, que fez o papel de professor ali. E daí entrou, no caso eu, o investidor, o empresário dono daquela empresa, ou queria ser dono daquela empresa, falando que ia investir muito dinheiro para substituir porque as universidades públicas, várias vezes, precisavam disso, já que estavam usando o Google Meet, a torta é direito, estavam dependendo do Google Meet, como é o caso dessa conferência, desse evento. Então, foi muito interessante, os estudantes tiveram uma surpresa no meio da palestra, de que aquilo era um teatro e esse teatro servia para conscientizá-los a respeito de tecnologias que são aceitas como revolucionárias, que são 100% boas, como a inteligência artificial. Então, para finalizar minha fala, resumindo, estética antropofágica no design de interação consiste em devorar gestos globais e digeri-los localmente. Então, não é negar o global, é o global se tornar local. E, por outro lado, o local também se tornar global. E, a partir daqui, do nosso campo, a gente criar novos gestos, novos rituais que vão fazer mais sentido para nós e, quiçá, para alguém que esteja no sul global com situações culturais que mais anotam de intensa opressão. Para isso, nós precisamos desconstruir os rituais opressivos com esse olhar antropológico, sociológico, psicológico e educacional, que o Bemut tem de sobra, usando métodos como análise internacional e outros que nos ajudem a entender como essa gestualidade se constitui concretamente. E, por fim, estimular uma alteridade radical, porque não é só olhar o outro e reconhecer que ele está lá. Pelo contrário, ver que o outro já está dentro da gente. E ele pode estar mais presente da gente. A gente pode se abrir mais. A gente pode ser mais vulnerável para que esse outro esteja no nosso eu. Mas a gente pode ser ativo também, muitas vezes, buscar de maneira intencional esse outro. Como fez a Tarsila do Amaral, do lado direito ao Abapuru, a famosa pintura que representa esse símbolo, esse movimento da antropofagia, como que ela comeu, devorou o Rodin, que é essa famosa também escultura que representa a sociedade moderna e o homem racional. O nosso homem é um homem que tem uma cabeça pequenininha, braços e pernas muito grandes, porque é um trabalhador que está muito ligado ao concreto do nosso dia a dia. Então essa é a realidade concreta que nós precisamos transformar para que a gente também pense, a gente também possa se colocar na postura de refletir sobre a nossa realidade, mesmo que a gente tenha com braços e pernas cansados. Muito obrigado, gente. Estou curioso para ver as outras apresentações. Obrigado. [SILÊNCIO]