Pesquisa bibliográfica de experiências é mais conhecida no mercado de trabalho como "desk research". Essa é uma tradução que não é exatamente uma tradução literal, se ele não é pesquisa de escrivaninha a melhor tradução para "desk research". Por quê? Porque para entender esse termo é bom entender a história do termo "desk anthropology" ou "antropologia de gabinete". O pessoal de design de experiências é tributário à antropologia, uma das áreas que mais influenciou o design de experiências. Então, antropologia é basicamente uma disciplina que se formou lá no século 19 de estudo do ser humano e seu contexto, nas suas relações sociais e principalmente o desenvolvimento humano situado nas comunidades. Isso é antropologia. No começo da antropologia os primeiros antropólogos ficavam dentro dos seus diferentes coletando dados indiretamente através de terceiros. Um correspondente mandava uma carta ou às vezes mandava um objeto pelo correio, podia ser um jornalista que publicava uma notícia, alguém escrevia um livro. Então, basicamente esses antropólogos de gabinete ficavam sentados nos seus países e nas suas universidades ou nos seus locais de trabalho privilegiados, concentrando todo o poder que tinham de puxar informações do mundo para si. É claro que esses caras tinham um preconceito gigante a respeito do que eles recebiam de informação e elaboravam teorias e descrições dos povos das colônias como sendo exóticos e primitivos, inferiores à cultura em que esses antropólogos estavam situados. Mas que a partir de que se reconheça que são seres humanos e que vale a pena estudá-los porque tem cultura, isso já faz uma diferença enorme em relação ao paradigma antes da antropologia de que os povos colonizados não são nem ser humanos, são menos do que humanos e a cultura deles pode ser dizimada, pode ser destruída, que não vai ter nada a perder. Então, a antropologia ela tem um histórico de defesa das culturas ou da diversidade cultural. Agora, quando passa a partir do século 20 ao paradigma da antropologia de campo, que é fazer a pesquisa no campo, no lugar onde tem a cultura que você está estudando, ou seja, ir até lá, conviver com as pessoas que têm aquela cultura, se deixar levar pelos seus valores sociais e tudo mais, tudo isso vai mudar completamente a antropologia. Vai se tornar uma área muito mais preocupada em tomar ao lado dos colonizados, em estudar os colonizados e defender os colonizados perante os colonizadores. O Brunislau Marinovski é o nome principal da antropologia de campo porque ele inaugura o que hoje é conhecido como etnografia ou pesquisa etnográfica, que vai ser fundamental para a pesquisa de experiências. A pesquisa de experiências vai ter um método de etnografia, pesquisa etnográfica, mas independente disso, esses métodos vão estar sendo influenciados, como a entrevista. A entrevista que a gente faz na pesquisa de experiências é muito parecida com a entrevista etnográfica ou encontro etnográfico. Então é importante saber que existem várias influências de outras disciplinas sobre o design de experiências e que de lá surge essa divisão entre a antropologia de gabinete, antropologia de campo, que vai dar origem ao conceito de desk research, uma pesquisa que você faz só no seu número tal como fazia esse antropólogo do século 19, o Edward Tyler. Então a pesquisa bibliográfica, desk research, nada mais é do que uma pesquisa a partir de pesquisas já publicadas, por isso são bibliografias, daí vem o nome pesquisa bibliográfica. No caso são pesquisas sobre experiências que vocês estão observando, então a pesquisa bibliográfica pode ser feita sobre qualquer assunto, no caso da pesquisa de experiências, ela vai documentar experiências que você está interessado. Agora, quando você entra numa base de pesquisa já publicadas como o Google Scholar, você fica na dúvida, né, qual pesquisa que tem credibilidade, qual que tem mais credibilidade, e se uma pesquisa fala que X e outra fala que Y, qual delas que está certa? E aí é bom você conhecer o critério da citação, número de citações. É um dos índices que o Google Scholar vai mostrar, que ajuda a gente a entender porque que a pesquisa tem relevância ou não, tá? No caso, um nível de citação maior que 10, já pode considerar que é uma pesquisa bastante relevante. O que significa nível de citação maior que 10? Quer dizer que pelo menos outros 10 artigos citaram aquele lá, reconheceram algum valor naquela pesquisa. Pode ser que 10, 20, 30, 100, 1000 citações sejam criticando aquela pesquisa, dizendo que é uma paria essa pesquisa. Mas ainda assim ela é relevante, mesmo que seja para criticar, para denunciar, para dizer que está errada. O Google Scholar é só uma das bases de pesquisa e talvez nem seja melhor. Ele filtra muitos dos websites que o Google normal mostra, mas alguns ele ainda deixa passar. Então, às vezes você vai ver resultados no Google Scholar que vêm de periódicos, a gente chama de predatórios com falsos, periódicos que deixam qualquer tipo de artigo passar ou às vezes porque alguém pagou para passar. Isso durante a pandemia foi um problema sério, vários artigos publicados dizendo que a cloroquina e outros métodos de atendimento precoce funcionavam, eram falsos esses artigos, as pesquisas eram infundadas, geravam mais confusão e no final das contas teve que haver publicações em periódicos sérios que demora mais tempo para desvancar essas anteriores. Então é importante vocês saberem lidar com esse tipo de dificuldade. Se o artigo tiver pouca citação, é bem provável que ele não tenha muita relevância ou que alguém esqueceu que aquele assunto existia. Agora, existem outras bases de pesquisa como a base de busca de teses e de citações da CAPES, que vai ter um foco mais perfeito. A CAPES é a agência nacional de pesquisa do Ministério da Educação, mas ela é mais difícil de usar. Então, para simplificar para vocês, eu recomendei vocês usarem o Google Scholar. Quando vocês entram num artigo científico, ele apresenta uma estrutura mais ou menos padrão, isso é meio chato de ler no começo porque você acha desanimador e não é esteticamente interessante, não tem poesia, é chato ler sempre a mesma coisa. Só que a racionalidade por trás disso é comparar. Se você tem uma estrutura padronizada entre diferentes artigos, você consegue comparar. Por exemplo, vamos ver quais são as metodologias mais usadas em todos os artigos que falam sobre design de experiências. E você vai encontrar lá o tal do design centrado no usuário, por exemplo, como uma metodologia muito comum. Agora, se você quiser ver que referências são mais utilizadas, você vai encontrar. Tem um tal de Donald Norman que escreveu sobre design centrado no usuário que aparece bastante nas pesquisas nessa área. Então, é bom que exista essa padronização não só para essa comparação que a gente pode fazer manualmente como a indexação para comparação automática, que é o que o Google Scholar faz. Ele entra aqui nas referências bibliográficas e ele quebra em pedacinhos de texto seguindo o padrão da norma. Então, ele sabe que aqui é o nome do autor, aqui é a 1993, é o ano que foi publicado. Journal of Fruit Science é o periódico onde foi publicado, que 4 é o número do volume, 3 é o número da edição. Então, ele identifica essas informações e consegue comparar um outro artigo que também está fazendo referência a esse mesmo Macintosh Journal of Fruit of Science. Só que usa um outro formato, tipo a BNT, que é diferente desse aqui. Na BNT vai ter outro formato, mas vai ser os mesmos dados e o Google consegue identificar e indexar a BNT também. E aí por isso ele vai contar duas citações para o trabalho do Macintosh. Dessa maneira o Google consegue identificar o número de citações por artigo, rastreando dados que estão ali escritos pelos próprios autores dos artigos. Então, quando você estiver escrevendo uma lista de bibliografia, você está indicando para o Google Scholar, mas mais importante, está indicando para todas as pessoas futuramente que vão usar o Google Scholar. Olha isso, isso aqui é importante. Então, isso aqui é uma maneira de você contribuir para a ciência também, só com as referências que você está ali indexando nos buscadores. Essa estrutura padrão de artigo, ela vem originalmente do próprio processo de busca de conhecimento científico, o chamado método científico, ou o método científico clássico, canônico, que é aquele que foi aperfeiçoado e desenvolvido pela medicina, pela ciências naturais. Nessa época tinha-se uma ideia de ciência bastante restrita, né, que só existia um único método perfeito. Hoje em dia nós vivemos uma época de pluralidade de ciências e de pluralidade de métodos. O design também é considerado uma ciência com características diferentes das ciências naturais e da medicina. A gente teve até uma aula sobre esse assunto da tecnologia do design, mas para vocês entenderem de onde vem essa estrutura básica de artigo científico é importante vocês conhecerem através de um meme esse método científico. Na parte de cima, na introdução do artigo, você vai mostrar porque que existe essa pesquisa. Então, você vai falar sobre a observação dos fenômenos que foram realizados, o processo de problematização desses fenômenos, se encontrou alguma quebra de padrão, alguma coisa estranha, uma coisa interessante que vale a pena ser estudada. E a hipótese, a diferença do problema é que você já tem uma resposta na ponta da língua, você quer verificar se é verdadeira. Então, a hipótese, diferente do problema, ela é propositiva, mas a hipótese pode estar errada. Então, para você verificar se ela está certa, você vai fazer um experimento. O experimento vai confrontar aquela tua hipótese com uma situação que você vai observar coletando dados para depois analisar e verificar se a hipótese foi validada, se ela é verdadeira. Se ela foi verdadeira, ela vira uma teoria e passa a prever situações similares àquela. Se toda vez você vê uma coisa parecida com aquilo, se a hipótese é verdadeira, você pode aproveitar a teoria para prever o que vai acontecer. Então, a gente usa teorias o tempo todo para prever coisas que vão acontecer com a gente com base que já aconteceu. Isso é um método científico. A gente prevê que as coisas vão continuar sendo como sempre foram, repetindo padrões, é um método científico clássico. Agora, pode acontecer também de depois de repetir várias vezes um experimento, de um resultado novo que refuta a sua hipótese. Ou seja, a hipótese não explica porque que, de repente, depois de fazer a mesma coisa 4, 5, 6 vezes, depois da 11ª, começa a haver uma mudança qualitativa, as coisas começam a mudar. No caso da temperatura, por que que a partir de 100 graus a água começa a evaporar e mudar de estado da natureza? Isso é uma... imagina, se você fizesse o experimento ia chegar uma hora e você fala "bom, a água chega até 1000 graus", mas você só experimentou até 99, tu nunca foi de 99 para 100, você vai achar que a água só existe em estado líquido. A hora que tu passar de 100, a água vai começar a entrar em ebulição e vai virar vapor. Isso é algo que você só consegue perceber depois que você vai fazendo vários experimentos, analisando os dados. Então, a teoria de que a água ela sempre é líquida foi refutada pela primeira vez que alguém aqueceu e mensurou exatamente o resultado de ebulição de 100 graus. Isso é ciência clássica, tá? Então, na parte metodologia tu vai explicar como é que tu aqueceu a água, mas principalmente como é que você mensurou a temperatura daquela água, quanto tempo você esperou e tudo mais. O resultado é onde você bota os dados lá, né? E por fim a conclusão, tá? Então, se a água ferve depois de 100 graus, o que que isso significa? Quer dizer que a matéria muda de estado. Isso é uma teoria que explica um monte de outras coisas na nossa história. Inclusive, vai estudar coisas estranhas como o estado de plasma, né? Que não é nem líquido, nem sólido, é uma coisa diferente, né? Então, a gente é... é por isso que existe introdução, metodologia, resultados e conclusões. Porém, nem todas as pesquisas precisam de essa mesma estrutura. De qualquer forma, o artigo científico vai ser sempre um texto que compacta grande quantidade de informação em pouco espaço e por isso que muitas vezes é necessário ler e reler várias vezes o mesmo artigo científico ou a mesma parte de um artigo para você poder entender o que quer dizer. Por isso é tão importante imprimir. Imprimir faz uma diferença absurda na... na sua capacidade de memorização do artigo. Por quê? Quando você tem ele no digital, no PDF, é que nem todas as suas memórias de pandemia que você teve fazendo atividades remotas. Elas são misturadas naquele bololô de sensações muito pouco diferenciáveis. Você não tem uma memória tão precisa de onde você estava fazendo o quê? Porque você não tem o onde. Você fica com o onde genérico de sempre estar na frente do computador. Então a mesma coisa com um PDF que você anotou, mesmo que você tenha feito os grifos como a gente vai fazer aqui no papel, não vai ter a mesma capacidade de âncora de memorização. Toda vez que você vincula fisicamente alguma coisa, você faz uma coisa física, você cria um registro de memória mais poderoso do que um registro criado de memória digital. E é por esse motivo que o nosso curso de design "Tentando Trabalho Manual" é uma das maneiras de você aprender a criar coisas com base na sua capacidade, na sua potência, e não só naquilo que o computador pode oferecer, mas que em outro momento pode não oferecer porque travou, que perdeu, que deletou, entendeu? Você não desenvolve... o computador não se desenvolve, você se desenvolve. Sua habilidade melhora cada vez que você vai lendo. Então é bom que tem uma forma física para que esse desenvolvimento fique registrado. Outro ponto importante é por que grifar e anotar um artigo? Você pode só ler e memorizar na cabeça. Ok, mas como ele é um texto muito denso, é difícil memorizar tudo. E quando você for querer ler de novo, certamente você vai ter começado mais atrás, mais lento, mais do zero do que quem anotou. Quem anotou disse para si mesmo no futuro "não é isso, isso é importante". Então é por isso que eu pedi para vocês trazerem os artigos impressos, mas a gente tem jeito de resolver isso alternativamente com versões de aplicativos no celular caso não tenham impresso. O ponto é que daqui a pouco vocês vão fazer um exercício de usando essa técnica que eu chamo dos grifos semânticos para identificar as partes mais importantes de um artigo científico, aquelas que vale a pena memorizar ou deixar anotado para a recuperação anterior. Um colega meu de doutorado que desenvolveu essa técnica era mais complexa na versão dele, tinha seis cores diferentes, ele carregava esses seis canetinhos para todo lugar que ele estava lendo os textos e virava um arco-íris. E eu não entendia nada, ele tentou me explicar o código, falei complexo demais, vou simplificar. Então ele disse sim, virou três cores e a primeira cor, nossa, refere-se aos pontos de partida da pesquisa enquanto que o verde aos pontos de chegada da pesquisa. O amarelo é o meio do caminho, para simplificar, larga a medida. O que é um ponto de partida? Pode ser vários, isso aqui são alguns possíveis e não vai ter todos em todos os artigos. Pode ter um problema, uma lacuna, uma justificativa, uma hipótese, uma pergunta de pesquisa em um objetivo. Qual a diferença entre um objetivo e uma hipótese? Bom, esse é o desafio do exercício que vocês vão fazer daqui a pouco. Vocês vão comparar diferentes partes do texto que nem sempre estão descritas como hipótese ou objetivo e vocês vão ter que verificar se é ou não é e o que que é, tá? Mas não precisa entender isso em detalhes agora não. O importante é vocês saberem diferenciar um ponto de partida de um ponto de chegada. Ponto de chegada é uma evidência, uma descoberta, uma explicação, uma recomendação, algo que tem a ver com o depois dessa pesquisa, algo que tem a ver com o que aconteceu com essa pesquisa. Onde ela chegou? O amarelo é a parte que possivelmente vai ter mais valor vocês grifarem, porque o amarelo é aquela parte que vai conectar um artigo com outro artigo. O conceito, o tema em comum. Então toda vez que vocês verem uma uma frase do tipo "nun sei que é", "nun sei que" pode se entender como a definição de "nun sei que é" "tranranran", isso é um conceito, tá vindo ali uma parte importantíssima do texto que vai ajudar você a depois futuramente você quer escrever um artigo sobre o desparafusador neutrino de neutrinos. E é isso, desparafusador de neutrinos. Aí um dia você lê um artigo que tinha lá o tal desparafusador de neutrinos. Se você, na parágrafo que ele definiu isso, você grifou, a hora que você estiver ouvindo falar do desparafusador de neutrinos no futuro, tu vai lembrar "poxa, eu anotei isso no artigo lá atrás, deixa eu olhar nos meus raffarrabios", né? "Você vai colocar na sua biblioteca pessoal aquele monte bagunçado de xerox em coisas impressas que tu coloca no canto do quarto, que eu recomendo altamente vocês terem, não é bagunça, é muito melhor do que vocês terem um arquivo, uma pasta de PDFs organizadas no seu computador, impresso, como eu disse, vale muito a pena". Aí você vai lá e vai achar fisicamente, todo mundo vai achar "que bagunça, como é que você se acha nisso?" Mas você se acha melhor ali no seu computador, porque o computador é um pouco mais bagunçado, tem muito mais potencial de se bagunçar do que está fisicamente posto. Bom, então depois que você leu vários artigos científicos, aí você começa a extrair as informações de cada um deles e triangular. Triangular, em outras palavras, é comparar as diferentes fontes de dados, então cada artigo é uma fonte. Então o objetivo da segunda parte do curso hoje é vocês fazerem uma triangulação visual de diferentes artigos científicos. Cada postite preto desses aqui é o título de um artigo e o que tem no meio, esses postites menores amarelos, são os postites com os conceitos teóricos ou científicos extraídos dos artigos. E a parte legal é que as setinhas mostram que o conceito de modelo de negócio, por exemplo, foi citado no artigo 1, no artigo 2 e no artigo 3, logo ele é um conceito chave para entender o que há de comum nas pesquisas. Já o conceito de economia circular só é mencionado no artigo 3, ele não é tratado nos outros artigos e logo não precisa de tanta atenção se você está fazendo uma revisão bibliográfica sobre aquele assunto. Também é possível e vocês devem colocar os pontos de chegada, ou melhor, pontos de chegada verdinhos embaixo, postite com ponto de chegada, mas também pontos de partida em comum entre os três artigos. Isso aqui é para vocês perceberem o que há nas, não nas entrelinhas de cada artigo, mas nas entre folhas, entre uma folha de artigo e outra, nesse campo coletivo da ciência, que são várias pessoas produzindo sobre determinados assuntos específicos de jeitos diferentes e entre um e outro você tem uma compreensão muitas vezes, não está escrito em lugar nenhum, mas extremamente valiosa, que é a tua interpretação de o que uma tem a ver com a outra e é o objetivo final desse exercício, vocês perceberem esses padrões de interrelação entre os artigos. A gente vai fazer um exercício com material físico analógico, mas vocês podem fazer isso depois com material digital em casa, caso não tenha os materiais analógicos, usando o Miro, por exemplo, que é um quadro branco digital, vocês podem colocar postite, botar os postes lá e tudo mais. Já se você quiser uma ferramenta um pouco mais estruturada que dê cabo de uma quantidade muito grande de artigos, pode usar o Zotero, dá para colocar milhares de artigos lá dentro. Ele não é fácil de usar que nem o Miro, mas ele dá conta de algo mais específico. Aí tem outras ferramentas um pouco mais genéricas para anotação, tipo a Evernote, Google Keep e outras ferramentas mais profissionais de informação em grande quantidade, o Notion, por exemplo, e o Obsidian, que gera gráficos e visualizações absurdas sobre o que você está produzindo, é quase como se fosse um cérebro externo. No meu doutorado eu usei uma ferramenta parecida com a Obsidian, mas tem outras características, chamado Compendium, ele é baseado no método "information systems", que é um método que eu estava estudando e que eu queria aplicar na minha pesquisa para a modelagem de conversações e diálogos. Então, eu parti do princípio que esse processo todo de pesquisa bibliográfica é um mapeamento da conversa que existe entre os diferentes cientistas, conversa aqui falando metaforicamente, porque a fala dessa conversa são textos, e aí eu comecei a montar esses mapas, cada PDF de um artigo eu colocava aqui dentro, e eu puxava desses PDFs os conceitos principais, as ideias com força que saíam de dentro desses artigos, e aí começaram encontrar ideias em comum, então aqui você tinha um humanismo no design como uma ideia agregadora em uma série de artigos que estavam propondo temas relacionados, e aí você tem uma notação específica também para o tipo de notas, então essa é a nota pro e essa nota com, que tem um significado específico que eu não vou explicar agora, mas está descrito no tal do "IBSU", "Issue-Based Information System". Eu usei esse método de mapeamento de literatura, de bibliografias durante o meu doutorado inteiro, quase quatro anos de duração, e no final eu exportei os dados do Compendium, essa é a vantagem do Compendium em relação aos outros, ele tem essa habilidade de manipulação de dados que outros não têm, fora ser um software livre, e eu exportei em formato XML, importei numa outra ferramenta chamada Gephi, que permite criar visualizações de dados em grande quantidade, o Gephi colocou lá então as 3.400 notas que eu tinha feito como uma bolinha, cada nota é uma bolinha, e cada vez que uma nota está linkada visualmente com outra, tem aquela setinha, como num mapa mental, você vai ter essa ligação aqui. Então nessa visualização vocês estão vendo quatro anos de pesquisa de doutorado, aqui na primeira, seguindo o sentido horário do relógio, no primeiro quartil é o primeiro ano, segundo ano, terceiro ano, quarto ano, subsequentemente, então vocês podem ver, também tem um código de cores para cada um desses tipos de anotações, as fontes primárias são em cor rosa, rosaschoque, que é o momento chave mais intenso da minha pesquisa de doutorado, que eu estou lá em campo coletando dados, parte que eu mais gosto, mas é que eu menos acabei fazendo, como você pode ver aqui, eu tive um momento inicial no primeiro ano, muito focado em revisão de literatura, em ler o que as pessoas estavam fazendo sobre aquele assunto, só no segundo ano que eu começo a fazer um estudo empírico, diretamente coletando dados, no terceiro ano vou ter outro estudo, e no quarto ano vou ter um estudo bem longo, que vai me atrapalhar na finalização do doutorado, porque nesse momento eu já deveria estar só escrevendo a tese e eu estou lá coletando dados, não é muito bom fazer isso, mas é porque aqui eu tinha uma vontade não realizada de coletar dados, de estar em campo, de ter essa pesquisa de experiência em primeira mão, e eu acabo fazendo coisas que eu nem vou usar na minha tese de doutorado depois, infelizmente, ou felizmente, enfim, foi feito e o que está feito está feito. Mas o ponto importante desse gráfico não é mostrar o que eu fiz em cada ano, mas principalmente mostrar que todo o tempo eu estava cruzando as informações que eu já tinha postado, que eu já tinha colocado no sistema, voltando a elas, ainda voltando, e fazendo esse movimento de vai e volta, de verificar, de triangular as minhas fontes de dados. Então as fontes primárias trianguladas com as fontes secundárias, que são artigos científicos já publicados, e também com as fontes terciárias, que são artigos científicos que têm revisões de literatura, ou revisões bibliográficas que citam outros artigos, o objetivo é dar um panorama geral de uma área, vejam que a maior parte das anotações que eu coloquei aqui são desses momentos em que eu estou fazendo o que é chamado de estado da arte, definindo o que é que se faz naquela área de pesquisa. Então como vocês podem ver, a pesquisa bibliográfica pode ser bem mais completa do que a desk research que se faz no mercado, mas mesmo a pesquisa bibliográfica, por mais rigorosa que seja feita, como no meu caso, ali do doutorado, ela ainda não vai substituir as fontes primárias. As fontes primárias são o carro-chefe da pesquisa, no meu caso o doutorado foi o que pesou mais, foi o que fez a diferença e que gerou a grande contribuição original da minha tese doutorado. Então não adianta só vocês lerem artigos, lerem livros, assistirem vídeos de YouTube, é importante levantar da sua desk, da sua escribania e ganhar o campo e fazer a pesquisa em primeira mão e é por isso que eu estimulo vocês nessa disciplina a fazer um trabalho de pesquisa de experiências com fontes primárias. Vocês vão poder citar fontes secundárias? Vão, mas se não tiver fonte primária, não adianta. Então vocês vão fazer pelo menos dois tipos de triangulação, a triangulação de fontes de dados, triangulação bibliográfica, mas também a triangulação metodológica, que é usar pelo menos três tipos de métodos de pesquisa de experiências com fontes primárias. E depois, nas próximas aulas eu vou explicar isso melhor, como é que se faz. Bom dia, Pai.