Tá muito bacana estar aqui na minha escola política, que é a Universidade Federal do Paraná. Nos anos 2000 eu adentrei nessa universidade no curso de comunicação e me envolvi logo com o movimento estudantil, era um movimento, uma época turbulenta, a gente tinha ataques a universidades muito parecidos com os ataques que tem atualmente, um pouco menos, né? Participei da ocupação da reitoria, aceitei na cadeira do reitor, depois participei da ocupação da Assembleia Legislativa, impedir a venda da copel e a política me levou ao design, porque quando eu comecei a trabalhar numa redação, fazendo meu primeiro estágio, eu percebi que a comunicação não tinha um espaço para debate político, a comunicação já estava dominada pelas relações de poder, as grandes elites já dominavam e o espaço da comunicação me frustrei e procurei espaços novos para a discussão política, o debate encontrei numa disciplina dada pela querida Ana Brum, aqui no design, nessa mesma sala, 14 anos atrás, eu descobri o design. E a partir de então eu fui buscar uma abordagem dentro do design que pudesse desenvolver essa política do dia a dia que eu percebi, que era feita a partir dos artefatos, das coisas, dos processos que ninguém percebe que é política, mas que está ali reproduzindo valores na nossa sociedade e aí eu pensei, aqui tem um espaço de debate, aqui tem um espaço de abertura e aí eu fui buscar no design participativo no meu mestrado, na UTF-PR, um fundamento que juntasse essa minha background em comunicação e esse meu interesse pelos objetos que o design me apresentava. Eu fundei uma ONG junto com vários colegas chamado Instituto Faber Ludens que foi inspirado no centro de design, então a gente trouxe algumas ideias, só que a gente focou no design de interação, funcionou até mais ou menos 2011, 2012, então eu resolvi fazer um doutorado na Holanda para me aprofundar no design participativo e eu fui estudar então com o professor Pelé que fundou a escola do design participativo lá nos anos 70 depois de ler o Paulo Freire na Suécia que espalhou pelo mundo inteiro essa abordagem de participação no design e o professor Pelé, ele tem dito recentemente que o design participativo está buscando recuperar o sentido original da palavra república, "res" pública em latim, "res" significa coisa, então ele está tentando recuperar isso e ver o design participativo como um projeto de coisas públicas, que viria a ser, seria um aglomerado de atores humanos e não humanos que estão envolvidos numa controvérsia, ao projetar uma coisa pública você coloca essa controvérsia de maneira que as pessoas percebem que ela existe e percebem que existe possibilidades de fazer algo a respeito, neste caso aqui é um exemplo de uma controvérsia que a gente estudou e desenvolveu um projeto na Holanda que envolvia a criação de terremotos pela ação humana de exploração do fracking, que é tirar o gás que está embaixo da terra e aí ficava sem estrutura a terra, a terra tremia, as casas ruínas e o estado que tinha autorizado essa exploração não queria se comprometer com a manutenção, com a recuperação dessas casas, então nossos estudantes que participaram desse projeto foram às ruas da cidade onde havia esses terremotos, criaram um muro artificial que mostrava várias ruínas e perguntando para a população inser aqui a sua opinião, o que você gostaria de dizer para os representantes do poder público que não querem lhes escutar pelos meios tradicionais, essa intervenção que a gente fez no centro da cidade coletou mais de 400 sugestões, reclamações e críticas que foram encaminhadas às autoridades, isso deu uma visibilidade política para a ação que foi até um motivo de um programa de televisão. A gente também envolve com o design, então a gente aproveita a capacidade de fazer networking com os não humanos, os atores que normalmente não são levados em consideração nos debates democráticos onde se prioriza a perspectiva das pessoas, dos seres humanos em detrimento da perspectiva dos não humanos que podem incluir por exemplo, as agentes naturais, pode incluir neste caso, deste projeto feito na DIC de Heberdeck, está representando justamente a natureza, essa pedra no meio representa a proteção contra os enchentes que estão sempre constantes na Holanda e a importância de não despriorizar essa questão ambiental ao decidir sobre que tipo de função comercial ou política um determinada área da região daquela cidade deveria se desenvolver. Depois que eu voltei ao Brasil em 2015 eu comecei a um processo de descolonização da minha mente por ter estudado na Europa, de pensar que a realidade do sul global é completamente diferente e esse papo de não humanos é muito sério aqui, a gente falar de não humanos aqui nos traz toda essa história de pessoas que fizeram parte de grupos sociais que somente por nascer ou crescer nesse grupo social elas não tinham os mesmos direitos humanos que as pessoas que faziam parte de outros grupos. Então nesse processo de epistemologias do sul tenho pensado bastante que a gente tem que tomar muito cuidado ao usar esse termo não humano, porque a gente precisa na verdade que o design participativo reconheça a humanidade dos não humanos e aí esses não humanos seriam aqueles que tiveram a sua humanidade negada, como as pessoas pretas, as pessoas, as mulheres, as pessoas que tiveram uma educação diferente, que cresceram numa parte da cidade diferente. Então eu venho trabalhando bastante com a perspectiva de inclusão de pessoas oprimidas no design, fiz alguns projetos com a presidência da república na época da Dilma, por alguns meses funcionou da gente fazer laboratórios vivos e imaginar como seria a constituição brasileira se ela funcionasse numa lógica de "guide" em que várias pessoas pudessem contribuir e aí discutir a questão da maioridade penal. Aqui nós temos uma discussão sobre pessoas em situação de rua, numa disciplina do PPGTU, com o professor Rodrigo Firmino, utilizando o teatro do oprimido como uma ferramenta para discussão de políticas públicas e não só discussão, mas ação e experimentação de diferentes maneiras de você burlar essa política pública ou eventualmente reconstruir e encontrar suas brechas para priorizar e dar a perspectiva dos oprimidos. Aqui a gente fazendo isso na UTFPR, que é a universidade onde eu me encontro desde o início do ano, revisando o impacto do plano de cultura novo sobre as ações de cultura que são muitas vezes despriorizadas, em especial dentro de uma universidade tecnológica. Para finalizar, o projeto de coisas públicas não termina nunca, pois na democracia uma coisa leva a outra coisa. E por isso venho aqui anunciar a público pela primeira vez um projeto que está sendo coletivamente construído entre os estudantes e professores da UTFPR, que é a O Coisa, colaboratório de inovação social e aberta, que está neste momento sendo construído para desenvolver projetos de coisas públicas envolvendo vários atores, sendo eles humanos, não humanos, quase humanos ou potencialmente mais do que humanos. E a gente conta com a colaboração de vocês, quem tiver intenção de trocar ideias, vem falar com a gente. Muito obrigado. Muito obrigado!