Então como lidar com tendências em design de tração? O que são tendências na minha visão? São possibilidades de mudanças sociais iminentes. Atenção, o que eu não estou falando de tendência enquanto uma coisa que aparece no jornal, ou uma tecnologia. Não, estou falando de mudanças sociais. Então próximas de acontecer, pode ser que elas aconteçam se consolidem ou não. Podem ou não permanecer. A tendência na verdade é uma parte de um processo mais amplo, que é a reprodução cultural. Mudanças culturais de valores, de práticas, de crenças que acontecem na sociedade que se deixam visíveis através das tendências. Tendência é a parte mais visível, eu diria, dessas mudanças culturais, que são bem complexas, bem longas, e a tendência tem um ciclo curto, porque é uma espécie de tentativa da cultura de se atualizar constantemente. Então às vezes as coisas são cultivadas, a tendência é cultivada e ela se torna parte da cultura. Às vezes ela é negada e ela não é mais cultivada, ela morre e ela não é mais uma tendência. Então a cultura muda para outras maneiras que não são tendências. Quando você está estudando tendência você está estudando uma parte da cultura que é visível. Mas pode ser que você descubra na cultura uma mudança que está acontecendo e que ninguém nunca chamou de tendência. E aí você virou profeta. E é isso que eu quero de vocês. Eu quero que vocês saiam daqui profetas do design digital, definindo tendências para o futuro da profissão. Por quê? Porque aí vocês vão ser reconhecidos como referência nas suas áreas de atuação. Porque aí vocês vão "mas professor, eu sou um jovenzinho, acabei de começar na profissão, estou estudando e terminei a faculdade, você está dizendo que eu sou profeta?" Sim, por quê? Porque no design digital é uma área onde os jovens predominam. É uma área que está associada à cultura jovem. É uma área que lida com a cultura jovem o tempo todo. Então nada melhor do que um jovem como vocês para digitar as tendências do futuro. Então a minha lógica é a seguinte, eu estou dando voz a vocês, toda vez que alguém me pergunta o que é observatório de tendências digitais, é um observatório que é observar, quem são os observadores são os jovens, os jovens que estão estudando design digital e estão olhando para as mudanças na sociedade, refletindo e percebendo para onde que a sociedade está indo, de uma maneira muito prática. Embora vocês sejam observadores, profetas, provavelmente vocês não vão criar tendências nessa disciplina. Vocês vão observar padrões que já estão acontecendo aí e vão amplificar esses padrões. Mas quem é que cria essas tendências? Quem são as pessoas que realmente criam? Normalmente não são pessoas que fazem faculdade ou que podem até ter feito faculdade mas não atuam na área. São pessoas que são em meandros da sociedade excluídos, são pessoas cujas criações não têm nome, não têm autoria, muitas vezes elas acabam sendo anônimas. Os criadores das tendências geralmente são pessoas anônimas, pessoas que ninguém conhece, pessoas que estão fora da curva, pontos fora da curva, pessoas estranhas, weirdo, essas pessoas são quem criam as tendências. Quando a primeira pessoa foi lá pichar um muro, fazer uma arte no muro, ela foi considerada maluca, se não criminosa e posta na cadeia. Essa pessoa não interessa o nome dela. Por isso que ela virou anônima. Quem criou o Street Art? Ninguém? Não é anônimo. Mas alguém foi lá em algum momento e deu esse passo inicial. A questão é a seguinte, vocês dificilmente vão se arriscar tanto a ponto de ir lápis e fazer uma coisa que pode ser considerada hoje legal. Até porque vocês estão numa trajetória de carreira que vocês estão passando pela universidade para receber um título, então vocês não vão ocupar esse papel. Se algum de vocês sair daqui e começar a criar tendência não vão me sentir mal por isso. Mas eu não estou treinando vocês para isso. Essa desvenda não é sobre como criar tendências, é sobre como observar, identificar e profetizar elas. Mas eu reconheço que isso existe. Existem pessoas que criam tendências. No curso de design digital tem às vezes uma pessoa ou outra que é bem weirdo. Não vou citar nomes, vocês sabem quem são. Normalmente essas pessoas são mais influentes. Aqui dentro às vezes trazem uma outra tendência de moda, que a galera começa a produzir, ou uma tendência de gosto musical, uma tendência de gosto de filme, gosto de jogo e por aí vai. Vocês sabem do que eu estou falando. Mas não é sobre isso que a disciplina vai tratar, até porque expor essas pessoas nem faria sentido e poderia até fazer essas pessoas perderem o seu poder de influência. Quem que percebe as tendências é o designer digital. O trabalho do designer normalmente não é criar, é, como eu falei, catalisar, catalogar, entender, compreender e colocar num contexto de aplicação industrial. Faça sentido para a maneira como a sociedade se reproduz a cultura. Então o designer vai olhar essa tendência de street art e vai incorporar isso numa tipografia que está inspirada nas formas soltas, livres, do gotejamento da tinta, do spray e por aí vai. É uma pessoa que vai entender, vai conversar, às vezes vai até conhecer pessoas que criam tendências, pessoas estranhas. Designers normalmente têm muitos amigos artistas. Se você não tem amigos artistas, você está sozinho. Não, mas você deveria ter mais amigos artistas porque essa galera da arte se arrisca muito mais e é bem saudável ter essas amizades. Mas não, se você não tiver, você pode ir, andar pelas ruas, conhecer as pessoas, fazer o que se chama de pesquisa etnográfica, que é uma das maneiras de você entender culturas diferentes das suas, pessoas diferentes de você. Agora, para que você vai estudar para entender as tendências? Porque você deseja amplificar as tendências. Você deseja transformar essas tendências em produtos de massa, produtos consumidos por muitas pessoas, dando muita visibilidade para aquela tendência. Eu trago o exemplo do Shepard Ferry, quem conhece o caso do que é esse cara? Vocês viram o filme do "Exit Through the Gift Shop", do Banksy? Então ele aparece lá. Lembra qual que era o trabalho principal que aparecia lá? Não é esse que está aparecendo na imagem, não. Obey. Obey, exatamente. Eram os adesivinhos "Obey", "Obey", "Obey", "Obey", quer dizer "Obedecer", "Obedecer". Ele espalhou e tal para o Nova York e depois começou a virar uma febre, uma marca registrada, ele começou a ganhar bastante dinheiro com isso. E mais ainda com essa campanha do Obama, em que ele desenhou o Obama usando uma padronagem gráfica muito característica do street art, que permitiu que essa imagem fosse produzida com uma efetividade de impressão muito grande, gastando muito pouca tinta, mas ao mesmo tempo causando um impacto visual muito forte. Ele foi extremamente criticado pela comunidade street art por ter se vendido ao capitalismo e ter, mais ainda, se associado a uma campanha política. Mas ele de fato, inegavelmente, catalisou e amplificou essa tendência do street art para um nível de uma produção industrial. Então ele foi designer nesse momento, embora a origem dele tenha sido como artista de rua. Como se criam tendências? Então, eu não sei exatamente. Eu não estudei muito esse assunto. Existem estudos sobre esse assunto. O que eu li é o seguinte, eu li um estudo de caso sobre o festival de música em Sasquatch, que gerou esse videozinho aqui. Eu vou explicar depois que vocês verem o vídeo o que eu li a respeito. Quem já viu esse vídeo aqui, levanta a mão. Tá, então vamos lá. Não precisa de áudio, não. Enfim, tá to ralando uma música rave, você tem um malucão lá que começa a sair, todo mundo tá cansado, já virou o dia, né? Já é o dia seguinte da rave, de manhã a cedo, todo mundo cansado, ninguém mais tá dançando. De repente vem um malucão e começa a dançar do jeito dele, e depois começam a surgir pessoas interessadas em dançar desse jeito todo solto e livre, e elas vêm dançar junto com o malucão. E aí as pessoas de entorno ficam olhando e achando que esses caras, esses dois caras são malucos. Antes o cara, o Michel nem era percebido, nem era visto, agora que já tem duas pessoas, já é um movimento e eles começam a fazer movimentos cada vez mais estranhos. Pode ver que as pessoas que estavam atrás ali no canto já saíram de perto, já acharam tão estranho esse movimento. Eu não, eu hein, vou ficar perto desses esquisitões. Mas aí chega o terceiro seguidor, o cara que vem, o gordinho aí, tem um tremendão, vem fazendo os movimentos alucinantes, realmente ele eleva o nível da dança. As pessoas começam a perceber que é um movimento que já, alguma coisa tá acontecendo ali, e começa a rolar um burburinho, o que que é isso, o que tá acontecendo. E aí vocês vejam que o líder, o início do cara que começou a dançar pro primeiro, começa a chamar, a conclamar, as pessoas venham, venham dançar com a gente, né. O seguidor vai lá e repete a mesma mensagem, o primeiro seguidor. As pessoas começam a se juntar, a chegar mais perto. Tá todo mundo agora dançando solto, livre, leve, né. A vontade de repente se torna um comportamento de manada, as pessoas vão em massa, né, pra aquele lugar e de repente as pessoas que estão sentadas e sentindo compelidas aí, né, se eu ficar aqui olhando, eu sou chato, eu sou desantenado, não tô nem, não tem nada a ver eu ficar aqui, eu vou me levantar e a pessoa levanta e vai, e de repente você já tem uma massa de gente dançando e não há mais rastro nenhum do líder. Já onde que tá o cara? O cara já não consegue mais liberar, né, se ele fizer um movimento diferente dos outros, se ele sair desse crowd, o crowd continua, né, e as regras já estão aí em efeito, sob efeito, né. Esse aqui é um dos exemplos documentados assim, espontâneos de formação de tendências que eu gosto muito de ver, né. Quais são os elementos que tem aí de tendência? Se tem uma pessoa fora da curva fazendo um comportamento esquisito, mas consistentemente, repetindo esses comportamentos, dando a mínima pro resto do que as pessoas pensam, de repente surge um primeiro seguidor e aquilo ali que era um movimento isolado, ignorado, acaba se tornando algo relevante, o seguidor segue finalmente o seu líder, depois vem o terceiro seguidor, o segundo seguidor, que já segue diferente, gordinho já crescendo os nossos elementos, tá, nadando-se de atrás, um outro estilo, depois do terceiro, começa a aparecer mais pessoas e você tem esses primeiros seguidores, segundo seguidor, terceiro seguidor, como elementos centrais na difusão da tendência. Até um certo momento em que a massa pega a tendência e aí perde o controle dela, aqueles líderes iniciais já não conseguem mais liderar e, digamos assim, dar sentido pra aquela tendência, ela escapa o controle. Basicamente é isso, tá, a tendência é meio inesperada também, é onde vai via, então é difícil saber se vai ser tendência mesmo, porque aquele rapaz ali poderia ter se ignorado. O fato que é tão maravilhoso desse vídeo, que chama tanta atenção e que deixa a gente perplexo, é que as pessoas resolveram seguir esse cara, mas na maioria das vezes a gente vê isso acontecer, pessoas estranhas fazendo coisas estranhas e não sendo seguidas, sendo ignoradas, não tendo o first follower, o primeiro seguidor, tá. O primeiro seguidor de uma tendência pode ser um designer, e aí que tá o papel de vocês, ou o primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto, um dos primeiros seguidores, por isso que o designer está estudando tendências, pra estar buscando amplificar elas, perceber essas tendências e amplificar elas. Como é que faz isso na prática? Sempre olhar tudo que for ao seu redor como se fosse uma coisa projetada, uma coisa que pode ser transformada, uma coisa que pode ser mudada através de um projeto. Aí você tenta entender as intenções por trás de tudo que as pessoas fazem. Prestar atenção ao divergente, ao estranho, saber o que é clichê e o que não é. Você tem que conhecer o estado das coisas, como as pessoas fazem pra dançar. Então, se você não conhecesse estilo de dança, você nunca ia achar que aquele cara tava dançando de uma maneira estranha. Pra uma tribo aborígena, talvez aquele estilo de dança seja maravilhoso, super na moda, mas pra dança techno não faz nenhum sentido, pra rave não fazer nenhum sentido aquele estilo de dança, a não ser naquele caso específico em que a galera começou a seguir o cara, depois disso começou a fazer todo o sentido. Então, pra você perceber esse ponto de transição, esse ponto de mutação entre ser estranho, ser fora da curva e ser uma tendência, você tem que estar sempre de olho aberto ao que tá acontecendo, entender as intenções das pessoas quando elas fazem coisas estranhas. Então, se o primeiro follower não tivesse entendido que o que o cara queria não era mostrar como ele era estranho, e sim mostrar que a gente tava na rave, tava legal, tava de manhã, tava bacana, tava gostoso, tava... como é que é? Tava favorável pra dançar daquele jeito. Se não tivesse percebido isso, o primeiro follower, o primeiro seguidor, não teria acontecido aquele fenômeno. Então, essa é a tarefa do designer. Onde que normalmente os designers procuram tendências? Revistas especializadas, livros de stock images. Antigamente, quando eu comecei a trabalhar com design, lá nos anos 2000, tinha uma prateleira enorme, cheia de livros, assim, na agência de publicidade, que também fazia projetos de design, esses livros você pegava e tinha um monte de fotos, fotos sugestivas, essas fotos que hoje a gente encontra quando pesquisam no Google e aparece uma marca d'água, stock photo, antigamente isso era distribuído através de livros. Então, você tinha uma prateleira enorme com esses livros, e quando os designers iam criar uma peça gráfica, eles sentavam e pegavam esses livros e ficavam folheando pra pegar inspiração visual, referências. Hoje em dia não se usa mais os livros, mas eu tô mencionando apenas como uma maneira de vocês compararem a maneira como antigamente as tendências eram reproduzidas pelo design, como a maneira como hoje elas são reproduzidas. Hoje as tendências se espalham muito mais pelas redes sociais. Facebook, Twitter, Pinterest, Flipboard, Fidly e outros sistemas que vocês podem utilizar pra se organizar e receber publicações de outras pessoas. Em vez de você ir atrás, como antigamente era o comum na pesquisa de tendências, hoje você configura um painel pra você ficar recebendo atualizações, postagens de outras pessoas, que às vezes, muitas vezes são os próprios criadores de tendências, se não os primeiros seguidores dessas tendências. Por isso que é muito bom ter no seu Facebook, no seu Twitter, pessoas estranhas. Seguir pessoas estranhas nessas redes sociais é a melhor maneira de você ter contato com novas tendências. Se você só tem pessoas que concordam com você, que pensam como você nas suas redes sociais, você nunca vai ver uma tendência emergir. As tendências ocorrem nos pontos de diferença da sociedade e não nos pontos de reprodução. Quando você tem uma reprodução não é tendência, já é fato, já é o que tá acontecendo. Existem algumas ferramentas mais avançadas que os feeds que permitem que você organize as tendências, dê sentido pra elas, e alguns desses painéis são feitos por, compilados por profissionais, como Vimeo Staff Picks, que eu acho um excelente painel de tendências de vídeo. Quem quer trabalhar com vídeo na área de design digital tem que seguir o Vimeo Staff Picks, porque ele observa principalmente tendências de produção de vídeo independente. Já, Google Trends é uma maneira de você pesquisar tendências que estão crescendo ou diminuindo. Eu vou mostrar aqui um exemplo. O Google Trends é uma ferramenta que vocês vão poder usar durante a disciplina, então vale a pena mostrar. Quem daqui conhecia o Google Trends? Só você, né? Tá, então é bom mostrar pra eles. Google Trends basicamente é uma base de dados que vem das pesquisas que as pessoas fazem no Google, e vai pra gente comparar quantas vezes um determinado terras precisado do outro. Você pode comparar um termo com o outro pra ver qual é mais tendência do que o outro, qual que tá crescendo e qual que tá caindo em termos de volume de buscas. Vamos fazer uma pesquisa aqui? Me diga aí uma tendência, galera. Uma coisa que vocês querem saber se é tendência. Como é que é? Discord. Agora vamos... Ah, assim? Como é que é? Assim? Assim? Tá. Querem comparar com o quê? Uma coisa parecida. Skype. Skype. O que mais? TeamSpeak. Ó lá, galera. Ó lá. Skype tá ganhando, mas tem uma queda violenta e um crescimento muito grande do Discord. Só que aqui nós estamos falando de software, galera. Estamos falando de tendência. Estamos falando de interesse numa determinada software. Vamos colocar uma tendência aqui pra gente comparar. Vamos tentar botar uma tendência. Me diga uma tendência aí, galera. Vamos lá. O que que é tendência hoje no cenário do design digital? Realidade aumentada. Tá, realidade aumentada versus... Vamos colocar em inglês que na verdade o volume de buscas fica bem maior. Augmented Reality versus Virtual Reality. Qual dos dois vocês acham que vai ganhar? Augmented Reality ou Virtual Reality? Virtual? Vamos ver. Olha só, Virtual Reality... Mas teve um tempo em que quase o Augmented passou, tá? Vamos botar mais um termo aqui que é o Mixed Reality, que eu acho que esse vai perder, mas é a Microsoft que tá tentando defender. Não tá mal, tá quase tanto quanto o Augmented Reality. O que mais, galera? Mais uma tendência aí. Então o que que é legal, galera, do Google Trends? Você pode colocar dados reais na sua análise de tendências mostrando o que que tá crescendo, o que que tá caindo, tá? Beleza? Existem outras ferramentas, como eu falei, como eu tava mostrando nos slides, que vocês podem pesquisar na pesquisa. Eu gosto muito do Style Hive, é bem pouco conhecido, ele é mais focado na parte de moda, mas ele envolve moda como um conceito bem abrangente, que não é só roupa, mas envolve também moda tecnológica, moda de carros, moda de arquitetônica. E tem um site chamado Cool Hunting, também tem várias informações, mas ele é pago. Tem algumas empresas que vendem o acesso a esses painéis, tá? Blogs. Existem blogs, blogs na verdade acho que são uma das principais digeridores, se pode dizer esse termo, que digerem, né? Um pessoal que digere realmente as informações que estão rolando na internet, as diferentes tentativas de tendência e dão um julgamento de valor interessante, confiável, tá? O We Make Money Not Art é um blog que eu gosto muito, hoje não tá muito mais em voga, mas que tem muito trabalho na área de arte interativa, arte digital. O Engadget, que é bem conhecido na área de tecnologia, o Boing Boing também, o Digital Drops, que é brasileiro, trazendo aí tendências de design digital, mas muito mais focado em tecnologia, os três últimos. O primeiro é que fala mais de design. Tem outros blogs também, vocês podem trazer os blogs que vocês quiserem, citar os blogs que vocês quiserem, só estou dando um exemplo de como que hoje as pessoas vão atrás. Existem empresas que são especializadas em oferecer consultoria de tendências, aqui tem a Trendwatching, que publica um relatório anualmente muito interessante, super influente, vale a pena dar uma olhada no relatório deles. Eles são considerados profetas do estúdio de tendências, muitas vezes as coisas que eles falam na análise deles acabam acontecendo pelo poder de influência que eles têm. Outras vezes as análises são apenas infundadas e acabam nem acontecendo, tá? Mas a maioria das vezes acabam acontecendo e por isso que eles continuam sendo referência. No Brasil nós temos a Box 1824, temos Observatório de Sinais, uma outra empresa que trabalha nessa área, temos várias empresas que trabalham com isso, mas elas não utilizam o método que a gente utiliza aqui nessa disciplina. O método dessa disciplina trabalha com informação em público, então vocês vão pesquisar em fontes públicas e vão publicar abertamente na internet, diferente do que essas empresas fazem. Essas empresas têm sites parecidos com o nosso mídio, só que elas cobram para você ter acesso a esses sites. Não é o que a gente vai fazer porque a gente não está interessado em obter lucro com essa disciplina, a gente quer difundir o conhecimento e também criar um recurso para vocês poderem usar no futuro. Essas empresas muitas vezes publicam relatórios, como eu falei, resumidos, que não tem todas as informações que eles conhecem, sobre as tendências para tentar vender os relatórios, eles publicam radar. Os radares de tecnologia são diagramas que têm várias relações, você pode ver quais são as tendências que hoje você deveria adotar em tecnologia, quais você deveria tentar avaliar e deixar na gaveta, esperando para você usar no futuro, não usar agora. Bom, isso foi as minhas recomendações sobre como identificar a tendência, como perceber. Agora, como amplificar? Essa parte aqui não é exatamente o que vocês vão fazer nessa disciplina, mas eu tenho que passar para vocês que vocês vão usar isso. Já estão fazendo, na verdade, vocês já estão amplificando tendência nos projetos que vocês fizeram desde o começo da faculdade, mas eu identifico três estratégias principais. A primeira dela é criar uma variação da tendência. Então, se está todo mundo fazendo o shali, você vai lá e faz um shali um pouquinho diferente, 40 maneiras de usar lenço. Então, você descobre um jeito diferente de usar o lenço, usar o shali através da variação. Então, você amplifica. Essa sua variação é uma variação que encaixa também na produção industrial, uma ideia de massivo, uma ideia de algo que seja para mais gente do que inicialmente ela foi criada. A ressignificação é você dar um sentido novo para aquela tendência, conectar com uma coisa antiga. Então, aqui você vê a ressignificação do iPod, que era um dispositivo na época que representava bastante o futuro do consumo de mídia. Hoje já é meio que passado, porque hoje é que representa o iPod. Isso é o Spotify, que é um serviço que não depende de um dispositivo específico, mas na época dependia. E para fazer a conexão com a cultura anterior da troca de músicas, você tem aí a fita K7 como um case para o iPod, dando um significado de que esse iPod também está imerso numa cultura de compartilhamento de músicas, embora ele não tenha as mesmas funcionalidades de compartilhamento das fitas, que a fita K7, para quem não foi dessa época, você podia copiar a fita K7 de um colega, somente botando no teu som e apertando lá Rec e Play ao mesmo tempo, os dois lados ali, tocava a fita enquanto gravava do outro lado. Não dá para fazer isso com o iPod, porque às vezes os MP3, os áudios, são controlados por DRM, e está cada vez mais difícil você compartilhar com seus amigos as suas músicas. E a terceira estratégia para amplificar tendências é você tornar aquela tendência um ritual. Você fazer aquilo ali algo repetitivo, algo que a pessoa vai fazer várias vezes porque ela gosta, porque ela sente um pequeno prazer, e aquilo ali vai gerar um significado e uma sensação de que o cotidiano depende daquela tendência para acontecer. Aqui você tem um estudo feito sobre os rituais de uso de telefones celulares, smartphones, criados pelas empresas de tecnologia. Criaram esses gestos diferentes que as pessoas fazem usando o celular, como por exemplo ficar andando em volta enquanto você fala no celular. Não precisa ficar andando, mas as pessoas andam. Então esse é um ritual que surgiu a partir das tendências de utilização do próprio telefone celular. Deixa eu ver se tem mais tempo. Bom, agora para o fim falar sobre ciclos tecnológicos, é uma outra maneira de você olhar para tendências. Vale citar que isso aqui é muito comum na área de tecnologia e informação quando se descreve tendências. Se separam as pessoas que são inovadoras, os primeiros seguidores lembram do cara que dançou ali no malucão lá? São os inovadores, ou melhor, o dançolino malucão é um inovador, aí depois tem early adopters, os early adopters são os primeiros seguidores. Depois que esses primeiros seguidores começam a usar, mostrar que faz sentido para a maioria, a maioria pega, começa a usar e vai ter sempre os retardatários. São pessoas que demoram muito tempo para adotar uma determinada tendência, ou talvez nunca cheguem a utilizá-las. Esse cenário, essa divisão de perfil, em perfis, pessoas que estão early adopters, maioria inicial, maioria tardia, é utilizada pela DM9 para definir perfis digigráficos. São pessoas que usam a mídia digital mais intensamente porque querem saber o que é possível fazer com a mídia, ou pessoas que usam a mídia digital somente quando são obrigadas, são os retratatários. Vou pular o videozinho, só tem um problema, existe um abismo aqui na propagação das tendências, que é o chamado abismo de Moore e Norman. Muitas vezes a tecnologia tem um grupo de pessoas que são entusiastas, que utilizam, mas que nunca conseguem convencer a maioria de que aquilo ali vale a pena ser utilizado. Quem gostaria de me dar um exemplo? Uma tecnologia que convenceu os entusiastas de gadgets, mas que não conseguiu convencer a maioria da população. Google Glass, excelente exemplo. Google Glass nunca chegou a se tornar um produto de massa porque ele só agradava quem era viciado, entusiasta de tecnologias. Então aqui você tem um abismo para você convencer a tendência de estar muito antenada, muito conectada com as mudanças sociais e culturais maiores que não influencia apenas aquele grupo de visionários, mas influencia a sociedade como um todo. Hoje em dia nós temos vários mercados que se mantêm na base dos entusiastas, apesar de não crescer para a maioria, por causa de um outro fenômeno chamado cauda longa. A cauda longa permite que uma empresa venda produtos a uma fatinha muito pequena de mercado, porque é um produto customizado para um público bem específico. Então o mesmo exemplo clássico de cauda longa é a Amazon. A Amazon tem todo tipo de livro, todos os tipos. Você quer encontrar um livro sobre fazer rituais satânicos? Tem. Você quer encontrar um livro sobre como criar um website em um servidor virtual? Tem. Tem tudo lá. Como é que a Amazon se mantém? Ela não tem estoque, ela tem um processo muito dinâmico de distribuição de informações que permite que ela venda para vários segmentos diferentes. Então ela tem alguns produtos que vendem muito, há um volume altíssimo de venda, um grupo muito pequeno de produtos ao qual ela gerencia a logística completamente diferente. Ela tem estoque, ela tem uma maneira de atender mais rápido do que esses produtos que ficam no final da cauda. Esse é um fenômeno de organização da produção bem recente que só começou a se tornar possível com ferramentas de tecnologia de informação na gestão dessas empresas para que isso seja muito rápido essa distribuição da informação do momento que a pessoa pede o produto até o momento que chega na casa dela. Vou pular isso aqui e terminar com esse último modelo, que é o modelo de inovação qualitativa e quantitativa que eu propus alguns anos atrás. Eu descrevo que no começo de uma nova tecnologia existe um novo mercado que ela cria, por exemplo, um smartphone. É um novo mercado porque ninguém tem smartphone, não existem smartphones no mercado. Então você cria um novo mercado para smartphones, para venda de smartphones quando você cria um smartphone. A primeira empresa a criar um smartphone não foi a IBM, foi a Apple que hoje vende bastante smartphones, foi a IBM. A IBM criou um smartphone, mas ela não soube transformar esse produto num produto viável de mercado. O produto dela não cresceu porque vieram outros competidores como a Nokia que conseguiram produzir smartphones num preço muito mais barato. Conseguiram colocar muito mais funções, competiram em escala. É uma inovação quantitativa. Então esse produto que era muito caro que a IBM produzia, hoje ficou bem baratinho, muito mais funções, mas apenas houve inovação quantitativa. O produto é basicamente o mesmo da IBM. Quando essa competição se torna saturada, o mercado saturado, quando já não tem mais o que inovar, se você vai lá e baixa o preço 50 dólares, o seu concorrente baixa o preço 60 dólares, fica essa competição quantitativa tensa que não gera valores, não agrega valor para o usuário. Até o momento que uma empresa, uma Apple, percebe isso e dá um grande salto qualitativo. E cria uma abordagem completamente diferente para aquela tecnologia. E aí essa empresa consegue estender o mercado, porque ela na verdade cria um outro mercado dentro desse mercado. Então smartphones, a partir do momento que surge o touchscreen, é uma outra coisa, porque o touchscreen traz o acesso a aplicativos, a interfaces customizadas para diferentes propósitos, que hoje chega a marca dos bilhões, existem bilhões de aplicativos diferentes que você pode carregar no seu smartphone. Isso não era possível, não existia essa possibilidade nesses smartphones antigos. Então a possibilidade de uso desses smartphones aqui é muito maior do que desse aqui. Por isso que ele acaba iniciando uma competição pela qualidade da experiência, inovação qualitativa, até criar-se um novo produto, uma nova área, que hoje ainda não se sabe qual vai ser a área que a Apple vai concorrer no futuro. A Apple tem sido muito criticada, porque hoje ela já não traz mais inovação qualitativa há bastante tempo. Ela está só nessa inovação qualitativa, os concorrentes estão muito próximos da Apple, e as pessoas se perguntam onde é que vai estar a inovação da Apple, que digamos assim foi marca registrada dela no período Steve Jobs, na era Steve Jobs. Eu não sei responder isso, não sei. Eu acho, eu acho, supondo que a Apple está tentando fazer alguns experimentos um pouco humildes, digamos assim, porque ela ainda não tem a certeza que tinha o Steve Jobs. A leitura de tendências que o Steve Jobs tinha era muito boa. Por isso que quando ele olhava uma tecnologia e falava "isso aqui vai virar tendência", as pessoas acreditavam, porque ele tinha experiência em fazer isso no passado. Hoje a Apple não tem mais uma pessoa com essa mesma qualidade que tinha o Steve Jobs, que mistura liderança com profetismo. Mas duas coisas que ela tem feito que me chamam a atenção é o HomePod. É um aparelho de som para casa que tem um sistema de som inteligente, que leva em consideração a configuração física da sala onde ele está, que permite acesso a Siri. Eu acho que ter fácil comando de voz é uma tendência que vai crescer muito, mas eu acho que o HomePod é só um exemplo de um artefato inteligente, de um aparelho inteligente que vai ter na sua casa e que vai abrir caminho, mercado, digamos assim, para uma nova gama de eletrodomésticos inteligentes, uma casa automatizada e tal. A Apple está tentando entrar nesse setor com esse produto. Se ela vai conseguir, não sei, mas o último setor que ela entrou foi o dos vestíveis, o AirBalls, com o Apple Watch, e hoje ela domina o mercado de relógios inteligentes. Então eu acho que esse caminho do HomePod pode provavelmente vai resultar da Apple entrar no mercado de eletrodomésticos. Acho. E futuramente também carros autônomos, porque ela já tem o CarPlay, que controla o carro. Eu acho que o próximo passo seria a Apple ter o seu próprio carro elétrico, talvez até comprando a Tesla, uma coisa do gênero. Mas enfim, essas são especulações que vocês têm que fazer, não eu. Eu estou aqui apenas mostrando o caminho das pedras, eu quero ouvir vocês, o que vocês acreditam, sobre o futuro da profissão, e não precisam seguir essas regras, esses processos que eu passei aqui para vocês. Nada disso, vocês só precisam consultar as fontes que eu passei aqui. Então toda semana eu vou estar especificando a fonte que vocês vão buscar as tendências, porque são fontes que eu tenho certeza que vocês vão encontrar, uma variedade muito grande, sempre atualizada, por hora. Na próxima semana vocês têm que identificar tendências em qualquer fonte, aí fica a critério de vocês. A única requisito é que a tendência seja de design digital. Não me venha falar sobre a tendência dos brocados que está voltando nas roupas. Não, isso aí não é design digital, não ser que seja a tendência dos brocados emprestos por impressora 3D na roupa, ou seja, looks digitais customizados, aí tem a ver roupa com design digital. Beleza? Pode escrever em casa, trazer para dar feedback, ou pode não vir para pegar feedback também se não quiser. Se você, por exemplo, for bem na nota, você talvez não precise de feedback. Agora, se você for mal, eu acho bom nessa primeira tentativa vir para a aula sim, para pegar minhas dicas, mas não precisa, lembre-se, eu não estou cobrando presença na aula de vocês. Beleza? O importante é que vocês façam o exercício regular de estar observando as tendências, vai chegar uma hora que vocês vão ficar sem ideias e aí vocês vão ter que ir nas fontes para ir atrás. Talvez vocês já tenham várias ideias agora, vale a pena anotar para você não perder as suas ideias.