Boa tarde, então eu sou o professor Fred. Eu dou aula na Escola de Arquitetura e Design, mais especificamente no curso Design Digital, e na Apple Developer Academy, que é um curso de extensão pouco conhecido, mas muito interessante, que eu vou explicar daqui a pouco aqui na Universidade, e parceria com a Apple, por nada esse nome. E eu vou comparar essas duas experiências que eu tive na aplicação dessa metodologia de aprendizado, o Ateliê de Projetos, que é originalmente derivado da arquitetura. O que seria Ateliê de Projetos? Eu vou usar um exemplo prático aqui, que é a Universidade Tecnológica de Delft, na Holanda. Quando eu entrei lá pela primeira vez, eu fiquei impactado que quase que 70% do espaço da universidade era utilizado, ou melhor, desse campus da arquitetura, era utilizado para mesas, para os estudantes trabalharem em projetos independentes, ou às vezes em grupo, mas a maior parte do tempo, além do espaço da universidade, então era dedicada a desenvolver esses projetos. E é uma tradição nas escolas de arquitetura e de design, talvez aí de mais de um século, aprender fazendo projetos mais do que estudando teoria, ou tendo aulas expositivas. Por que isso? Porque acredita-se que o conhecimento do profissional de arquitetura, ou profissional de design, é um conhecimento társico que não consegue ser explicado de maneira explícita, apenas você participando da atividade projetar, você vai aprender aquele conhecimento com os seus pares, ou com os profissionais mais experientes, que no caso é um professor bem prático. Na Universidade de Twente, onde eu fiz o doutorado, também existe um movimento recente de desenvolvimento do ateliê de projetos, não é uma universidade que tem tradição nessa área, é uma universidade com tradição de engenharia, onde o ateliê de projetos é uma novidade, mas eles criaram o Design Lab, que é um espaço para desenvolvimento de projetos multidisciplinares, que é a novidade que não tinha em Delft. Em Delft só trabalham os estudantes de arquitetura com outros estudantes de arquitetura. Aqui não, aqui é para estudantes de engenharia mecânica junto com engenharia elétrica, junto com arquiteto, junto com designer, dependendo do projeto que vai ser desenvolvido. E essa experiência aqui revolucionou a universidade a ponto que a universidade deixou de ser organizada, os cursos deixaram de ser organizados por disciplina para ser organizados por projeto. Então o primeiro semestre tem o projeto de piscina, por exemplo, para os estudantes de engenharia civil, e os cursos são organizados para suprir o que os alunos precisam saber, aprender para poder fazer o projeto de piscina. Aqui em Curitiba, ou melhor, na PUC, eu ingressei na Apple Developer Academy no começo do ano, e a primeira coisa que eu percebi é que ela funcionava como um ateliê de projetos, embora não utilizasse esse termo. E aí, como é que funciona? Basicamente, um curso de intenção, duas mil horas, é quase como um um tecnologo, um curso tecnologo, mas não tem esse critério, para desenvolver aplicativos para dispositivos móveis em específico da Apple. Eles utilizam um método de aprendizagem chamado Challenge Based Learning, que compartilha vários dos elementos do ateliê de projetos, que significa o quê? Desenvolvimento de projetos empreendedores por conta própria dos estudantes e os professores apenas apoiando os estudantes nas empreitadas que eles querem desenvolver. Nós temos talvez o melhor caso de empreendedorismo aqui da universidade, que é um aplicativo que foi lançado no começo do ano, que já tem 10 milhões de usuários, já é comercializado na China, onde tem o maior número de usuários. Eles estão faturando hoje aproximadamente uns 200, 300 mil reais por mês só com a receita de vídeos do YouTube, que explicam como tocar esse instrumento musical, que é o aplicativo deles. É um instrumento musical simplificado, qualquer pessoa pode aprender a tocar as músicas ou hits de sucesso sem saber nenhuma teoria musical. Então está funcionando muito bem, é um projeto que surgiu de alunos, virou negócio, e os alunos hoje têm uma empresa para desenvolver o negócio. Como é que eles conseguiram isso? Isso é só um exemplo, né? Tem várias outras startups, mas eu não vou mencionar aqui. Basicamente os alunos são incentivados a trabalhar autonomamente em grupos, que eles mesmos normalmente formam. O professor atua muito mais como consultor, que ajuda os estudantes quando eles têm problemas, os estudantes vão atrás do professor ao invés do contrário. Os trabalhos são publicados criticamente na frente dos colegas, enfatizando a qualidade, a característica estética dos projetos. A problematização dos projetos é intensa, então você fica discutindo bastante por que você vai fazer aquele aplicativo, para quem você vai fazer, qual é o impacto que você espera, e a reflexão na ação, que é o aprendizado justificado nesse livro aqui do Donald Schaum, "Educando o Profissional Reflexivo", que consiste no principal benefício do Ateliê de Projetos. O estudante aprende enquanto ele está fazendo, nos momentos em que ele para e olha, o que eu estou fazendo? Mas na verdade esse parar não é parar para escrever um relatório, é uma pequena pausa que você faz para mudar o seu curso de ação e de repente inventar alguma coisa nova que você não estava esperando, já neste momento, criando conhecimento e aplicando ele na situação específica de trabalho. Isso também é descrito como design thinking. Os professores de design, de arquitetura, eles acreditam que é muito difícil você ensinar para um estudante o que ele tem que fazer numa situação de projeto. O que você pode fazer é ajudar o estudante a saber pensar como um designer ou pensar como arquiteto. Isso consiste no tal do design thinking. Se eu estivesse profissional, experiente naquela situação, como eu pensaria sobre o que fazer? Isto é o design thinking, que é um conhecimento tástico. Eu tive a experiência anterior à Developer Academy, nos anos anteriores, a minha atuação aqui na PUC, orientando TCCs de design digital e a gente montou a disciplina como um ateliê de projetos para que os estudantes desenvolvessem autonomamente os seus projetos de animação, de jogos, de aplicativos, qualquer coisa digital. Tinha um foco um pouco mais amplo do que a Apple Developer Academy, que é focado em aplicativos. A gente desenvolveu várias daquelas técnicas que são recomendadas pelo Shawn, no livro dele, "Educando o Praticante Reflexivo", e nessa foto vocês veem a sabatina, que é a crítica pública ao trabalho dos estudantes. Os professores utilizam chapéus que trazem ideias de perguntas, não vou entrar em detalhes aqui, enquanto os estudantes estão sendo sabatinados com todo o material de pesquisa deles na mesa e na parede, e eles têm que se defender com esse material. A gente teve alguns resultados muito interessantes também com essa metodologia de ateliê de projetos na disciplina, porque focaliza muito no empreendedorismo, fazer um projeto real para valer. Nesse caso eu estou destacando três projetos de mídia, um que foi feito em parceria com a prefeitura de Curitiba, uma animação para explicar o que era a área calma, 40 mil visualizações no site da prefeitura, ou melhor, na rede social da prefeitura. A Depressão e Eu, que é uma animação de um estudante que relatou ter problemas de depressão e por isso não estava conseguindo fazer o TCC, a gente sugeriu TCC terapia. Faz o seu TCC sobre o seu problema de fazer o TCC, e essa animação hoje já tem 12 mil visualizações no YouTube, pessoas que se identificam com o caso dele. E por fim, um trabalho de story quadrinhos digital, que já tem mais de 52 mil visualizações no site específico. O que eles conseguiram fazer e que não conseguiram fazer também em relação à Apple Developer Academy? Os estudantes de design digital não conseguem trabalhar autonomamente, eles têm que vir toda semana, e o professor muitas vezes tem que dizer o que eles têm que fazer, eles não têm essa capacidade de saber o que precisam fazer, eles não vão por cura, não vão por conta própria, são poucos alunos que você pode deixar tranquilo, você tem que estar toda semana vendo o que você fez essa semana e o que você vai fazer na próxima. O professor tem que gerir o projeto basicamente. Então o professor não atua como um consultor, ele atua mais como gestor do projeto. Existe crítica pública dos trabalhos, isso melhorou muito a qualidade, existe problematização intensa, mas não existe muita reflexão na ação. Os estudantes aprendem muito mais quando estão, e a gente consegue mensurar isso apenas quando eles escrevem o memorial ou quando eles fazem apresentações. E a gente acredita que talvez a gente pudesse enfatizar mais isso nos próximos projetos de TCC. E o design thinking, que obviamente é um core, é um conhecimento básico dessa área, então é natural que isso já estivesse se desenvolvendo. Então quais são as barreiras, as hipóteses que eu tenho de explicação para não poder desenvolver tudo isso no design digital? É um curso bastante fragmentado, eu diria, tem muitas áreas diferentes, cada disciplina tem a sua orientação, a sua epistemologia, e quando você chega no TCC o aluno tem todas essas opções, só que ele tem que convergir para um projeto só. E ele fica meio perdido com todas essas possibilidades. Eles têm carência de autonomia, como eu falei, que eu acho que tem a ver também com essa fragmentação desse conhecimento no ser deles, ser das disciplinas, não o conhecimento construído por eles. Os requisitos acadêmicos do TCC, que exigem a escrita de um memorial, que o texto não é um formato, um material que eles estão acostumados, que se dão bem para se expressar, então eles têm muita dificuldade, ficam muito travados por ter que escrever ao invés de projetar. E a divergência entre os professores sobre o que conta como conhecimento válido para ser avaliado no design digital. Uns professores falam que conta é o que se escreve no memorial, outros falam que conta é o impacto social, outros falam que conta é o domínio técnico, outros falam que conta é a capacidade do aluno de escrever o processo de trabalho, o que conta é a capacidade de expressão estética, por aí vai, e a gente não chega a um acordo. Então essas práticas do Ateliê de Projetos ficam bastante prejudicadas por essas barreiras. Bom, é isso, eu só tenho barreiras, eu não vim aqui trazer solução, porque a gente ainda está em processo aí de reflexão sobre essa aplicação, dessa metodologia, mas de qualquer forma deu para ver que ela é aplicável para outros contextos e não só no sino do design, porque na Apple Developer Academy nós temos estudantes de computação, estudantes de economia trabalhando em projetos de aplicativo, e no entanto estão aprendendo bastante com essa metodologia. É isso, muito obrigado. Obrigado. [aplausos] Eu estou com bens. Deve ser...